A história gira em torno de um grupo de adolescentes mergulhando nas reflexões do primeiro amor e na transformação pessoal que cada um pode experimentar. Através de suas experiências, o leitor é levado a uma viagem nostálgica, relembrando sua própri...
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"Are we still friends? Can webe friends?"
~Are We Still Friends? (Tyler, The Creator)
12 de Agosto - Segunda-Feira Daniel atravessou o gramado bem cuidado da propriedade onde mora enquanto o sol pincelava os telhados das casas com sua luz radiante. Cansado e pingando suor. Na academia todos admiravam sua disciplina constante e sequer imaginavam que treinar tinha se tornado para Daniel uma válvula de escape. O problema de ter dificuldade de falar sobre os próprios sentimentos é que em algum momento você acaba explodindo e no caso de Daniel ele explodia com os punhos. Pelo menos agora ele conseguia canalizar essa raiva entranhada em seu coração em algo muito mais saudável.
O trap soava alto em seus ouvidos através dos fones bluetooth quando abriu a porta e deu de cara com Cristina sentada no sofá de pernas cruzadas. Uma xícara repousava nos lábios enquanto lia alguma coisa no tablet. O adolescente e a mãe trocaram um olhar.
- Onde se meteu a noite inteira? - perguntou ao vê-lo descabelado e suado.
Daniel revirou os olhos.
- Nos meus lençóis - debochou.
- Não dê uma de desentendido...
- Eu saí cedo pra treinar como faço todos os dias! Mas é claro que você não sabe! - ele exaltou a voz. Não conseguia ter paciência com a mãe.
Daniel tirou a camisa regata pela cabeça e começou a subir às escadas.
- Me desculpe se não consigo ser mais presente na sua vida - a voz de Cristina pingava o mesmo tom de sarcasmo geralmente usado pelo filho. - Mas você também não colabora e a todo momento me critica, mas adora usufruir do que o meu dinheiro proporciona. Sabe de uma coisa Daniel, quem jamais ganhou dinheiro na vida não tem direito de criticar aqueles que trabalham pra isso.
- Que se foda!
Sua voz ecoou naquela casa grande demais, uma casa tão grande a ponto de ninguém poder sentir calor humano. A cabeça de Regina, a empregada, apareceu no corredor, curiosa com o que estava acontecendo.
- Espere, Daniel! Você não vai pra escola agora de manhã! - a mãe o informou.
O adolescente virou o rosto para encará-la.
- A nossa visita ao colégio militar está marcada para às nove horas. Portanto, tome café e se apronte.
Daniel resistiu ao impulso de dar meia volta em todo o caminho que fez até em casa, voltar para a academia e extravasar no saco de pancada até que tudo que está sentindo se acalmasse no peito.
A placa gigantesca com o nome da escola os recebeu enquanto se aproximavam dos portões. E Daniel já odiava esse lugar. O tal colégio fica na cidade vizinha de São Bento então Daniel e seus pais só precisaram de uma viagem de quarenta minutos para chegar até o local. Os alunos estavam em aula. Daniel espiou pela janelinha da porta e viu os adolescentes cabisbaixos, todos uniformizados de azul claro e vermelho, com uma boina ridícula na cabeça. Pareciam robôs com os olhos fixos no quadro. Ninguém conversava ou brincava.