III

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O jardim da rainha Stellae era considerado o coração do castelo, estando localizado entre as várias torres, em uma área aberta.

Sentado na pedra diante de um pequeno lago, estava Mazu, quase coberto por milhares de espécies de plantas e árvores em seu arredor. Os pássaros adormecidos nos galhos das árvores não podiam escutar o choro silencioso do príncipe.

Ele observava seu próprio reflexo na água do lago. Pele e íris dos olhos levemente douradas, linhas de nascença brancas próximas dos olhos, cabelos claros e um par de orelhas pontudas.

Mazu era semelhante a qualquer outro estelar, então porque sentia-se tão diferente?

Dakris e Mellak eram diferentes por serem especiais, enquanto Mazu por ser mais devagar comparado aos outros.

Ele suspirou. Os olhos dele estavam marejados, quase ofuscando sua visão; pequenas gotas de lágrimas caiam no lago, causando ondulações na água. O reflexo de sua face se desfez.

— Sempre olhando para baixo.

Era Stellae, caminhando pela passarela de pedrinhas do jardim. O vestido da rainha, feito de um leve tecido, deixava-se balançar pela brisa da noite.

O longo cabelo bem penteado da rainha oscilava, exibindo todo seu brilho e textura.

A rainha sorria, e mesmo quando não estava sorrindo, sempre passava um ar de serenidade. Uma mulher calma, bondosa e observadora.

Mazu enxugou suas lágrimas.

— O quê?

— Sempre olhando para baixo — a rainha aproximou-se do filho e se sentou. — Desde muito pequeno, você sempre mantém seus olhos pousados no chão.

Mazu sorriu, sem graça. Seu olhar continuava fixado no lago.

— Lembro-me como se fosse ontem quando cheguei a este planeta — ela acomodou-se ao lado de Mazu. — A Grande Guerra havia acabado e Yebek nos deixou esse paraíso. Tudo o que eu sabia naquela época era como usar minhas habilidades para lutar contra o mal. Mas eu tinha dificuldades em uma pequena coisinha.

— Você teve dificuldades? Difícil de acreditar — Mazu a olhou, curioso.

— Oh claro que tive. Os criadores nos deram estas habilidades, este poder, que chamamos de estímulo, e desde então usávamos para guerrear contra aqueles que queriam tirar a paz do universo. Nos esquecemos que nossos estímulos servem para muitas outras coisas. Na época, essa era minha maior dificuldade.

— E você conseguiu superar essa dificuldade?

— Veja em sua volta, tudo isto é fruto de minha persistência. Quando jovem, eu apenas usava meu estímulo para energizar espadas, agora — Stellae encostou em um pequeno broto na grama e, instantaneamente, sua mão brilhou e o broto se tornou uma linda flor azul-brilhante — o uso para glorificar a vida.

— Isso é incrível! — Mazu exclamou, olhando encantado para a flor.

— Vamos, é a sua vez.

— Eu não sei, mal consigo energizar um bastão.

— Deixe-me guiar você.

Stellae pegou na mão de Mazu e a guiou até o fundo do lago, onde haviam vários brotos. A mão do príncipe encostou em um deles.

— Feche os olhos, respire fundo e abra seu coração — Stellae o instruiu.

Mazu obedeceu.

Estímulo era como os estelares chamavam a energia que corria por suas veias. Uma energia poderosa capaz de fortalecer armas, aumentar a intensidade de golpes corpo-a-corpo, curar ferimentos e muitas outras utilidades. Quanto mais conexão, maior e mais poderoso seria o estímulo de um estelar.

Poucas vezes Mazu conseguira conectar-se consigo mesmo para acessar seu estímulo, mas, naquele momento, ele sentiu algo diferente; algo poderoso.

Quando abriu os olhos, suas mãos estavam brilhando intensamente. Mas, não apenas elas: o brilho dourado vindo dos brotos no fundo da água agora podia ser visto, iluminando todo o lago. Mesmo na superfície, Mazu conseguiu vislumbrar seu estímulo transformar simples brotos em grandes algas marinhas. Ele tirou sua mão debaixo d’água.

— Eu… Como?! — Mazu perguntou, sem acreditar.

— Desde o dia em que encontrei você nos escombros daquela nave, eu soube que você era especial — Stellae o abraçou. — A voz dentro de sua mente é apenas um obstáculo, e o que fazemos com obstáculos?

— Nós os enfrentamos — Mazu a abraçou fortemente. — Obrigado, mãe.

— Eu e seu pai te amamos, Mazu. Às vezes Kazon pode parecer autoritário, mas por dentro, ele é um bom estelar, e ele te ama muito. As cobranças são a forma dele de demonstrar preocupação.

— Preocupação com o quê?

— Durante a Grande Guerra, presenciamos vários de nosso povo se juntarem ao lado sombrio. Isso foi demais para seu pai. Ele apenas quer te proteger — Stellae acariciou os cabelos brancos de seu filho.

— Foi realmente uma época horrível, não foi? — Mazu continuou abraçado, com o queixo apoiado nos ombros curvados de Stellae.

— Nem mesmo os milhares de livros contando sobre esta guerra são o suficiente para exemplificar todo o horror.

STARBOY ✩ O Chamado | VOL. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora