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Abriu os olhos. Quando se levantou e sentou-se na beirada da cama, sentiu suas forças fluírem por seu corpo. Estava revigorado. Desde o torneio, Mazu não dormira, sequer descansara. Agora, ele tivera uma boa noite de sono, e não dormira sozinho, claro. O príncipe virou-se. Não havia ninguém do outro lado da cama.

Escutou passos apressados vindos do corredor. O que poderia estar acontecendo? Mazu pegou a parte frontal de sua armadura que estava jogada no chão e a vestiu. Quando saiu do quarto, deparou-se com soldados do círculo da revolução correndo em direção à sala de controle. Mazu seguiu-os.

A sala de controle estava superlotada. Haviam seres focados nos computadores enquanto Alpha estava parado diante de um mapa digital na plataforma no centro da sala. Qui-va analisava o mapa junto com ele. Enquanto isso, Gahro estava nos degraus que dava acesso à plataforma, conversando com um pequeno garoto. Mazu o conhecia. Era Ragi, o garoto que recebera Mazu no dia anterior.

Mazu contornou a plataforma e se aproximou de Gahro e Ragi. O garotinho estava chorando, enquanto Gahro, com a mão apoiada em seu ombro, tentava consolá-lo.

— O que houve? — O estelar dobrou os joelhos de forma que ficassem na mesma altura que a criança.

Ragi abriu a boca para responder, porém mais lágrimas escaparam de seus olhos e escorregaram por sua pele amarelada. Gahro respondeu por ele:

— Por algum motivo a cúpula ordenou que aumentassem a carga de trabalho dos funcionários da muralha. Alguns tentaram iniciar uma rebelião, mas foram detidos e agora serão severamente punidos. A L.D.A tomou controle da situação.

— O que é essa muralha? — Mazu indagou.

— Nosso planeta sempre foi um lugar desértico, mas tínhamos vários rios para saciar a sede de nosso povo. A cúpula capitalizou nossa água e construiu essa muralha. Vários norinianos trabalham para conseguirem água como pagamento — havia dor nas palavras de Gahro. — Já tentamos várias vezes inverter essa situação.

— Por favor! — O pequeno noriniano avançou em Mazu e o abraçou como se nunca mais fosse largá-lo. — Salve minha irmã de lá! É tudo que eu lhe peço, por favor!

As súplicas do garoto chamaram a atenção de Alpha e Qui-va.

— Ei, ei, acalme-se. — Mazu afastou o garoto e o olhou fixamente. — Tudo vai ficar bem, certo? Eu… — Respirou fundo ao dizer estas palavras, ele não tinha certeza, mas tentaria, como sempre fez. — Eu irei salvar sua irmã. Irei salvar todos.

— Quando? — Ragi olhou para Mazu, ainda com lágrimas escorrendo pelo rosto.

Mazu enxugou as lágrimas de Ragi e se levantou. Quando? Seria agora, naquele momento.

O olhar decidido de Mazu acalmou o coração de Ragi. Ele sorriu, esperançoso. O estelar deu às costas para todos e se retirou da sala de controle. Quando estava no corredor se dirigindo até o elevador que o levaria até a superfície, uma mão pesada encostou em seu ombro e o fez parar. Era Alpha; ao seu lado, Qui-va.

— O que vai fazer? — Alpha olhou-o, sério.

— Irei resolver isso — o estelar falou, convicto.

— Vai precisar de ajuda.

— Eu posso fazer isso sozinho — apesar de convicto, ele queria ajuda. — Não quero colocá-los em perigo.

— Se esqueceu da última vez que saiu sem rumo por um lugar que você não conhecia? — Alpha o relembrou de Syella.

— É…

A seriedade no rosto de Alpha desapareceu por alguns instantes, dando espaço para um pequeno sorriso. Mazu arqueou as sobrancelhas.

— Agora você ri? — Mazu falou.

— Isso foi um sorriso? — Qui-va entrou na conversa. — Não sabia que essa pedra sem sentimentos sorria — falou, sendo irônica (nem tanto).

— Preciso fazer isso — Mazu suspirou.

— Somos uma equipe — ele falou.

Agora foi a vez de Mazu sorrir. O príncipe gostava da presença de Alpha. Como parte da cultura estelar, Mazu não escondia seus sentimentos, muito menos os evitava por orgulho ou ignorância. Ele não gostava da presença do agente; ele gostava dele. A personalidade, jeito mandão, carrancudo. Sempre enxergou nele um bom homem. Mas ao se pegar pensando sobre a relação de ambos, Mazu se via sempre em um embate: gostava dele como amigo ou como algo a mais? Cada vez que o agente se aproximava dele, ele sentia estes sentimentos florescerem.

— Então vamos — Mazu concluiu. — Qui-va?

Ela balançou a cabeça, aceitando o convite de Mazu.

STARBOY ✩ O Chamado | VOL. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora