50. DEMONIOS DENTRO DE MIM.

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Os telefones da redação da KAKE não aceitavam ligações a cobrar portanto, todos os tres ancoras da emissora tinha incluído seus telefones residenciais nas cartas pedindo que Rader conversasse com eles.

Quando escreveu para Rader, Larry Hatterber ja estava trabalhando no caso havia 31 anos. Tinha 23 quando fez uma reportagem em frente a casa dos Otero, em 1974. Estava com 59 anos quando ajudou a noticiar o retorno do BTK, em 2004.

Durante anos, trabalhara nas vinhetas de tres minutos chamadas "Hatterbergs People" em seu escritório residencial. Gostava de ficar sozinho e tinha cameras e equipamentos de edição melhores que os estúdios da KAKE. Ainda assim, não estava preparando quando seu telefone tocou, as 10h20 do dia 2 de Julho, um sábado, interrompendo sua degustação de um Americano grande da Starbucks no deque do quintal dos fundos. Do outro lado da linha, uma gravação lhe perguntou se aceitaria uma ligação a cobrar da penitenciaria do condado de Sedwck. Ele disse que sim. Então uma voz falou.

"Aqui é Dennis L. Rader."

Hatterberg de repente ficou nervoso. Aquela era a primeira entrevista do BTK para a imprensa. O jornalista deixara a maioria de suas anotações na KAKE, não estava com seu equipamento de gravação ligado e sentiu um pouco de medo de dizer algo idiota para um assassino em série, como "que bom falar com voce" ou "obrigado por ligar."

Portanto, Hatterbertg decidiu se arriscar. pediu para Rader ligar de volta em alguns minutos, para que preparasse seu gravador. Rader concordou, e nos instantes que se seguiram Hatterberg ficou angustiado, com medo de ter perdido a entrevista. Mas Rader ligou de volta; parecia ansioso para falar.

Com a voz comedida e calorosa que Rader ouvira saindo da sua televisão havia décadas, Hatterber perguntou a respeito da recitação dos crimes do BTK no tribunal, cinco dias antes: "Parece que voce agiu com uma incrível frieza a esse respeito e falou sobre isso do mesmo modo que falaria sobre produtos em um mercado. Poderia fazer algum comentário sobre isso?"

Durante aproximadamente trinta segundo , Rader divagou da mesma forma peculiar com quem se comportara na audiência, tentando sair pela tangente, mas depois se acalmou.

"Eu estava totalmente despreparado para o que o tribunal me perguntou. Fiquei um pouco chocado que a defesa não tinha se adiantado e me dado tapinhas no ombro para dizer ' vamos reconsiderar isso' ou para se aproximar da bancada."

"Na prática eu falei sem pensa. Percebi que fui frio e tudo mais, mas eu só queria apresentar os fatos o mais rápido possível, tentar não me envolver muito emocionalmente. Se eu me sentar e de fato se alguém se sentar comigo em uma sala e nós começarmos a falar sobre os casos, eu fico bastante emotivo. Até mesmo agora minha voz está um pouco embargada."

A voz dele, porém, não estava embargada.

"Está sendo uma coisa muito difícil para mim."

Então o homem que escrevera em 1978 "quantas eu preciso matar paa ter meu nome no jornal ou receber alguma atenção nacional" disse a Hatterberg: "Acho que o principal é que eu quero que as pessoas do condado de Sedwick e dos Estados Unidos e do mundo saibam que eu sou um assassino em série.

"Existem algumas coisas que voce pode aprender com isso. Não estava tentando tirar proveito de nada. Vou pagar pelo que fiz com uma sentença de prisão perpétua."

Hatterberg perguntou: Voce sente algum remorso pelos assassinatos?"

"Sinto, sim (...) Eu culpo o Fato X", disse Rader, uma referencia a sua carta 1978. "Não faço ideia. Eu sou muito compartimentado. Posso viver uma vida normal, trocar depressa de uma marcha para a outra. Acho que é por isso que sobrevivi tão bem durante esses 31 anos, muito compartimentado. Posso ter muitas facetas. Posso trocar de marcha bem depressa. Posso me tornar emocionalmente envolvido; posso me tornar frio. Isso é algo que eu talvez venha a entender afinal, se algum dia vier a entender; é um mistério."

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