A história gira em torno de um grupo de adolescentes mergulhando nas reflexões do primeiro amor e na transformação pessoal que cada um pode experimentar. Através de suas experiências, o leitor é levado a uma viagem nostálgica, relembrando sua própri...
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"I try to make my way to you But still i feel so lost I don't know what else I can do" ~ Take Me Away (Lifehouse)
20 de Junho - Domingo
Lis mal conseguiu dormir a noite, e sua aparência mostrava bem isso. Os cabelos ondulados eram um emaranhado de nós. Os olhos inchados denunciavam que tinha chorado. A garota passou a noite encarando o teto, ouvindo o estrondo em seu coração que dizia uma única palavra: Daniel. Se ao menos tivesse conseguido falar sobre seus sentimentos estaria mais segura, porém nem isso tinha feito direito. Ela não passava de uma criança covarde e medrosa.
Após o banho, vestiu uma blusa preta com gola Peter Pan e saia plissada. O cabelo está tão zoado que a única forma de ficar minimamente bonito é com um coque trançado. No espelho só o que vê é a imagem da derrota, mas pelo menos está bem vestida para a catequese.
— Bom dia, minha filha! — Samuel, o pai, diz enquanto passa o aspirador nos degraus. Seus cabelos escuros, sempre desordenados, estão grudados na testa suada.
Lis escuta a irmãzinha gritar na cozinha enquanto a mãe tenta lhe dar o que comer.
— Bom dia, pai — fala desanimada e ele percebe.
— Noite ruim?
A bebê grita mais uma vez. Lis aproveita para fugir da conversa.
— Acho melhor ir ver o que tá acontecendo — ela diz. Samuel ajeita os óculos percebendo a estratégia da filha, mas decide não pressioná-la. Sempre tiveram um ótimo relacionamento, conhece a filha como a palma da sua mão, sabe que mesmo que demore ela irá falar o que está sentindo. Quando Lis toma decisão sobre alguma coisa não desisti fácil.
— Adele deve estar querendo abraçar o mundo com as mãos — ele sorri. Na cozinha a criança de três anos chora e esperneia, recusando-se a comer o que lhe é oferecido.
— Papai! Papai! — choraminga quando Samuel passa pela porta da cozinha americana. O cômodo é pequeno, tem uma mesa redonda com quatro cadeiras, um armário com nicho para micro-ondas, fogão e pia. A casa é antiga, pertenceu aos pais de Samuel e ficou de herança para ele após o falecimento de ambos.
Lis olha para a mãe que parece prestes a explodir cobrindo parcialmente o rosto.
— Você pode dar a comida dela enquanto vou com Lis para a igreja? — pergunta ao marido, após uma respiração funda. Marcelle teve depressão pós parto e os resquícios ainda respingam em seu dia a dia. — Espero você terminar de aspirar.
— Pode ir. Eu dou conta de tudo — Samuel pegou a vitamina de abacate que a esposa oferecia com pão de leite, e a pequena instantaneamente abriu um sorriso. Ele faz parecer tão fácil.
Marcelle os observou. Sorridentes, demonstrando um grande afeto um pelo outro.
— Claro que você dá conta, afinal é uma mãe muito melhor do que eu — Lis não soube dizer se o rancor na voz dela foi intencional.