37. MARATONA DE COLETAS

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MARÇO E ABRIL DE 2004

Nas primeiras 24 horas após a publicação do artigo do Eagle, a policia recebeu mais de trezentas denúncias. Nas 24 horas seguintes, mais setecentas. Landwehr teve cinquenta policiais, a maioria detetives, designados para força-tarefa nos primeiros dias. Além de investigar as denúncias, a policia localizou dezenas de milhares de páginas de documentos dos trinta anos anteriores, e o trabalho dos investigadores era coordenado por meio de uma enorme tabela.

A unidade de arquivos mortos do KBI começou a escanear dezenas de milhares de páginas de antiga anotações, fotografias e documentos dos arquivos do BTK e as 37 caixas de material investigativo acumulado desde 1974. O KBI e o FBI transformaram tudo em um enorme banco de dados pesquisavel. O trabalho levaria oito meses.

"As pessoas dos arquivos mortos do KBI foram incríveis no que fizeram", Landwehr reconheceriam mais tarde. "E não pediram porcaria nenhuma em troca."

Nola Foulston, a chefe do gabinete da promotoria do condado de Sedwick, enviou ajuda. Os policiais precisariam coordenar muitas de suas ações com os promotores, caso houvesse uma prisão. Ela designou Kevin O'Connor para acompanhar a força tarefa de Landwehr, dia e noite se fossem preciso, e para fornecer aconselhamento legal quando necessário. "De agora em diante, voce é o escravo do Kenny", disse a O'Connor.

O'Connor apurou se o BTK poderia ou não ser condenado a morte caso os policiais o capturassem. Para sua decepção, descobriu que o Kansas não tinha uma lei de pena capital em vigor nos anos em que o BTK cometera seus assassinatos.

***

Tres dias depois de receber a carta do BTK, Landwehr foi até a casa de Paul Holmes, o caça fantasmas aposentado.

"Uau!", exclamou Holmes quando viu a carta. Então voltou a perguntar: "O que posso fazer para ajudar?"

Landwehr não queria pedir nada. Holmes estava trabalhando junto com o irmão como empreiteiro. Por outro lado, tinha ajudado a criar gigantescos arquivos nos caça fantasmas, que a nova força tarefa precisaria reexaminar; ele fora o policial mais metódico e organizado em suas anotações que Landwehr conhecera. E sabia como ficar de boca fechada.

"Sabe", disse Holmes,  "eu trabalhei bastante naqueles arquivos. Posso ajudar bastante com isso."

"Sei que pode", falou Landwehr. "Mas voce sabe que não temos nenhum dinheiro para pegar por algo assim."

"Não estou nem ai para isso", garantiu Holmes.

***

Relph, Gouge, Otis, Snyder e Landwehr sabiam que algumas policiais aposentados se sentiam mal por não terem capturado o BTK.  Os mais velhos costumavam perguntar: "Deixamos alguma coisa passar? Deixamos de fazer alguma coisa que deveríamos ter feito?"

Landwehr achava que não. Mas, no dia em que a matéria de Laviana foi publicada no Eagle, o repórter encontrou Bernie Drowatzky trabalhando como chefe de policia na cidadezinha de Kaw City, em Oklahoma. Drowatzky mencionou essa questão da culpa: "Acho que existe alguma coisa em algum lugar que deixamos passar que irá nos levar a ele".

Otis não era de beber muito, mas achava que se tornaria um alcoólatra se aquilo durasse muito. Quase não dormiu nas primeiras duas semanas. Acordava no meio da noite, e seu cérebro já começava a funcionar. Ele preparava um bule de café, se vestia, pegava o carro e ia para o trabalho.

Gouge conseguia dormir melhor e não se afligia tanto, mas se sentia grato por ter Landwehr cuidando das coisas. O tenente não ficava no pé nem duvidava da capacidade dos detetives e, embora houvesse uma enorme pressão externa para encontrar o BTK, ele a mantinha longe dos investigadores. Gouge acreditava que a investigação se transformaria em um desastre bem depressa, caso outra pessoa que não fosse Landwehr estivesse no comando.

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