IV

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Mazu continuou a andar pela cidade, sem rumo. Tudo o que via em sua volta eram lojas, naves e seres. Por um momento, sentiu falta da natureza de Volair-C. Olhou para o céu e não enxergou nenhuma estrela; as luzes vindas dos prédios gigantescos ofuscaram o céu por completo. Tudo o que se podia ver naquela noite era a única lua do planeta Rodsu.

Mazu

O sussurro chamou repentinamente.

Mazu olhou para trás. Se sentiu observado, como se alguém estivesse o perseguindo. Seria difícil detectar algo estranho, muitos seres iam e vinham de todos os lados, formando uma multidão. Ninguém parecia suspeito. Então, retornou a sua caminhada.

Ao passar próximo de um beco, escutou gritos; era uma voz feminina. O beco era sem saída e estava repleto de latas de lixo. Encostada na parede de tijolos no final daquele beco imundo, uma mulher estava aos prantos enquanto alguém misterioso tentava puxar a bolsa das mãos firmes da fêmea. Ninguém na calçada pareceu perceber — ou não se importavam.

Mazu adentrou no beco e agarrou o ombro do estranho, o arremessando contra a parede de tijolos. Era um ser magro, sua pele parecia ser feita de metal. Não, era de metal. Vestia roupas comuns, porém não era um ser orgânico.

Apoiando-se no chão com seus dois braços no chão, o ser se levantou com dificuldade e correu para fora do beco, deixando para trás o estelar e a mulher assustada. Mazu a olhou. A pele dela era verde clara e haviam pintas em seu rosto e braço. Os longos cabelos da mulher pareciam um conjunto de cobras entrelaçadas no topo de sua cabeça.

— Você está bem? — Mazu indagou.

— E-estou, estou sim — ela falou, tremula. — Esses androides desgraçados…

— Quem era aquele?

— Quem não. Aquilo! — A mulher apoiou a alça da bola em seu ombro. — São androides, ou robôs, como preferir chamar. Desde que foram dispensados, vivem por aí, largados. Roubando pobres trabalhadoras como eu.

Um silêncio ensurdecedor se instalou entre os dois quando a mulher observou mais atentamente Mazu. Ela se aproximou, mas o príncipe recuou alguns passos.

— Espera um pouco… — Ela firmou os olhos. — Você é aquele estelar que estão procurando.

— Engano seu.

— Eu nunca me engano, querido. Não se preocupe, não irei te entregar. Não contribuo para o governo. Sou uma koriniana, meu povo lutou ao seu lado antigamente. Pode me chamar de Ela.

— Mazu.

Algo na voz de Ela parecia suspeito, mas o que não parecia suspeito em uma galáxia cheia de horrores? Ela foi a primeira pessoa a ser gentil com Mazu desde que deixara seu povo. Não se sentiu sozinho, apesar da desconfiança continuar o alertando.

— Eu sei, você não confia em mim. Mas posso te oferecer abrigo, pelo menos por enquanto. Não quero me envolver em sua bagunça. Se quiser, venha — ela caminhou em direção a saída do beco.

Mazu a observou partir.

Deixara Alpha, decidiu não seguir essa jornada com alguém que o odiava profundamente. Talvez fosse bom encontrar um lugar seguro para descansar por enquanto. Naquele momento, toda a galáxia estava à sua procura, não poderia ficar à solta pelas ruas. Respirou profundamente e seguiu a mulher, que desacelerou os passos para que o príncipe pudesse acompanhá-la.

— Antes que eu ofereça meu lar para você, uma pergunta — indagou, desconfiada. — Você faz parte daquele grupo de loucos que chamam de culto de Tenebris?

— Não, jamais faria parte disso.

— Então de onde você veio, garoto? — Ela arqueou as sobrancelhas.

— Vim… Fugi do meu povo. Faço parte daqueles que se exilaram — explicou.

— Fugiu, é? — Ela pareceu se acalmar. — Não precisa me explicar, todos nós cometemos erros. Quando eu era mais nova, eu também era um problema. Já conhece Aurora?

— Um pouco.

— Então deve ter percebido o caos.

— Meu povo acredita que todas as raças de Aurora vivem em paz. Desde que vim para cá, tudo o que vi foi desunião.

— A união das raças é apenas uma ilusão, meu filho. O líder da cúpula, nosso governo, nos diz que já estamos unidos, mas não chamo isto de união.

— Desigualdade não é união — Mazu falou, pensativo.

— Você tem visão das coisas — ela sorriu. — Tudo começou a desandar quando as raças superiores começaram a navegar pelo espaço com sua alta-tecnologia e desbravar novos planetas, consequentemente conhecendo outros povos. Não houve respeito, nem união. Houve dominação. Há muitos anos, este planeta pertencia a raça Ru, agora — ela apontou para um ser do outro lado da rua, um runiliano, sentado na beirada da calçada, pedindo esmola — todos eles vivem largados.

— Pela misericórdia de Yebek, isso é horrível!

— E seres como aquele — nos prédios mais altos haviam telas digitais transmitindo a imagem de Kondrak discursando na cúpula da união —, que dizem ser nossos líderes, fazem promessas que jamais irão cumprir.

Mazu assistiu atentamente a imagem de Kondrak. Ele parecia estar no centro de uma grande arena onde vários seres que pareciam importantes estavam sentados em arquibancadas. O príncipe não conseguia escutar o que Kondrak falava, os ruídos da cidade se sobressaiam.

— De onde venho, os líderes estão junto com o povo, não acima — Mazu falou.

— Bem-vindo a Aurora, querido — Ela falou rispidamente. — Vamos, moro ali perto.

STARBOY ✩ O Chamado | VOL. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora