III

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A general Hella levou todos os jovens participantes do torneio até a nave que os levariam à Kohr, uma das duas luas de Volair-C. Todos estavam tão nervosos que mal notaram o impostor entre eles.

Não havia bancos na nave, afinal aquela era uma nave militar; barras de ferro presas no teto serviam como apoio para os jovens estelares. O silêncio estava impregnado entre todas aquelas bocas. O único som vinha dos motores, que ardiam em chamas azuis enquanto davam impulso para a nave continuar a subir em direção ao vácuo.

Coberto por uma armadura, Mazu observava a paisagem através da janela ao seu lado: continentes verdes, várias nuvens brancas e um gigantesco anel de poeira. Ao longe, sendo engolida pela curvatura de Volair-C, Rys, a lua proibida. Certa vez, Kazon dissera a Mazu que Rys era a lua onde os estelares guardaram os artefatos mais poderosos e perigosos do universo, para que ninguém mais usasse-os para o mal.

Enquanto mais subiam em direção à Kohr, mais o coração do príncipe palpitava, ansioso.

— Ei, Melak — chamou Dakris, se colocando ao lado do irmão. — Eu sei que todos estamos ansiosos, mas não precisa ir até a arena com o capacete na cabeça.

Mazu se manteve em silêncio; seus olhos observavam Dakris por baixo do denso capacete.

— É, eu sei, a ansiedade é grande — Dakris pousou sua mão no ombro de Mazu —, mas pense pelo lado bom, nós somos os melhores dos melhores, não temos o que temer. Ao menos, não estamos na mesma situação que Mazu.

Mazu fechou a cara.

— Vou pegar leve com você na arena — deu um soquinho no peito de Mazu, partindo para a parte frontal da nave onde estavam seus amigos.

Kohr era repleta de natureza, tendo montanhas grandes, rios extensos e florestas densas. Enquanto a nave passava pela troposfera da lua, Mazu pôde observar a arena erguida entre um conjunto de montanhas.

As arquibancadas estavam repletas de estelares fervorosos gritando ao verem a chegada da nave com os competidores. Ainda no alto, Mazu notou que a arena tinha o formato de um U; duas estátuas gigantescas de Lux e Yebek estavam erguidas no extremo direito da arena.

A nave pousou no solo arenoso da arena. Os jovens desceram da nave e observaram-na partir em direção ao céu azul de Kohr.

Mazu estava imóvel. Todos nas arquibancadas ainda gritavam, emocionados. Dakris respondia aos gritos com um aceno animado e um grande sorriso.

— Venham, jovens — Hella ordenou, caminhando até estar diante do camarote real, no extremo esquerdo da arena.

Cravados no solo de areia, haviam vinte pisos com escrituras estelares desenhadas nas pedras que os revestiam. Os jovens se puseram em cima de seus respectivos pisos.

O soar de uma trombeta ecoou pela arena, fazendo todos se calarem. Uma parte do chão se repartiu em dois, dando espaço para uma plataforma metálica emergir da escuridão e se encaixar com o solo da arena. Vinte torkos vestidos com armaduras especiais para animais estavam espalhados na plataforma.

Kazon se levantou do trono e caminhou até a extremidade do camarote real, observando os vinte participantes abaixo de si. Mazu pôde notar o olhar apreensivo de Stellae direcionado ao banco vazio ao seu lado — onde Mazu deveria estar sentado.

Ao olhar para as arquibancadas, entre os vários rostos dourados, o príncipe encontrou a face de Mellak. Um manto cobria todo o corpo de Mellak, deixando apenas parte de sua face à mostra.

— Saudações aos jovens estelares que futuramente se tornarão guerreiros! — A voz de Kazon ecoou pela arena, gerando aplausos e gritos para os participantes parados diante do camarote real.

— Hoje — o rei continuou —, será iniciado o Torneio Solar, uma velha tradição de nosso povo que visa transformar os mais jovens em guerreiros honrosos. Quando a trombeta der início ao torneio, os competidores deverão seguir a trilha, que dará uma volta completa pela lua de Kohr — explicou Kazon. — Aqueles que conseguirem ultrapassar todos os obstáculos sem desistir, irão ter o direito de receber suas starshines.

Uma enorme barreira estava erguida na parte direita da arena. Mazu já vira outros torneios; ele sabia que, atrás da barreira, estaria o início da longa trilha de obstáculos. Quando os raios solares do começo de tarde atingissem as faces das estátuas de Lux e Yebek, a barreira seria aberta, dando início ao torneio. Tudo idealizado por Tastar, o estelar mais inteligente. Ainda era manhã.

— Preparado, irmão? — Dakris estava ao lado de Mazu, imóvel acima de seu piso.

Mazu o respondeu balançando positivamente a cabeça.

Ele treinou a vida inteira para este momento, e mesmo depois das inúmeras falhas, conseguira chegar perto do que mais almejava: se tornar um guerreiro. No entanto, ainda faltava mais uma etapa para sua glória. Caso falhasse, tudo estaria perdido.

O príncipe olhou mais uma vez para Mellak.

— Me deseje sorte — ele sussurrou.

Como se tivesse escutado, Mellak meneou a cabeça, lhe desejando toda a sorte do universo.

Raios solares iluminaram as duas grandes estátuas dos criadores. Quando as preencheram com o brilho da tarde, a barreira se repartiu em duas, dando vista para uma extensa trilha que levava ao interior de uma densa floresta.

A trombeta soou. Os estelares nas arquibancadas gritaram.

— Que comece o torneio! — Kazon gritou.

STARBOY ✩ O Chamado | VOL. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora