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"Bem me querMal te queiraSe for em nome do entretenimento Pode me chamar de fofoqueira"

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"Bem me quer
Mal te queira
Se for em nome do entretenimento
Pode me chamar de fofoqueira"

~Fofoca (Vic Brown)

6 de Agosto - Terça-feira de manhã

Monique andou o caminho todo com a janela do Chevrolet Chevette verde azulado fechada para não desmanchar seu penteado.

— Pode parar aqui! — falou apressada. Ainda faltava pelo menos um quarteirão para chegar ao Floriano Peixoto, mas não queria que ninguém do colégio a visse saindo dessa lata velha. Muito menos que reconhecessem seu pai.

Não que ele fosse famoso. Mas qualquer um que viu as notícias locais na última semana reconheceria o cabelo de astro de filmes em preto e branco, o queixo com covinha e a jaqueta de couro descosturada. Ele era o cara que foi pego com um cassino clandestino na garagem de casa e de algum jeito conseguiu fugir dos policiais correndo pelos quintais dos vizinhos. Mesmo assim, um frame do seu rosto circulava pelos veículos de comunicação.

Essa manhã, assim que o viu parado do outro lado da rua, Monique soube que ele só queria uma coisa: dinheiro para fugir. Toda a vida de Júlio se baseava em pegar dinheiro emprestado e depois perdê-lo em apostas. E a adolescente daria todo dinheiro que tem se isso significasse se livrar dele.

— Tem certeza? Isso aqui não tem cara de escola. — Júlio se agachou olhando para a fachada do mercado.

Monique revirou os olhos.

— Aqui já tá bom. É só atravessar a praça da igreja e vou estar na escola. — ela tirou o cinto. Abriu a mochila e tirou de lá cinquenta reais.

— Só isso? — falou fazendo careta — Achei que o coroa que a sua mãe deu um golpe fosse rico.

— Ele não é nada meu! Não tem obrigação de me dar dinheiro! — e colocou a nota nas mãos do pai. Seu novo padrasto era juiz, um homem meio bobo próximo da aposentadoria. Só que de bobos os filhos deles não tinham nada e monitoravam todos os gastos do velho com sua nova esposa e a enteada.

A adolescente saiu do carro e tratou de soltar os longos cabelos castanhos acobreados. Tentando tapar o rosto. O pai resmungava alguma coisa sobre “velho sovina”.

— É isso, né? Já posso ir? — falou nervosa, a cada minuto aumentava as chances de ser vista.

— Espera! — ele esticou o braço — Não sei quando vou poder te ver de novo…

— Eu sei, pai. A polícia e tals, todo mundo sabe. — ela olhava de um lado para o outro.

— Só queria dizer que amo muito você. Independente de tudo. Do divorcio, das minhas brigas com a sua mãe…

— Tá, tá bom!

— Vem cá, garota — ele fez um gesto pedindo que Monique se aproximasse, e por um segundo a adolescente pensou que fosse ganhar um abraço de despedida. O pai nunca foi muito afetuoso. Parecia pensar nela como mais uma forma de ganhar dinheiro.

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