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Até tentara escapar quando fora abduzido para o interior daquela enorme nave, mas logo percebera que nada poderia ser feito, visto que todo o sistema de controle se danificara. Permanecera imóvel, apenas observando ser capturado pelos predadores espaciais.

Quando finalmente chegara a plataforma onde haviam outras naves de pequeno porte, seres esguios com um par de olhos negros o levaram forçadamente até a cabine de controle da nave-mãe.

Agora, Mazu estava encarando oque parecia ser o líder da manada. Assim como os outros, ele era magro, cabeçudo e tinha uma pele cinza de aspecto gosmento. Um chapéu cobria sua cabeça pontuda.

O restante dos seres na cabine olhavam curiosos para o ser dourado de joelhos no chão. Dois guardas miravam suas armas na cabeça de Mazu.

— Que incrível, pela primeira vez vejo um estelar — disse o capitão, mantendo distância enquanto observava Mazu. — Checaram se ele trouxe alguma arma?

Os guardas balançaram a cabeça negativamente.

— Imbecis — o ser deu tapinhas no chapéu.

Um pequeno droide esférico surgiu da ponta do chapéu do capitão. Voou até estar de frente para a face de Mazu. Do visor que aparentava ser o olho do droide, saiu uma luz azul, que iluminou todo o corpo de Mazu, o escaneando. Por fim, o droide apitou.

— Tudo limpo, chefe — revelou um dos guardas.

O droide retornou para o interior do chapéu do capitão.

— O que querem comigo? — Mazu falou, finalmente.

— Posso saciar todas suas dúvidas, tudo o que você precisa fazer é apenas uma coisa — ele olhou para Mazu em um tom conspiratório.

— O quê?

O capitão olhou para todos da cabine antes de direcionar seu olhar novamente a Mazu.

— Tire nossas dúvidas primeiro!

Mazu arqueou suas sobrancelhas, sem entender.

— É verdade que vocês estelares comiam bebês que não se comportavam? — Um ser da tripulação perguntou, com os olhos arregalados. — Minha mãe me dizia antes de dormir…

— Não, isso é falso. Meu povo protegia o universo.

— É verdade que a linguagem de vocês é universal, vocês realmente podem entender todas as línguas do universo? — Outro perguntou.

— É como estou respondendo a estas perguntas idiotas agora.

— E as espadas, aquelas brilhantes, você sabe fazer ela brilhar? — O guarda ao lado de Mazu perguntou.

De repente, um falatório incessante preencheu a cabine com as mais diversas perguntas. Todos perguntavam, e depois perguntavam de novo, de novo e de novo. Visivelmente incomodado, o capitão deu um basta:

— Tudo bem, já chega, rapazes. Mil perdões, dourado. Este provavelmente é nosso trabalho mais interessante há anos. Vocês estelares são lendas, boa para alguns, mas má para muitos. Meus rapazes só queriam tirar algumas dúvidas. Agora… cela!

Os dois guardas agarraram os braços de Mazu e o arrastaram para fora da cabine. Mazu poderia atacá-los com facilidade, afinal ele era um estelar, porém, antes de mais nada, teria que pensar em um plano para escapar da nave. Então, deixou que o levassem até um corredor frio, iluminado por luzes piscantes. Haviam várias celas: ossos jogados no chão e alguns prisioneiros podiam ser vistos.

Mazu foi jogado em uma cela vazia. Do outro lado da barra de proteção, o capitão o observava.

— Oh claro, quase me esqueci: sou Dukrah, o capitão da maior tropa de piratas de Aurora. E você deve ser o príncipe dos estelares.

— Como sabe? — Mazu se aproximou das barras.

— Esses pequenos enfeites acima de suas orelhas, que vocês chamam de coroa. Conheço muito sobre seu povo. Quando eu era moleque, costumava me imaginar presenciando o dia em que os estelares voltariam e salvariam a galáxia do mal.

Ainda em pé, Mazu o observava.

— Sabe porque eu imaginava tanto a volta de seu povo? — Dukrah falou. — Eu vivia dentro do motor de uma nave abandonada do governo. Minha única família era este droid — ele apontou para o chapéu —, o encontrei nos destroços da nave. Meus pais haviam sido mortos após a guerra, pois eram ‘’agitadores’’, como os homens da L.D.A os chamaram antes de atirarem nas cabeças dos dois bem na minha frente.

