III

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— Mamãe...

Lá estava ele, o pequeno Kondrak, parado diante da janela, observando com horror estampado no olhar um cogumelo gigante se formar há quilômetros de distância de onde ele estava. Mesmo sendo uma criança, ele sabia que aquilo não era nada bom. Para a mente inocente de uma criança, tudo era mágico. Os horrores da vida eram fantasiados e transformados em peças fantásticas. Assim uma criança lidava com o mundo. Naquele dia, Kondrak não tinha o que fantasiar, pois já sabia que aquilo significava o fim de tudo. A morte.

Mãos ásperas agarram o ombro de Kondrak, tirando-o do transe. Era sua mãe. A adulta tronari tinha os aspectos comuns de sua raça. Chifres e uma pele áspera com escamas; não tinha cabelos longos, sua cabeça era limpa. Três manchas brancas próximas dos olhos da mulher marcaram suas expressões. E a única expressão possível naquele fatídico dia era horror.

Ela o pegou no colo e correu pelo corredor deserto da sede dos tronari. Lá fora, nas ruas, a guerra continuava. Aninhado no colo de sua mãe, o pequeno Kondrak podia escutar os gritos de desespero dos soldados. Não sabia distinguir se eram soldados da L.D.A ou de seu próprio povo. Não importava de quem eram os gritos, ainda eram horríveis.

A mãe entrou em um cômodo repleto de naves e escolheu a menor delas. Uma que não chamasse atenção. Ela adentrou na nave e preparou o piloto automático.

— Se lembra do Nyk? — Ela se esforçou para sorrir. — Ele irá te acompanhar a partir daqui.

— Ei, Nyk falando — uma voz animada preencheu a cabine de piloto.

Kondrak se sentou no assento do piloto e olhou para sua mãe.

— E você? Não vem comigo?

— Vou estar logo atrás de você junto com seu pai, querido.

Ela observou o filho por alguns segundos. Nunca foi uma mãe sentimental, sentimentos não faziam parte da cultura dos tronari. A guerra sim. No entanto, aquela situação soava como um último adeus. Nem os mais fortes corações da galáxia suportavam um último momento; aquele tipo de momento que você vislumbra toda sua vida com a pessoa. Marido, pai, mãe ou filho. Ela o abraçou desajeitadamente. Uma lágrima escorreu dos olhos de Kondrak.

— Não, nada de lágrimas. Não dê esta vitória a eles.

Kondrak assentiu com a cabeça.

Sua mãe se afastou e se retirou da nave. Ele continuou sentado.

— Preparado para mais uma viagem, amigão? — O I.A Nyk ligou os motores da nave e decolou, deixando para trás o planeta dos tronari. De longe, Kondrak pode notar as milhares de naves da L.D.A e de seu povo lutando uma contra a outra. Era como um show de fogos de artifícios.

Próximo do planeta, um gigantesco portal teleportador. Estava cercado por naves da L.D.A. Nenhuma delas sequer notou a aproximação da pequena nave onde Kondrak estava. Todas estavam focadas em conter a tropa tronariana que vinham aos montes atirando e lançando mísseis.

Antes que a nave de Kondrak mergulhasse no portal e fosse teleportada para outro lado da galáxia, o pequeno pode vislumbrar uma cena que ele jamais esqueceria. Uma cena traumatizante e ao mesmo tempo esclarecedora.

Ele enxergou cinco pontos brilhantes voarem velozmente pelo vácuo em direção à estrela que iluminava o sistema de planetas da raça tronari. Segundos depois, uma explosão. Kondrak apenas enxergou um forte clarão.

Naquele momento, ele soube que sua mãe, pai e toda sua família estavam mortos.
Ele não tinha mais um povo.
Não tinha mais um lar.
Estava largado pela galáxia.
Mas não estava perdido.
Ele tinha um objetivo.
Vingança.

⭐⭐⭐

Diante da janela, ele observava o planeta Dax. Um lindo planeta azul. Várias naves entravam e saiam constantemente do planeta. Cada nave carregando seres com vidas e preocupações. Logo após o início da nova era, não teriam mais preocupações. Kondrak sorriu.

O objeto estranho, na verdade, era uma arma em movimento. Perfeitamente esférica com tubos transparentes a envolvendo, como se fosse os anéis de poeira de um planeta. Dois tubos de ligação em lados opostos conectavam os anéis à arma. Vagou lentamente pelo vácuo até estar a quilômetros de distância de Dax. Kondrak escolhera o dia perfeito, afinal Dax e os outros dois planetas do sistema-capital de Aurora estavam alinhados com a estrela que os aquecia.

Naves triangulares surgiram da escuridão do espaço e se puseram inertes em volta da arma esférica. Agentes e generais da L.D.A tentavam se comunicar com as naves estranhas, questionando a jurisdição das mesmas e o motivo de estarem ali. Sem respostas.

Então, a nave-arma se alinhou ao sol, como um eclipse perfeito.

Morgana surgiu atrás de Kondrak.

— Estamos preparados.

— Enquanto a Mazu? — Kondrak indagou, ainda vislumbrando a visão espacial além da janela.

— Preparado ou não, a máquina irá sugar todo o estímulo do corpo de Mazu.

— Ótimo. Iremos dar início ao espetáculo.

STARBOY ✩ O Chamado | VOL. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora