STARBOY ✩ O Chamado | VOL. 1

II

O salão de refeições da família real era integrado com a varanda, dando vista para todo o reino e para os grandes montes que se erguiam perante a noite.

Mazu amava o seu lar. Desde pequeno, sempre aventurou-se pelo planeta. Mas toda a beleza natural de Volair-C não o impedia de imaginar como eram outros mundos galáxia afora. Uma curiosidade repentina que surgia quando Mazu olhava para o céu negro.

— Garotos — disse Kazon —, como estão indo os treinos?

A mesa era esférica e estava repleta de alimentos suculentos. Mazu comia silenciosamente, sem dar atenção para o questionamento do pai. Como sempre, Dakris foi o primeiro a se pronunciar:

— Ótimos, meu pai. A general Hella elogiou meu controle com o estímulo. O protótipo de espada que Mellak fez me serviu bem, ando me saindo bem com ela.

Kazon sorriu, admirado.

Assim como Dakris, o rei tinha cabelo ralo. Os fios de seu cabelo e barba eram brancos. Tinha menos altura do que seus filhos. Suas listras de nascença estavam centradas em todo seu rosto, como leitos de rios dourados em um solo levemente amarelado.

— Ouvi dizer que Tastar em carne e osso lhe convidou para participar de um de seus projetos.

— Ele me chamou para o ajudar a desenvolver os próximos torneios solares, meu pai — Mellak revelou, orgulhoso de si mesmo. — Ainda não acredito que o mestre das tecnologias me convidou para um projeto.

— Pois acredite, meu filho — disse Stellae, beijando a cabeça de Mellak. — Vocês são geniais.

— É uma pena que não podemos dizer o mesmo de Mazu — Dakris olhou fixamente para Mazu, que ainda comia em silêncio. — Diga irmão como anda o desenvolvimento de suas habilidades.

— Dakris, agora não — Mellak falou, o repreendendo.

— Está com as mesmas dificuldades? — Sentado ereto na cadeira, Kazon olhou para Mazu.

O príncipe parou de comer e observou os três rostos dourados que repousavam sobre si.

— Ainda estou desenvolvendo meu estímulo — Mazu parou por alguns instantes, percebendo o quanto parecia um idiota —, Hella me disse que estou melhorando aos poucos. É que as...

— As vozes. Sempre isso! — Dakris exclamou. — Você não pode usar a mesma desculpa sempre. Desde quando éramos criança você diz ouvir vozes do além. Percebe o quão idiota é isso?

— Não podemos julgar se não estamos sob a pele da pessoa, irmão — Mellak estava sério.

— Garotos, é melhor pararem.

— Não, minha esposa. Já estava na hora de termos essa conversa — Kazon ajeitou-se na cadeira enquanto ainda olhava para Mazu. — Está na hora de superar isso, Mazu. Logo você e seus irmãos se tornarão guerreiros, chegou o momento de parar com as mesmas desculpas.

— Não são desculpas — Mazou retrucou.

— Então o que seriam? Vozes do além? Ordenei que Hella aumentasse a carga horária de seus treinos esperando que isso ajudasse a desenvolver melhor suas habilidades. Mas aqui estamos nós novamente.

Desde pequeno, Kazon sempre cobrou muito de Mazu. Seus irmãos eram excelentes no que faziam, mas esta excelência não veio através de constantes cobranças. Mazu não entendia porque seu pai o tratava diferente, como se ele fosse um caso á parte.

— Não é a minha culpa.

— Deve ser porque você não é sangue do nosso sangue. É um mestiço — Dakris falou, rispidamente.

— Desde quando somos separados por sangue? — Indignado, Melak falou.

— Ele está certo — Mazu levantou-se da cadeira. — Sou apenas um mestiço. Talvez eu não seja um guerreiro, talvez eu nunca consiga controlar minhas habilidades. Mas de uma coisa tenho certeza: jamais trataria você mal caso você estivesse no meu lugar.

Mazu se retirou às pressas do salão.