Eu fui para escola no outro dia, quinta-feira, e enquanto eu andava ao lado de Haru parecia que havia nascido outra cabeça em mim.
Todos sem exceção olhavam em minha direção, me deixando extremamente desconfortável.
Algumas pessoas até vieram dizer " um sinto muito", tenho certeza que metade delas julgou a foto que saiu antes de saber a versão real da mesma.
Bom, como não quero me martirizar para sempre pelo que aconteceu, me despeço de Haru que vai para a aula de dança dela, enquanto me encaminho até a minha de fotografia.
Ao chegar no Studio que é dada as aulas, me sento na primeira cadeira que vejo, a que consequentemente fica bem ao lado de Otávio. O garoto sorri para mim e mesmo sem jeito retribuo.
- Eu sei que você não deve ter gostado do que eu fiz, mas saiba que era o que deveria ser feito. - Seu tom sério me surpreende.
Talvez ele só queria se desculpar por ter me assustado na aula de teatro.
- Tudo bem, já foi. - É o que digo vendo o mesmo assentir.
O professor logo começa a falar o que quer para essa aula, e é quando me lembro que estou sem a máquina fotográfica do Gabo.
- Sim, Lorena? - O professor para a explicação quando levanto a mão para pedir a vez de falar.
- Eu não trouxe a câmera hoje. - O aviso meio acanhada.
- Justo hoje? Na segunda eu estava pensando em expor as fotos que vocês vão tirar hoje, mas tudo bem, eu tenho uma reserva que posso emprestar. - Respiro aliviada por não ter levado uma bronca maior.
Quando estou prestes a agradecer alguém bate na porta, o professor vai atender a primeiro instante não consigo identificar quem é até escutar meu nome, ou melhor meu apelido, sendo pronunciado por ele.
- Lorena não precisa se preocupar o seu namorado veio trazer a câmera, quer vir falar com ele? - O homem que me ensina praticamente grita para que todos escutem.
O que gera um burburinho, com comentários de eu e o Gabo ainda estarmos juntos, pois ninguém nos viu próximos nas aulas mais cedo. Evitei o moreno o tempo inteiro, durante a manhã.
- Não precisa, obrigada. - É a única coisa que consigo dizer.
O professor me entrega a câmera, eu o agradeço e assim voltamos ao curso da aula normal, não tão normal assim pois saímos pelos arredores da escola para tirar fotos para exposição na segunda.
🌻🌻🌻
Eu passei o resto da semana ignorando Gabo, justamente o final de semana também. Passei ele com Haru, Nick e a família coreana dela.
O loiro e Gabriel por sinal estão com a amizade estremecida. Já falei para o namorado da minha amiga e meu melhor amigo que ele não precisa tomar minhas dores, mas ele não me escuta.
Conseguimos falar finalmente com o doutor Miguel, que já está a par de tudo que aconteceu. Infelizmente o médico só poderá vir no próximo fim de semana, então até lá ficarei na casa das mães de Haru.
Mesmo elas não se sentindo incomodadas com a minha presença, sinto que estou atrapalhando a rotina familiar delas. É horrível sentir uma penetra, mesmo sendo bem tratada, ser incluída em todas as conversas, ajudar no que posso nos afazeres de casa apesar da delas insistirem que não precisa, ainda assim me sinto como um peixinho fora d'água.
🌻🌻🌻
Bom, agora estou aqui novamente junto com a minha turma de fotografia, ajudando o professor a montar a pequena exposição no pátio da escola. Ele escolheu de três a duas fotos de cada aluno, mesmo não estando tão animada me sinto grata por ver as que eu tirei sem ajuda ou dica dele, pois mesmo queria realmente algo cru editado por nós sem a sua ajuda.
- As suas estão incríveis. - Otávio diz aparecendo ao meu lado do nada, enquanto ponho uma das três minhas que foram escolhidas no apoiador.
- Obrigada, as suas também não ficam atrás. - Digo vendo as delas que tem como plano a flores e árvores do colégio.
- As minhas são boas, mas as suas transmitem sentimentos, sabe? Tipo essa daqui. - Ele aponta para a primeira que foi posta no apoiador. - Ela passa um sentimento de solidão. - A foto mostra os meus pés pisando um dos gramados do colégio ela está um preto e branco, além de meio desfocada.
- Não exagera. - Digo soltando um riso soprado.
- Pode perguntar ao professor ele vai dizer a... - Otávio para o que estava falando fixado o olhar em algo atrás de mim.
Lentamente me virei dando de cara com um Cabo empurrado, de braços cruzados, enquanto nos observa.
Ele não está com ciúmes, está?
- Estou atrapalhando? - O mais alto pergunta me fazendo revirar os olhos.
- Está, e se nos der licença. - Término de por a última foto no apoiador e saio puxando Otávio comigo para perto de onde o professor está.
Mesmo querendo ficar perto do Gabo, beijá-lo novamente me sinto tão perdida e irritada que acho melhor me manter o mais distante possível, pelo menos até eu restabelecer os meus pensamentos.
- As suas fotos são lindas, amiga. - Haru fala me abraçando, depois que veio até onde estou parada ao lado das minhas "obras".
- Está mesmo, amei essa daqui. - Nick fala apontando para uma do sol também em preto e branco.
- Obrigada, é muito bom ter o apoio de vocês dois. - Digo abraçando eles ao mesmo tempo.
Sinto dois par de olhos em nossa direção, assim que levo o meu olhar para um pouco mais a frente vejo Gabo sozinho nos observando.
- Ele tem que aprender que a gente tem que saber todos os lados de uma história se quiser julgá-la. - Haru fala quando percebe que os meus olhos já não estão mais nela e no seu namorado.
- Eu sei, mas vocês não precisam parar de falar com ele, só estou me dando o meu tempo talvez depois conversarei com o mesmo. - Digo me sentindo um pouco mal com a situação.
- Nós sabemos o que fazemos Lola, não se preocupe. - Nick é quem diz encarando o amigo mais a frente.
Gabo logo sai das nossas vistas, então me forço a me concentrar nas outras pessoas que se aproximam para ver melhor as fotografias, ainda com o casal ao meu lado.
Depois de um tempo, quando já estamos desmontando tudo, um som começa do nada nos altos falantes da escola.
A melodia é lenta, quase nos compassos de uma valsa, até que uma voz que reconheceria mesmo depois de séculos sem escutá-la, soa doce e emocionante.
Gabo está cantando mais uma de suas músicas que eu nunca havia escutado, meu coração acelera ao ponto de eu pensar que estou tendo um infarto. Olho para os meus amigos que já estão me fitando de volta, eles entenderam assim como eu entendi que a música é para mim apenas pelo que diz a letra dela.
"Seu olhos verdes, sua boca rosada, é tudo que me faz querer viver"
Lágrimas começam a brotar inconvenientemente em meus olhos, e é quando escuto meu nome ser dito pela voz aparentemente embargada do moreno saio correndo em direção ao banheiro mais próximo.
Me tranco na primeira cabine que vejo, me sentando na privada que está com a tampa fechada, um soluço de choro sai pelos meus lábios.
Me sinto um girassol sem a luz do sol nesse momento.
Por que eu gosto tanto dele?
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Ele me "odeia" ama
Genç Kurgu《Livro único》 Entre girassóis e outras coisas... Lorena Bernard de Lara, ou Lola para todos, é uma garota que viveu a vida inteira com os avós, enquanto sua mãe trabalhava na cidade mais próxima. Ela vê tudo mudar quando seu avô fica doente, depois...