A história gira em torno de um grupo de adolescentes mergulhando nas reflexões do primeiro amor e na transformação pessoal que cada um pode experimentar. Através de suas experiências, o leitor é levado a uma viagem nostálgica, relembrando sua própri...
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“Troubles coming but i still don't know when That's the voice that i can hear in my head I hear it over and over again”
~Trouble’s Coming (Royal Blood)
8 de Agosto - Quinta-feira por volta do meio dia
Samuel sentou à pequena mesa, sentindo-se desconfortável. Desejava estar em outro lugar. Um restaurante mais simples ou uma padaria com bufê de self service. Mas quando sugeriu a Cristina que se encontrassem para uma conversa, a amiga de longa data insistiu em levá-lo para almoçar em seu restaurante favorito.
O grande salão de altura dupla, localizado numa área nobre de São Francisco do Sul, impressiona com sua modelagem elaboradamente decorada. Estruturas expostas e janelas do chão ao teto escultural folheado a ouro, aumentam o charme desse espaço. Samuel encarou a fileira de talheres sem saber por onde começar.
— Comece com os talheres posicionados de fora para dentro. — Cristina falou, sem tirar sua atenção do cardápio que tinha em mãos. Sempre foi uma mulher bonita, mesmo quando Samuel, Ulisses e ela eram universitários e dividiam um cachorro quente em três partes para comer sentados no meio fio vendo os carros passarem. Mas ter muito dinheiro pareceu aumentar seu charme natural.
Seu cabelo dourado tinha cheiro de salão. O vestido preto de lã e golas arredondadas caía perfeitamente no corpo magro de praticar pilates, como se tivesse sido feito sob medida para ela. Até a pele de Cristina tinha um brilho diferente. Ela se encaixava perfeitamente nesse ambiente intimidante.
Samuel suspirou. Ele só queria ter uma conversa como antigamente. Seria pedir demais eles só pedirem um arroz com feijão e bater papo como nos velhos tempos?
— De entrada traga salada de rabanete com avocado, alface e molho de limão. — Cristina dizia ao garçom que anotava tudo numa velocidade impressionante. — Traga também esse peixe com molho de alho poró, purê de…
Samuel encarou o copo de cristal com vinho do porto e água tônica. Pensando que se sentiria menos deslocado se Marcelle tivesse aceitado vir junto, mas segundo ela mesma tinha coisas importantes para resolver. Ultimamente a esposa andava tão estranha como se escondesse algo dele. Ele tombou a cabeça para trás bebendo metade num gole só. Era leve e gostoso, batia no cérebro incrivelmente rápido. Podia beber uns quatro copos cheio disto e nem se dar conta.
— Não sabe como fiquei feliz quando você ligou, Sami. Você é a única pessoa que me escuta. — Cristina começou a dizer assim que dispensou o garçom. — Minha vida está de cabeça para baixo!
— Aconteceu alguma coisa? — Samuel sabia que podia estar cometendo um grande erro, mas precisava perguntar.
— Meus filhos me enlouquecem! O Daniel principalmente! Estou dando o meu melhor, mas ele não entende que tenho compromissos de trabalho e uma vida social, não posso me dar ao luxo de ficar com Sarah o tempo todo. É para isso que pago a terapia dela! Sinceramente não sei o que fazer para esse menino me amar… — ela piscou várias vezes, espantando lágrimas invisíveis.
