Quando a reunião teve fim, Gahro ordenou que dois guardas guiassem Mazu e Alpha até seus dormitórios temporários. Um extenso corredor repleto de portas parecia não ter fim. Era lá onde os vários guardas do círculo da revolução descansavam. Um dos guardas parou próximo de uma das portas e pressionou seu dedo esquelético no leitor ao lado; a porta se abriu no mesmo instante. Mazu entrou no quarto. Havia uma cama, um vaso e uma televisão. Nada comparado ao que Mazu tinha no reino, mas ele não se importou. O outro guarda deixou Alpha no quarto ao lado.
O príncipe sentou-se na cama e tirou a parte de cima de sua armadura. O material de que fora feito, as cores e o formato. Tudo o fazia lembrar de seu querido irmão, Mellak. Todos os momentos que passavam juntos eram retransmitidos em flashbacks em sua mente, assim como vídeo mostrado na reunião. Memórias tristes de um passado não tão distante. Há bilhões de quilômetros de distância de seu povo, Mazu se perguntava: ele está bem? ele está vivo?
Mellak sempre o protegera e Mazu o retribuiu daquela maneira. Sentia-se culpado. Poderia um estelar culpado se tornar um guerreiro do povo? Ele não sabia.
O estelar deixou as partes que tirara da armadura no chão e continuou sentado na cama, refletindo sobre tudo o que ocorrera até aquele momento. Seu corpo brilhava timidamente na escuridão do quarto. Os ombros levemente encolhidos e o olhar fixado no chão. Quase podia escutar a voz de sua mãe lhe dizendo: "você sempre está olhando para baixo."
Sentia falta de Stellae. Também sentia falta de seu lar. Passara tanto tempo imaginando como seria sua vida entre as estrelas, mas agora que finalmente estava ali, se sentia triste. A galáxia era um lugar triste, afinal de contas. Uma lágrima solitária escapou do olho esquerdo de Mazu.
O ruído da porta se abrindo chamou a atenção de Mazu. Era Alpha. O homem ainda estava vestido em seu traje tático, ao contrário de Mazu que estava com o tronco despido. O leve brilho do corpo do estelar refletia nas íris escuras de Alpha.
— Eu deveria ter vindo outra hora — falou Alpha ao se deparar com Mazu; suas bochechas estavam levemente vermelhas.
— Não, fique. Não me importo — o príncipe enxugou a lágrima.
Iria passar por aquela porta e se retirar, aquilo poderia esperar. Porém, mesmo tendo decidido, ele parou. Palavras precisavam ser ditas. Ações precisavam ser tomadas. Por que realizar uma missão de vida ou morte era mais fácil do que fazer aquilo?
— É… — Tentou encontrar as palavras no baú de sua mente, mas nada saiu, até que finalmente: — Me perdoe.
Mazu também não sabia o que dizer, por isso continuou o olhando, esperando por mais.
— Não fui justo com você — tentou continuar, mas novamente, nada saiu. Alpha não era bom com palavras, não quando era exigido delicadeza.
— Não o julgo por ter acreditado naquilo que foi criado para acreditar e servir — falou Mazu. — O que importa é que fez a escolha certa.
— Te julguei mal — Alpha desviou o olhar.
— Seu pai foi morto por estelares, como você poderia confiar em mim? Eu que lhe peço desculpas pelos erros de meu povo.
Alpha sabia que talvez a história que lhe contaram sobre a morte de seu pai deveria ser falsa. Os fatos poderiam estar escondidos, e Alpha iria desenterrá-los, um por um. Pensou em contar para o príncipe, talvez aquilo acalmasse sua alma atormentada por erros que ele não cometera, porém notou a marca transparente de lágrima na bochecha do estelar. Sentou-se ao lado de Mazu e passou delicadamente o dedo em sua bochecha até que a marca desaparecesse. Alpha conseguiu sentir a maciez da pele do estelar. Quando se deu conta, toda sua mão estava encostada no rosto do príncipe, dando-lhe apoio e carinho. Ambos se olhavam.
— Não foi sua culpa — falou, finalmente.
Como se estivesse se libertando de um peso, Mazu pousou sua cabeça no ombro de Alpha. Estava cansado. Tantos conflitos e mortes desgastaram o príncipe. Mas ele tinha seu apoio. Alpha afastou sua mão da bochecha do estelar e a levou até o emaranhado de cachos brancos do príncipe, acariciando-os delicadamente. Os dedos do homem se enrolavam nos cachos de Mazu. Para ele, tocar naquele cabelo era como encostar em um gramado sagrado.
— Somos amigos agora, não somos? — Mazu indagou.
— Sim.
Mazu sorriu.
— Vou dormir agora. Quer dormir comigo?
Apenas uma pergunta inocente. Alpha conhecia Mazu o suficiente para saber que, provavelmente, era comum de sua cultura não transformar simples atos em malícia. Os tons de vermelho em sua bochecha se avermelharam de forma mais intensa, deixando em evidência as cicatrizes em seu olhos e nariz. Se sentiu envergonhado, mesmo que por um segundo, por ter desejado que aquele convite inocente tivesse outro sentido.
Mazu se acomodou entre os lençóis e deitou. Hesitante, Alpha fez o mesmo, porém não se cobriu, preferiu permanecer descoberto, enquanto o príncipe estava com o corpo coberto. Mesmo embaixo do lençol, o brilho do corpo de Mazu podia ser notado. Ele adormeceu. Alpha se deitou de lado de forma que ficasse de frente para o estelar.
Droga, estava apaixonado.
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STARBOY ✩ O Chamado | VOL. 1
Science Fiction🌟 STARBOY - Volume 1 Um chamado misterioso levou o príncipe de uma raça de guerreiros poderosos à uma galáxia de perigos e segredos. Mazu se vê em risco: longe de seu povo e perdido, ele será forçado a firmar uma aliança com Alpha, o agente que o...