Caçadores caçados

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- Você viu aqueles tipos estranhos? - indagou um dos meninos nos limites da vila.

- Não, mas afinal não é como se a maioria dos viajantes que passam par aqui não fossem estranhos - retrucou o outro menino sem dar muita atenção, cutucando minhocas na terra com um graveto.

- Esses eram diferentes, assustadores na verdade, corvos acompanharam a sua chegada. Um deles era muito grande, vestia muito ferro e mantos negros, não consegui ver seu rosto porque usava máscara de leproso.

- Um leproso? É melhor ficar longe Reginald - respondeu seu colega com semblante de nojo.

- O outro sujeito parecia nobre, mas tinha olhos vermelhos, quando passou por mim ele sorriu e eu pude jurar que ele tinha presas, sem falar que sua sombra parecia se mexer depois dele!

- Parede de contar lorotas Reginald! - retrucou seu amigo.

- É sério Jimmy, e tinha também uma mulher com eles.

- Era bonita? - Indagou Jimmy prestando atenção pela primeira vez.

- Muito, mas era assustadora. Tinha pele da cor das flores de íris e cicatrizes estranhas por todo o corpo e usava uma tiara de ganhos torcidos.

- Tem cara de ser uma druida - disse Jimmy - mas a muito os druidas não aparecem por aqui. É só a algumas milhas de Ravenhill.

- Você acha que eles tem alguma relação com aquilo que vem matando o gado? - indagou Reginald sussurrando.

- Eu já falei, eu vi o que matou aquela vaca. Digo, vi o vulto no fim de tarde quando já estava dentro da mata. Era grande, mais de três metros e rosnava, por isso papai nos proibiu de brincar dentro da floresta até que matassem esse monstro.

- Mas ninguém acreditou em você Jimmy, papai diz que são lobos que estão matando o gado - Jimmy olhou feio para Reginald, este gaguejou e se justificou - m.. mas eu acredito em você, são os adultos que não acreditam em nós.

- Mentira, eles acreditam sim. Já viram monstros antes - retrucou o menino - só dizem essas coisas pra tentar acalmar a gente enquanto tentam resolver as coisas.... e aposto que esses tipos estranhos que você viu vieram para caçar esse monstro.

Jimmy fez sua última colocação com um brilho no olhar e para desespero de Reginald, correu em direção a mata.

- Ei! Espere! O que pensa que vai fazer?! - gritou Reginald.

- Eu quero ver - respondeu Jimmy sem olhar pra trás, forçando Reginald a acompanhá-lo temeroso.

- Eu... eu vou contar para o papai! - gritou o menino.

- Pois conte! Tenho certeza que a hora que voltarmos eles já terão matado a criatura e andar na mata já vai ser seguro. Então não estarei em apuros - respondeu Jimmy rindo pela sua esperteza.

A mata não era densa, mas sua copa era bastante fechada pelos galhos de pinheiros, carvalhos, faias e freixos, fazendo daquela tarde nublada um verdadeiro crepúsculo tenebroso. O ar frio que circulava por entre as árvores fazia os pelos do braço de Reginald que seguia seu irmão aos tropeços, se arrepiarem. Após alguns minutos perambulando sem direção dentro da floresta procurando por sabe-se lá o que, Jimmy estacou ao perceber ouvir barulhos pesados de passos que reverberavam sutilmente pelo solo, percebendo também vários arbustos amassados e pesadas pegadas no barro.

Fois só aí que com pavor ele notou que a sua direita estava um vulto enorme e negro que tinha a face da morte, suas mãos estavam pousadas sobre a tampa de um caixãoque era exatamebte do seu tamanho. Com pavor Jimmy pensou que a morte estava lhe aguardando na floresta pronta para lhe enterrar como indigente no meio do nada .Barulhos de galhos se quebrando se aliaram ao som dos passos cada vez mais perto até uma enorme coisa surgir por entre as árvores a sua esquerda. Era verde e grotesco, sua pele era nodosa e borrachuda, seu torso era magro mas com uma barriga protuberante, seus membros finos e compridos quebravam galhos das árvores e pisoteavam qualquer coisa pelo caminho em largas passadas.

Bastardos SombriosOnde histórias criam vida. Descubra agora