I

573 121 662
                                    

A estrela que aquecia Volair-C naqueles dias de verão estava se pondo quando Mazu chegou ao monte mais alto do reino.

Lá de cima, ele conseguia enxergar toda a extensão do reino dos estelares. Moradias feitas de um tipo especial de cimento circulavam uma enorme construção dourada com várias torres: o castelo da família real. Ele podia jurar que todo o reino fora estruturado de forma que parecesse uma grande estrela, sendo o castelo seu núcleo.

Em volta do reino — que tinha um formato circular —, havia um lago de águas calmas, que terminava sua jornada além das florestas, em um oceano não muito longe dali.

As luzes do reino começaram a surgir, porém o mesmo não aconteceu com o céu, que apesar da chegada do anoitecer, ainda não havia nenhuma estrela.

Mazu sabia o porquê. 

Antes de morrer, Yebek, uma das três criadoras do universo, deixara como herança um planeta especial para os estelares; e foi nele que se exilaram após o fim da Grande Guerra.

Espessas camadas de nuvens escondiam Volair-C do restante da galáxia. Ninguém poderia entrar, muito menos sair do pequeno sistema solar formado por uma estrela anã, duas luas e um planeta circulado por vários anéis. 

Em consequência desse isolamento, nenhuma estrela da galáxia podia ser vista. Apenas uma infinita escuridão.

Mazu já lera um livro sobre o universo, escrito por um pensador estelar. Estrelas, planetas, sistemas solares, galáxias. Tudo parecia muito interessante aos olhos do príncipe, que jamais viu outro astro espacial além do gigante anel de poeira que circulava Volair-C e as duas luas: Kohr e Rys.

O príncipe tinha uma imensa curiosidade em saber o que havia além do paredão escuro que os escondiam do restante da galáxia. Sempre foi seu sonho vislumbrar estrelas, planetas e cometas. O mundo lá fora parecia interessante, imenso. Mas este sonho era perigoso, Mazu sabia disso; todos os estelares sabiam, principalmente aqueles que vivenciaram a Grande Guerra.

Ao olhar para aquele céu vazio, Mazu lembrou-se de uma das histórias contadas por sua mãe; aquela sobre a morte dos três criadores. A história na qual Mazu conhecera pela primeira vez o nome Tenebris. 

‘’Cuidado ao dizer este nome em voz alta, pode trazer má sorte’’, dissera Stellae, certa noite. 

— Você não vai acreditar em quem veio falar comigo hoje! — disse Mellak, surgindo repentinamente e sentando-se ao lado de Mazu na beirada do monte. — O próprio mestre das tecnologias, Tastar. Ele se agradou com meus projetos da semana passada e… 

Mazu apenas o fitou enquanto escutava seu irmão atentamente. Ele não gostava de tecnologias como Mellak, mas sempre se esforçava ao máximo para tentar entender o que o irmão dizia, mesmo que não fosse um assunto de seu agrado. 

Mellak era alto, assim como seu pai; seus ombros largos e corpo musculoso faziam dele o mais alto entre os três príncipes da família. Seus cabelos brancos sempre ajeitados de forma que deixasse algumas mechas caídas sobre a testa. Listras de nascença douradas, típicas de qualquer estelar, subiam pelo pescoço de Mellak e terminavam em seu queixo; também haviam duas listras finas nos dois lados do rosto do príncipe, próximas de seus olhos, assim como as de Mazu.

Diferente de Dakris, Mazu e Mellak tinham uma boa relação. Desde pequenos, sempre faziam tudo na companhia um do outro, fosse brincar ou treinar. Mellak não sabia, mas ele era o único amigo de Mazu. 

Mellak era inteligente, humilde e sincero. Apesar de dispor uma boa aparência e ser naturalmente conhecido, afinal era um dos príncipes, o garoto preferia ficar isolado em sua oficina — às vezes saia para desbravar a natureza de Volair-C com Mazu.

O príncipe sorriu. 

— … Ele me convidou para o ajudar nos preparativos dos próximos torneios solares.

Torneio solar. Estas duas palavras fizeram Mazu engolir seco. 

— Ainda nervoso, maninho? — Mellak o olhou mais atentamente, notando o rosto abatido do irmão. 

— Desculpe, irmão. Estou muito feliz por você, muito mesmo. É que o torneio está tão próximo, sinto que não desenvolvi minhas habilidades, me sinto como uma criança. 

— Lembre-se do que Hella nos disse aquela vez: apesar do tempo passar igual para todo ser vivo do universo, cada um tem um tempo diferente para se descobrir na existência que nos rege. Seja paciente. 

Paciência era um dom que Mazu não tinha.

Estelares eram guerreiros em sua essência, mas era permitido que escolhessem outras funções, afinal não havia uma guerra para lutar.

Mellak escolheu inciar sua carreira no ramo da tecnologia junto com as mentes mais brilhantes do reino, Dakris optou aprender a arte das lutas de diversos povos do universo e Mazu permaneceu indeciso, como se não tivesse um caminho a seguir.

— Eu tento. Mas é difícil quando todos em minha volta estão se desenvolvendo tão depressa. Me sinto para trás. 

— Não fale assim — Mellak abraçou de lado Mazu. — Ainda há muito tempo, maninho. Sempre estarei aqui por você. Se você ficar para trás, eu te dou uma mãozinha. Somos os irmãos mais fodas da galáxia.

— Do universo. Os irmãos mais fodas do universo — Mazu sorriu. 

Após alguns minutos em silêncio, observando as luas surgirem no céu, Mazu e Mellak desceram do monte e se dirigiram até o castelo. 

STARBOY ✩ O Chamado | VOL. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora