VII

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Mazu

Acordou pelo sibilar das vozes chamando seu nome. O chão onde dormira era frio, mas não tão frio quanto os chamados incessantes que arrepiavam sua pele. Lá fora, além da barreira de proteção, tudo parecia calmo. Como sempre, a tempestade apenas podia ser escutada — e sentida — por Mazu. 

Endireitou o corpo e encostou-se na parede, permanecendo sentado no chão. As vozes continuavam a chamar. Não estavam tão distantes como de costume, pareciam próximas o suficiente para deixar o príncipe nervoso. Desde pequeno, quando passou a escutá-las, Mazu sabia que, não importava de onde vinham, elas estavam chegando. Em cada fase de sua vida, elas se aproximavam lentamente, como uma serpente indo em direção a sua presa.

Agora, Mazu estava encurralado, assim como uma presa fácil. Não havia outro caminho a seguir. Não havia alternativas a escolher. Ele estava preso. E apesar de no fundo concordar com sua prisão, afinal o príncipe se considerava um risco para qualquer tipo de vida, ele sabia que o que quer que as vozes significavam, estavam mais próximas do que nunca, e com certeza representavam um perigo muito maior.

⭐⭐⭐

Quando os superiores da L.D.A dizem para abandonar o caso, você imediatamente obedece. Mas, obedecer não era algo que Alpha costumava fazer. Ele nunca foi bom em obedecer ordens. Aquele caso era valioso para o agente. Apesar de estar escrito nos registros que o general Ankor, pai de Alpha, fora assassinado por estelares do culto de Tenebris, ainda sim a situação não parecia clara o suficiente para apaziguar a alma e mente do rapaz.

Lera os registros do caso da morte de seu pai milhares de vezes. Ankor fora dado como morto enquanto realizava uma missão importante. Na época, ele era o maior perigo do culto. Todas as peças estavam finalmente se encaixando, e isto resultaria no fim de uma célula terrorista responsável por amedrontar todas as raças da galáxia. Mas… O impensável aconteceu. E mesmo assim, apesar de todas as circunstâncias terem sido explicadas detalhadamente, ainda não parecia certo. Havia algo de errado.

As gotas de chuva se chocavam contra a janela daquele galpão abandonado. Os raios que rasgavam o céu eram como garras demoníacas, podiam assustar qualquer ser. No entanto, aquele pequeno e gordo ser dentro do galpão, amarrado pelos pés de cabeça para baixo, não temia os raios. Os raios eram menos perigosos quando se estava diante de Space Hunter.

O galpão se localizava no planeta industrial Tark’eh, do sistema HP-X23. Longe de toda a metrópolis recheada de prédios gigantescos e chaminés cuspidoras de gás tóxico, haviam áreas calmas, porém abandonadas. Resquícios de uma civilização que abandonara sua cultura e se entregara aos costumes do governo.

Quando chegara ao planeta horas atrás, lutara contra supostos membros do culto que estavam à espera dos piratas que chegariam com o estelar. Todos eles fugiram, exceto um. Era a primeira vez que Alpha conseguiu capturar um membro do culto.

As correntes apertavam as pernas do ser chamado Ren, um zonraliano com apenas um glóbulo ocular no rosto redondo e verde. Um par de antenas estavam erguidas no topo de sua cabeça. Seu corpo, vestido com vestes escuras, evidenciava uma vida sedentária.

Por baixo do capacete, Alpha o analisava.

— Por favor… — Ren cuspiu sangue. — Eu faço tudo o que você quiser…

— Quem os enviou? — Alpha foi direto ao ponto.

— Quem dá as ordens não se identifica, eu juro… — Respondeu, tonto por estar há muito tempo de cabeça para baixo. — Quando… Quando viemos a Tark’eh, fomos ordenados a buscar o estelar com os piratas. Entregaríamos o auro e o trabalho estaria feito.

STARBOY ✩ O Chamado | VOL. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora