26 A 27 DE ABRIL DE 1985
Marine Hedge tinha pouco mais de 1,50 de altura e pesava por volta de 45 kg. Era uma avó de 53 anos com um sotaque sulista que escorria de sua língua como melado pingando lentamente de uma colher.
Gostava de jóias, de se vestir com esmero e de encher o armário com sapatos que combinavam com todas as roupas. Ela fazia com que ser baixinha fosse elegante. Preferia cozinhar tudo do zero e ensinava as jovens noras a fritar bolinhos e bagres do jeito que aprendeu quando ainda era pequena Marine Wallace, uma garotinha do Arkansas.
Seu marido, um funcionário da empresa de aviação Beechcraft, morrera em 1984, o que fazia se sentir solitária em sua casa, no numero 6254 na Indepedence, na cidadezinha suburbana de Park City, na região de Wichita. Lidava com a perda se dedicando aos outros: aos amigos,ao filho, as tres filhas, e aos netos. Gostava de ver os clientes que costumava atender na cafeteria do Centro Médico Wesley, onde trabalhou por mais de dez anos no turno da tarde e da noite. E havia o bingo e as amizades na Igreja Batista de Park City.
Rader cronometrava as idas e vidas de Hedge, ficava atento a presença de homens por perto e até mesmo visitava a cafeteria do Wesley, onde descobriu que ela entrava as 14h e saia por volta da meia noite.
Ele sabia que poderia ser uma má ideia matar alguém que morava a seis casas de distancia da sua. Porém estava mais preguiçoso do que na época em que perseguira Nancy Fox e depois de estudar o que se sabia até então sobre os assassinos em série, queria ridicularizar o trabalho dos especialistas em perfis do FBI.
Provavelmente são solitários. Não constumam ser pais de família. Assassinos em série não conseguem parar de matar.
Nada disso se aplicava a ele. Então provaria que estava, errados de novo. Mataria em sua própria vizinhança, no quarteirão onde morava, vitimando uma senhorinha que conhecia bem o bastante para cumprimentar quando ele e a esposa passavam pela casa dela no caminho para a igreja.
Os especialistas em perfis estavam certos sobre uma coisa: assassinos em serie sentiam compulsoes. Nos onze anos desde que matara os Otero, Rader seguira centenas de mulheres, em Wichita e em cidadezinhas por todo estado do Kansas, enquanto viajava a serviço da ADT - e como viria a fazer em 1989, quando trabalhou para o US Census Bureau como supervisor de pesquisa de campo do serviço de recenseamento na região de Wichita.
Em 1985, estava cansado de sair para pescar, de explorar becos, de planejar rotas de fuga. Escolheu uma vizinha em parque porque ela era conveniente.
Mas nunca tinha se cansado da empolgação que esses projetos lhe proporcionavam. Portanto, ainda estava disposto a não poupar esforços para transformar a fantasia em realidade. Para aquele assassinato - o projeto cookie-, ele planejou um álibi elaborado. Usaria uma viagem de escotismo com o filho como fachada.
***
No acampamento TaWaKoNi, a mais ou menos 32 km de casa, eles armaram as barracas. Tinha chovido, e o terreno estava encharcado. O filho adorava coisas ade escoteiro. Anos depois, viria a dizer que o pai sempre tinha sido seu melhor amigo.
No acampamento, depois do cair a noite, Rader disse aos demais pais dos escoteiros que estava com dor de cabeça. Vou cedo para a barraca informou. Assim, conseguiu se esgueirar para longe; deixando o filho com os outros escoteiros e os respectivos pais.
***
Ele dirigiu mais ou menos 5 km para o oeste, no sentido de sua casa. Em uma estrada vicinal perto de Andover, a leste de Wichita, parou para retirar o kit de ataque de sua sacola de boliche. Despiu o uniforme de escoteiro e vestiu roupas escuras. Em seguida, rumou para o nordeste de Wichita. Perto das lojas de Brittany Center, estacionou na frente de um boliche e fingiu se embebedar. Espirrou cerveja no rosto e nas roupas depois chamou um taxi. Colocou sua sacola com o kit de ataque ao seu lado no assento.
Eu estava na farra com o pessoal, contou ao motorista. Não tenho como ir dirigindo para casa.
Quando chegaram a Park City, pediu ao motorista para deixa-lo em West Parkview, um quarteirão a leste da independence.
Preciso dar uma caminhada, disse ao motorista. Transpirar para me livrar de todo esse álcool.
Estava falando enrolado para enganar o motorista. Se aquela viagem, por acaso, fosse mencionada em uma investigação, o taxista se lembraria apenas de um jogador de boliche bêbado usando roupas escuras, e não do pai de um escoteiro que dormia em uma barraca em TaWaKoNi, 32 km a leste dali. Se fossem interrogado, os pais dos escoteiros diriam que ele ficou na barraca a noite toda por causa da dor de cabeça.
Ele pagou o motorista e caminhou pela própria vizinhança; saberia como andar por ali até dormindo. Atravessou um parque, depois passou pelo quintal dos fundos dos sogros - e então foi até a casa de Marine Hedge.
Ver o carro dela o incomodou - Marine ja devia estar em casa. Sua intenção era se esconder dentro da casa e surpreende-la quando ela chegasse. E esperava que estivesse sozinha.
Ele cortou o fio da linha telefónica com um alicate e não se apressou na hora de executar o arrombamento, tentando agir em silencio. Conseguiu abrir a porta pouco a pouco, com uma chave de fenda de cabo longo. Quando se esgueirou para dentro, descobriu que ela não estava em casa.
Alguns minutos depois, porem, ouviu a porta de um carro bater, em seguida, vozes - a dela e a de um homem. O BTK se escondeu em um closet, praguejando contra sua má sorte. Esperou por uma hora, enquanto os dois conversavam. O homem foi embora; Marine foi se deitar.
Ela acordou quando Rader subiu em sua cama.
***
O chefe de policia de Park City, Ace Van Wey, e um agente do controle de zoonoses chamado Rod Rem a encontraram nove dias depois. Seu corpinho fora escondido sob a vegetação rasteira em uma vala umida da Fifty-third Street North, na parte nordeste de Wichita. O cadáver estava se decompondo e fora atacado por animais. O monte Carlo furtado de Marine fora encontrado no Brittany Center, em Wichita. Sua bolsa, sem nenhum documento de identificação, estava a quilómetros de distancia. Ela fora estrangulada. Um laço feiro com uma meia calça cheia de nós foi encontrado perto do corpo. Quando os policiais de Wichita tomaram conhecimento do caso, pensaram em BTK, cujo ultimo assassinato fora cometido em dezembro de 1977. Mas, ate a onde a policia sabia, o BTK nunca matara ninguem fora de Wichita, nunca atacara ninguem com mais de 38 anos, nunca levara um corpo para fora de casa. Além disso, parecia se concentrar em endereços com o numero 3; Marine morava no numero 6254 da Indepedence, em Park City. O fio de telefone cortado chamou a atenção , mas aquele caso não batia com as informações wue tinham sobre o BTK.
***
Depois que o corpo de Marine foi encontrado, os vizinhos de Rader em Park City começaram a expressar seus temores em suas conversas. Ele se perguntou o que aquelas pessoas teriam pensado caso se soubessem da história toda - o que fizera com Marine depois de mata-la. Rader arrastara o corpo nu até o carro dela, embrulhando em colchas. Era uma mulher bem miudinha, mas ele quase não foi capaz de levanta-la. Depois que a enfiou no porta malas, dirigiu ate sua própria congregação religiosa, a igreja Luterana de Cristo, onde passara inúmeros domingos fingindo ser um cristão.
Prendeu plástico preto nas janelas com fita, para bloquear a lanterna que ascendeu. Tinha escondido o plástico na igreja antes de viajar para o acampamento dos escoteiros.
Dentro da igreja, ele brincou de Deus: manipulou seu corpo, calçou sapatos de salto alto em seus pés frios, posicionou seu cadáver em posições obscenas e tirou fotos das quais poderia desfrutar mais tarde.
Só então a levou até um local isolado e a descartou.
Aquela altura, já estava perto de amanhecer, e ele precisava correr de volta para os escoteiros. Largou o Monte Carlo dela no Britany Center com um certo pesar - era um carro bacana - e dirigiu o próprio veiculo de volta ao acampamento. Rader se levantou naquela manhã junto com todos os outros.
Quando ouviu boatos entre os vizinhos dizendo que talvez o namorado de Marine Hedge a tivesse matado, ele se pronunciou.
Não, foi o que disse. Não pode ter sido ele.
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BTK MÁSCARA DA MALDADE
RandomUma obra escrita Roy Wenzl, Tim Potter, Hurst Laviana, L. Kelly. Editora Darkside