— Sinto muito pelos seus pais.

— Não sinta — Dukrah sorriu. — Meus pais deixaram como herança bons ensinamentos para que eu pudesse me tornar um bom yezoniano, assim eu poderia crescer na galáxia. Eu segui esses ensinamentos? Não. O sonho do meu pai era que eu me tornasse um grande empresário, assim como ele antes de seus direitos serem negados; antes das raças superiores tomarem posse do governo. No fim, ser pirata se mostrou mais viável para alguém como eu.

— Não entendo… — Mazu falou, cheio de dúvidas em sua mente. — Depois da grande guerra, quando Tenebris morreu, as raças viveram em paz, sem mais conflitos. Não havia mais escravidão, todos tinham direitos.

— Esse foi o conto de fadas que te contaram, garoto? — O capitão riu alto. — Nunca houve paz, o que houve foi retaliação. Quando seu povo surgiu, as raças dominantes se sentiram ameaçadas, por isso não ousaram ir contra vocês. A presença de vocês garantiu direito de vida para as raças mais pobres; quando partiram, esses direitos foram trocados por uma falsa liberdade. Atualmente, eles controlam as raças mais fracas através do auro, nossa moeda de troca — ele mostrou seu pulso; nele estava tatuado o símbolo do governo de Aurora. — Muitas famílias lutam para terem auro suficiente, para que assim possam sobreviver. Eu também luto, mas da forma menos honesta possível, sem trabalhar para os poderosos. Dito isso, pergunto a você: porque nos deixaram?

A mente de Mazu não conseguiu formular uma frase sequer. Todas as histórias que escutara quando criança foram desmentidas em questão de segundos. O príncipe não confiava no capitão, mas não duvidava de suas palavras; a dor contida nas palavras de Dukrah era perceptível, apesar de ocultada por um sorriso.

— Acredite, não entendo tanto quanto você. Tudo é um grande borrão para mim, principalmente durante a grande guerra, quando eu era apenas um bebê. Mas de uma coisa eu sei: todos os povos desta galáxia nos caçaram, é o que está escrito em todos os livros de história; é o que os anciãos mais antigos de meu povo dizem ao relembrarem desta época sombria.

— Não tive a chance de conhecer um estelar antes, tudo o que eu tinha eram histórias contadas pelo meu pai, ele presenciou a grande guerra. Aquele velho rabugento era muito sábio. Ele tinha muita fé em seu povo, assim como muitos outros seres dessa galáxia. Se vocês foram caçados, não foram por seres como meu pai. Muitos morreram lutando contra a opressão, esperando que um dia os gloriosos estelares ressurgissem para ajudá-los.

Mazu permaneceu em silêncio, remoendo seus próprios pensamentos.

— Minha dúvida pessoal foi respondida. Como sou alguém de palavra, irei saciar sua dúvida anterior, garoto — ele encostou-se nas barras de ferro da cela. — Eu diria que eram agentes do governo pelo modo automático de se comunicarem, mas não faço ideia. Tudo o que sei é: botaram sua cabeça a prêmio. Cem mil auros para quem encontrar um estelar em especial.

— Vocês vão me matar?

— Não se preocupe, te levar vivo é parte do acordo. Agora, bons sonhos, temos uma longa viagem.

— Espera! Por favor, me deixe fugir com minha nave, não causarei problemas. Me dê uma chance de fugir de quem quer que esteja me caçando.

— Os estelares eram heróis para mim. Em outras circunstâncias, eu iria deixá-lo sim escapar, mas preciso dos cem mil. Tenho várias bocas para alimentar. Me perdoe, garoto.

O capitão se retirou.

Mazu encostou-se na parede e se sentou no chão. Quem estaria o caçando? E o mais importante: como sabiam da presença de Mazu?

Várias perguntas, e as respostas vinham para outras perguntas, porém necessárias. Agora, Mazu sabia da verdade. Sentiu-se mal pelo capitão e por todas as outras raças de Aurora. Os livros estelares contavam detalhadamente como a galáxia se tornara um lugar pacífico após a morte de Tenebris. Mentiras. Tão ocupados em exílio que se esqueceram que Tenebris não era o único problema.

STARBOY ✩ O Chamado | VOL. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora