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Dias se passaram e o Torneio Solar estava cada vez mais próximo de começar. Bandeiras brancas exibindo o simbolo estelar podiam ser vistas em cada lugar do reino. As estradas estavam tomadas por vários estelares comemorando a chegada do dia em que os mais jovens se tornariam grandes guerreiros. 

Apenas um deles não compareceu ao evento, e este era Mazu. Enquanto todos festejavam, o príncipe optara em seguir com o treinamento. 

Sozinho no pátio do templo, ele treinava tiro ao alvo. Mazu aprendera muito bem a energizar outros objetos além de uma starshine. As flechas que ele estava usando para praticar estavam energizadas com seu estímulo. Quando atiradas contra os alvos, deixavam rastros de luz no ar. 

Quando preparou o arco para atirar uma outra vez, um gemido o fez parar. 

Torkos. Lá estavam eles, desta vez atrás de uma nova cerca; apenas um deles observava Mazu. Não demorou muito para o príncipe perceber que, aquele que o observava, era o mesmo torko que ficara com raiva dele. 

— É, eu conheço você — disse Mazu, largando o arco em cima do amontoado de flechas. 

O torko continuava a gemer, enquanto seus companheiros dormiam profundamente. Todos eles teriam um longo dia pela manhã, afinal foram escolhidos para transportarem os jovens guerreiros durante o torneio.

Os torkos geralmente viviam dispersos pelo planeta, mas apareciam sempre quando necessitados. Eram animais primitivos, mas gostavam da presença dos estelares. A resistência de um torko era enorme, suas peles eram quase indestrutíveis. No entanto, ainda podiam se ferir, e este era o caso do torko que gemia. 

Mazu se aproximou da cerca e notou que o animal cabisbaixo estava com uma das patas feridas. 

— Se feriu caçando, não é? 

Antes de pular a cerca, Mazu pensou se aquilo seria uma escolha inteligente. Dias atrás, quase morrera pelos torkos, que por algum motivo haviam se enraivecido com ele. Mas, ele não poderia deixar aquele animal ferido, algo deveria ser feito. Então, ignorou seu medo. 

— Por favor, não surte de novo — ele disse aos sussurros. Pulou a cerca e pisou no chão sem fazer barulho, passando por cima dos torkos adormecidos no chão sem despertá-los. 

Contrariando o medo de Mazu, o torko continuou deitado no chão, gemendo de dor. O príncipe permitiu se aproximar mais e ajoelho-se próximo do animal. Olhou-o, quase conseguia enxergar seu próprio reflexo no olhar do torko. Acariciou levemente os pelos brancos do animal. O torko ferido recuou, mas depois cedeu ao afeto de Mazu. 

— Vai ficar tudo bem... — O príncipe pegou a pata ferida do torko com cuidado e examinou o ferimento; provavelmente fora feito por um outro animal enquanto brigavam.

Quando encostou na ferida, o torko gemeu mais alto. 

— Calma, vai ficar tudo bem — Mazu acariciou a cabeça do torko com sua mão livre. — Apenas relaxe, amigo. 

Levou a palma de sua mão até o ferimento e fechou os olhos. Suas veias começaram a brilhar em dourado, depois, este brilho deslocou-se até a palma da mão do garoto. Bastaram alguns segundos para o ferimento da pata do animal estar totalmente curada. Não restou nem mesmo um vestígio de que houvera um ferimento. 

— Prontinho — Mazu afagou a cabeça do animal. 

Como presente, o torko lhe deu uma lambida no rosto.

⭐⭐⭐

Após finalizar seu treino, Mazu retornou ao castelo. Todos os enfeites relacionados ao torneio o deixavam nervoso. Antes, o grande problema era ganhar o torneio e provar-se capaz de ser um grande guerreiro. Mas, desde a noite quando Kazon proibira Mazu de participar, o problema se intensificara. No entanto, para tudo havia um plano. 

Andando pelos corredores do castelo, Mazu escutou um barulho estranho vindo de um dos cômodos. A porta estava fechada, então ele a abriu e se deparou com uma linda armadura reluzente; ela era branca com listras douradas. O capacete era fechado, dando abertura apenas para os olhos.

A armadura, assim como todas as outras, fora feira através do minério pry, pois além de muito resistente, este minério absorvia perfeitamente o poder do estímulo de um estelar, dando força para a armadura.

Do outro lado, diante de uma mesa repleta de itens, estavaMellak — ele estava concentrado pintando um par de ombreiras para a armadura, que estava quase finalizada. Mazu não era o único do reino a não estar participando da comemoração, afinal. 

— É linda — Mazu elogiou, aproximando-se da armadura.

— Tive que deixá-la mais fechada, caso contrário iriam notar seu rosto — ele finalizou a pintura das ombreiras, pegando-as cuidadosamente com as mãos e as encaixando na parte dos ombros da armadura, que estava em pé, preenchida por um boneco de madeira.

— Você tem certeza de que quer continuar com este plano? — Mazu olhou preocupado para o irmão.

— É um direito seu estar no torneio, irmão. Nosso pai não vai ficar bravo; não se você vencer.

— Vencer...

Inicialmente, Mazu participaria do torneio sem se disfarçar, se arriscando ao máximo quebrando as regras. Porém, Mellak pensara em outro plano, um mais sofisticado: Mazu iria se disfarçar de seu irmão. A armadura fechada era um mero disfarce para que ninguém notasse que, embaixo de toneladas de metal, estaria Mazu.

— Você vai vencer, entendeu? — Mellak ajeitou as ombreiras de forma que ficassem perfeitamente encaixadas na armadura. — Uma armadura fechada, mas não tão pesada. Perfeita para correr, se esquivar e lutar.

— Onde vai ficar enquanto finjo ser você?

— Estarei escondido na multidão, não vão me notar.

— E se procurarem por mim? Mellak, eu não quero arranjar encrenca para você. Sua oportunidade como ajudante de Tastar pode ir por água abaixo caso nosso pai fique zangado.

— Ei, ei, relaxa — Mellak virou-se em direção ao irmão e pôs as mãos em seu ombro. — Estou ciente das consequências, e sinceramente, não ligo para elas. A única coisa que importa é que você vai botar pra quebrar naquela arena.

— Como pode não ligar para as consequências? Não tenho tanta certeza se vou vencer. Estou muito bem treinado, mas os outros, como Drakis, são infinitamente superiores a mim. Você pode perder a chance de realizar o seu maior sonho!

— O maior sonho da minha vida é ver meus irmãos se tornando guerreiros, mesmo que isso signifique que eu fique para trás. Não me importo se todos vão acabar me chamando de bobo ou eu acabe perdendo o respeito de Tastar.

— Bobo seria Tastar se ele te dispensasse como ajudante — Mazu abraçou o irmão; Mellak retribuiu. — Obrigado, irmão. Vou vencer por nós dois.

STARBOY ✩ O Chamado | VOL. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora