II

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O cheiro de enxofre era insuportável. No entanto, todos os funcionários próximos da esteira não pareciam se incomodar. Estavam acostumados com o forte odor. Além disso, não tinham tempo para se importarem com o cheiro, afinal a produção não podia parar sequer um segundo. A esteira, sempre em movimento, trazia peças de objetos; cabiam a eles montarem agilmente.

Trabalhavam todos os dias para pagarem suas contas, aquele era o ganha-pão de todas as raças daquele sistema, e mesmo tendo habilidades tecnológicas, não sabiam o que estavam montando. Não importava. Apenas queriam o auro no fim do ciclo de produção para não passarem fome.

Em uma plataforma acima da extensa área onde seres de variadas raças trabalhavam incessavelmente, Laval, acompanhado de Kondrak, observavam o andamento da produção. Um grupo de seguranças acompanhavam os dois líderes.

— É uma grande fábrica — Kondrak comentou.

— Espere até ver as outras, são duplamente maiores e mais sofisticadas — Laval caminhava a passos curtos atrás de Kondrak. — Infelizmente a produção teve uma leve queda na porcentagem desde que foi exigido trabalho braçal ao invés do uso de robôs feitos para essas funções.

Laval era baixo e usava vestes elegantes que remetiam a cultura de seu povo, os t'wi. Seu corpo era esguio e coberto por listras negras. Sua pele, verde. A cabeça era grande e achatada. Dizia a lenda que um twi tinha a cabeça com grandes proporções por conta do cérebro, que era grande e carregado de inteligência. Uma lenda vinda dos próprios t'wi, claro.

Kondrak virou-se de forma que ficasse de frente para Laval.

— A revolução tecnológica — Kondrak falou, com as duas mãos para trás; a diferença de altura entre Kondrak e Laval era gritante.

— Quando os seres — ele cochichou — os mais necessitados — parecia não ter orelhas, pois elas eram pequenas, quase invisíveis — não aceitaram a presença de robôs nas áreas de trabalho. Sinceramente, todos têm o direito de lutar pelo o que acreditam, e até que foi bom, temos mais pessoas trabalhando — falou, cheio de si.

Mais um líder ganancioso entre muitos, pensou Kondrak.

— Agradeço a aula de história, Laval, mas não vim até aqui para visitar suas indústrias.

Os olhos grandes e redondos de Laval se arregalaram de curiosidade.

— Claro, claro. Óbvio! Como sou tolo. As armas.

Kondrak assentiu calmamente com a cabeça. O par de chifres em sua cabeça eram ameaçadores, mesmo não sendo a intenção. Aquele lugar sem vida deixava a pele cinza de Kondrak mais pálida do que o normal.

— Como está indo?

— Tudo sendo feito em segredo, claro. Selecionei a dedo os melhores dos melhores para prosseguirem com a obra. Em poucos dias, tudo estará pronto para testes. São bombas de alta potência — ele comentou, ansioso.

— Ótimo — Kondrak manteve sua atenção nos trabalhadores abaixo. — Em pensar que, apesar das circunstâncias, muitos do conselho queriam revogar meu projeto.

— Oh senhor, sabe como a política é complicada, principalmente nestes tempos díficeis.

— Tempos de guerra, Laval. Tempos de guerra — repetiu, parecendo saborear as palavras. — Em falar em conflitos, soube dos protestos contra a fabricação das armas?

— Claro, senhor. Aqui mesmo em Twinor houve vários protestos organizados por operários. Todos os envolvidos foram demitidos.

— O tal círculo da revolução tem certa relevância entre alguns seres, isto é interessante. Mas não podemos deixar que estraguem nossos planos. A moralidade deles irá acabar com Aurora.

STARBOY ✩ O Chamado | VOL. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora