III

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Laval gritava a pleno pulmões. Sua voz fina ecoava pelos corredores metálicos da Shadow-989. Zya abriu a porta; de imediato, o pequeno líder planetário correu em direção a sua única saída. Falhou, obviamente. Antes que sequer chegasse ao corredor, deparou-se com uma figura alta e forte: Space Hunter. O twiliano recuou para trás, amedrontado.

— Por favor, não me machuque — recuou tantos passos que acabou encostando-se na parede. — É auro que você quer? Eu tenho! Faço a transferência rapidinho!

A julgar pela face do agente, Laval notou que ele não estava interessado em auro. As duas cicatrizes no rosto de Alpha evidenciaram um ser que presenciara várias mortes. Causadas por ele ou não, Laval não queria saber. Se manteve no canto da parede, com os olhos arregalados. A altura do agente era tão superior à do líder que, em um dia ensolarado, sua sombra o cobriria por completo.

Mazu entrou na sala, observando em silêncio o pavor de Laval.

— O estelar não! O estelar não! — Ele gritou novamente.

— Não irei machucá-lo — o príncipe disse calmamente.

— Não confio em estelares!

— Chega de enrolação — Alpha avançou na direção do pequeno ser e o agarrou pelo colarinho de suas vestes, levantando-o de forma que seus pés não estivessem mais centrados no chão. — Syella. Fale agora.

— Syella? O quê? Não sei do que está falando! — Engoliu em seco.

— Não minta para mim! — Alpha esbravejou; Laval encolheu o rosto. — Seus segredos sujos não irão mais ficar embaixo do tapete.

— Eu juro… Eu juro! Eu juro pelos deuses do T’wi.

— Não — usou uma de suas mãos para apertar o pescoço do twiniano —, jure por mim!

— Alpha… — Mazu se aproximou.

O agente continuou a apertar, cheio de ódio. A face inocente de Laval era tão falsa que o irritava, mas também o fazia relembrar de tempos sombrios, tempos de dor. A granada, a maldita granada. Apertou o pescoço de Laval com mais força.

— Alpha, não! — Mazu empurrou-o fazendo-o soltar o líder T’wi.

Alpha lançou a Mazu um olhar raivoso, mas ao perceber que o príncipe estava assustado, cedeu-se à culpa. Ele nunca se importou em maltratar criminosos, mas naquele momento, aquela ação parecia errada. Os olhos de Mazu apenas provaram isso.

Laval caiu sentado no chão, tossindo enquanto recuperava o fôlego. Marcas vermelhas foram deixadas em seu pescoço verde listrado. Mazu olhou para o t’wi atentamente. Assim como ele, Laval também tinha listras pelo corpo, mas eram em maior quantidade, enquanto Mazu apenas tinha algumas em seu rosto. Aproximou-se do líder.

— Enquanto mais cedo contar, mais rápido irá embora — falou, olhando-o nos olhos.

— Tudo bem… — Respirou fundo. — Tudo bem. E-eu… Me ofereceram uma boa quantidade de auro para fazer isso. Tudo o que eles pediram foi tecnologia e mão de obra. Vieram pessoalmente em meu lar trazendo um dossiê sobre todos os líderes da cúpula, incluindo eu.

— Chantagem. Com o quê? — Mazu indagou.

— A cúpula costuma deixar enterrado os problemas dos líderes. Tráficos de seres, escravos, desvio de verbas. Tudo embaixo do tapete — Laval olhou para Alpha. — Aquele dossiê, merda… Aquele dossiê continha informações sobre o caso Armageddon.

— Caso Armageddon?

— Uma arma muito antiga — explicou Alpha, entrando repentinamente no assunto. — Jamais foi usada.

— É o que dizem. Meu antecessor t’wi, meu pai, usou-a para destruir um sistema planetário inteiro em nome da cúpula da união. Os arquivos foram apagados e a situação foi resumida como ‘’desastre ambiental’’. Apenas mais uma explosão solar que engoliu um sistema.

— Por quê? — Mazu questionou, chocado.

— Os líderes antigos da cúpula não costumavam aceitar quando uma raça proclamava independência — Laval evitava focar nos olhares de Mazu e Alpha.

— E agora o culto está recriando esta arma?

— É algo muito mais poderoso. Algo inimaginável. Cedi ao culto uma de minhas instalações aqui em Twinor onde eles poderiam levar eles…

— Eles quem?

— Aqueles que desapareceram — Alpha falou friamente.

— Syella disponibilizou seres que estavam a devendo. Era uma forma de quitar a divida com ela.. Aquela mafiosa… — Laval sussurrou. — Eu… — Tossiu.

— Os desaparecimentos em Twinor. Foi você. — A raiva estava transparente no rosto de Alpha.

— Também cedi alguns seres.

— Raptou eles — Mazu estava com os olhos arregalados. — Seres inocentes!

— Eu não podia fazer nada, tá bom?! Nada! Quando aqueles seres encapuzados invadiram minha casa, eu não poderia dizer não. Eu vi o líder deles, era alguém mascarado, a voz sombria. Era uma mulher — a pele do líder arrepiou-se ao lembrar. — Certo dia, decidi visitar secretamente a instalação que disponibilizei para eles fazerem o que queriam… Era chocante. Não parecia nada com as bombas Armageddon, que eram como mísseis de alta potência. Era algo gigante. Parecia um… portal. E você — Laval olhou para o príncipe — também faz parte disso. Eles querem você, estelar. Você é uma peça do jogo deles. Uma peça importante. Por isso, não confio em vocês. Sua raça é podre!

Mazu afastou-se de Laval, ainda com choque expressado no rosto. Lágrimas ameaçavam escapar de seus olhos, mas ele as conteve.

— A única podridão que vejo aqui é você — Alpha sacou sua pistola de plasma e apontou para Laval.

— O sujo julga o mal lavado, não é mesmo? — Laval riu desesperadamente. — Sua mão também tem sangue, Alpha. Muito sangue. Acha que a memória de Aurora é curta? Ficará registrado para sempre na memória desta galáxia o dia em que a pobre criança morreu.

As mãos de Alpha tremiam.

— Morreu ao lado do ser mais violento de Aurora. Será mesmo que foi um acidente? Será que você não a matou?

— Cale a boca!

Os dedos de Alpha estavam prestes a pressionar o gatilho, mas Mazu colocou-se na frente de Laval. Olhava para Alpha fixamente, notando pela primeira vez pânico na face do agente.

— Você não é um monstro, Alpha.

— Não me conhece.

— Conheço o suficiente.

— Eu sou um monstro.

— Não são palavras verdadeiras — aproximou-se lentamente de Alpha e pousou sua mão no ombro do rapaz.

Ainda o olhava. Os olhos raivosos do homem diziam mais que palavras: ele sentia dor. Uma intensa e angustiante dor. No entanto, a dor dissipou-se aos poucos enquanto o agente, mesmo que com dificuldades, sustentava seu olhar aos de Mazu. A áurea de inocência transparente em Mazu refrescava a alma penada de Alpha. Abaixou a arma.

— Laval — desviou sua atenção de Alpha —, nos mostre esta instalação.

STARBOY ✩ O Chamado | VOL. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora