6. O MONSTRO COMO MUSA

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OUTUBRO DE 1974

Vários meses depois dos assassinatos dos Otero, tres sujeitos tagarelas que cumpriam pena de prisão começaram a insinuar que conheciam os detalhes dos crimes. Os investigadores logo perceberam que era papo furado, mas nao antes que a historia fosse publica no Eagle.

Essas especulações aborreceram o único homem que conhecia a verdade. E ele queria receber os créditos.

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Alguns dias depois da publicação da matéria, o colunista do Eagle Don Granger recebeu um telefonema.

"Escute aqui, e com bastante atenção", disse uma voz rouca. "Eu só vou dizer isso uma vez."  O homem tinha um sotaque do Centro-Oeste com um tom firme e agressivo, como se gostasse de dar ordens. "Tem uma carta sobre o caso Otero em um livro na biblioteca pública", informou. Ele revelou a Granger qual era o livro, depois desligou.

Granger sabia por que o telefonema tinha sido para ele. Meses antes, o Eagle oferecera 5 mil dólares para qualquer um que fornecesse informações úteis a respeito do caso da família Otero. Granger havia se oferecido para atender as ligações.

No entanto, o homem que fez o telefona nao mencionou a recompensa.

***

O Eagle fizera um pacto com as autoridades policiais de acordo com seus editores consideravam ser mais benéficos para a comunidade a época: seria estabelecido um programa de "Testemunha Secreta" para obter e transmitir as informações que o jornal recebesse a respeito do assassino dos Otero. Respeitando o que havia sido acertado, Granger ligou para a policia logo depois de receber a estranha ligação. Anos mais tarde, alguns repórteres e editores viriam a criticar sua conduta, dizendo que Granger deveria ter pegado a carta primeiro e feito uma cópia para o jornal, mas na década de 1970 a direção do Eagle achava que ajudar a capturar o assassino era mais importante do que conseguir um furo - ou desafiar as táticas investigativas.

Bernie Drowatzky encontrou a carta no exato lugar onde o homem que ligara para Granger disse que ela estaria, dentro do livro Applied Engineering Mechanics. Drowatzky levou o documento para o chefe de policia Floyd Hannon. O texto continha tantos erros gramaticais que alguns policiais acharam que quem redigiu tinha alguma deficiência mental, ou então estava tentando disfarçar seu estilo de escrita.

Escrevo esta carta em prol dos contribuintes assim como de seu tempo. Aqueles tres caras que voces tem em custodia só estão falando para conseguir publicidade pelos assassinatos dos Otero. Eles não sabem de nada. Eu fiz aquilo sozinho e sem ajuda deninguem. Tambem nao teve nenhuma conversa sobre isso. Vamos esclarecer os fatos.............

A  carta então descrevia com precisão as posições dos corpos de todas as quatro vitimas, e identificativa a corda, o fio, e os nós que as prendiam. As anotações sobre Josie Otero na carta, por exemplo, informavam:

Josephine: Posição: pendurada pelo pescoço na área noroeste do porão. Secadora ou freezer a norte do seu corpo. Amarraras : Mão amarrada "cum"fio de persiana. Pés e partes inferiores dos joelhos, parte superior dos joelhos e cintura com corda de varal. Tudo do mesmo cumprimento. Garrote: Corda de cânhamo 1/4 de diâmetro, nó de forca, com quatro ou cinco voltas. Nova. Roupas: Escuras, sutiã cortado no meio, meia. Morte: Estrangulamento uma vez, enforcada. Comentários: Resto de roupas dela no pé da escada, calça verde e calcinha. O óculos dela no quarto sudoeste.

A Carta continha detalhes que apenas a policia e o assassino conheciam. O escritor parecia confirmar a suspeita de Cornwell de que o criminoso havia torturado os Otero: ele afirmava que havia estrangulado Julie duas vezes.

Sinto muito que isso acontece com a sociedade. São eles que sofrem mais. Difícil me controlar. Voces provavelmente me chamam de "psicotico com perversão sexual por enforcamento". Onde esse monstro entra no meu cerebro eu nunca vou saber. Mas ele aqui para ficar. Como alguém pode se curar? Se voce pede ajuda, que voce matou quatro pessoas, eles dão risada ou apertam o botao panico e chamam os tiras. Nao posso parar assim, o monstro segue em frente,e me machuca a sim como a sociedade. A sociedade pode ficar agradecida de haver maneiras para pessoas como eu se aliviares as vez fantasiando com alguma vitima sendo torturada e sendo minha. É um jogo grande complicado meu amigo do monstro brincar de diminuir o numero de vitimas, seguir elas, dar uma olhada nelas esperando no escuro, esperando, esperando........ a pressão e grande e as vezes ele joga o jogo do jeito que quer. Talvez voces podem impedir ele. Eu nao consigo. Ele ja escolheu a proxima vitima ou vitimas eu ainda nao sei quem elas são. No dia depois que eu ler o jornal eu vou saber só que tarde demais. Boa sorte na caçada. ATENSIOSAMENTE, VERDADEIRAMENTE CULPADO

(a escrita foi escrita exatamente como o livro, os erros ortográficos foi obra do assassino)

A carta deixou os investigadores doentes de raiva. Eles vinham fracassando em capturar o assassino havia nove meses, e ele ainda dizia que iria matar de novo. Tinha até inventando um nome para si, como se fosse um novo Estrangulador de Bostou ou Jack, O Estripador

P.S : Como criminosos sexuais não mudam o modus operandi ou por natureza não consegue fazer isso, eu não vou mudar o meu. As palavras  chaves para mim vao ser..... amarrar, torturas, matar. BTK. Voces vao ver elas em ação de novo. Elas vão estar na próxima vitima.

A carta era uma pista, mas Hannon - que em janeiro conversara com repórteres duas vezes ao dia com atualizacoes sobre o caso - a manteve em segredo naquele momento. Ele achava qiue difundir aquele conteúdo poderia deixar as pessoas em panico e fornecer instruções detalhadas para eventuais imitadores. E tambem temia que a publicidade viesse a instigar o BTK  a matar outras vez.

Alguns policiais sugeriram que o egocentrismo evidente do BTK poderia ser usado contra ele, e telefonaram para os editores do Eagle.

Alguns dias depois, o Eagle começou a publicar um anúncio pessoal:

BTK:

Há ajuda disponível

O anúncio fornecia um número de telefone e, por uma questão de conveniência, pedia que o BTK ligasse antes das 22h.

A policia também conversou com Granger.

Pouco dias mais tarde, na manhã de Halloween, o Eagle publicou uma coluna escrita por Granger, um tanto escondida na página 8D que se tornou a primeira menção ao BTK nos noticiários. No texto, Granger nao mencionou que recebera um telefonema nem que a policia tinha uma carta. O jornal sabia mais a respeito do caso do que estava publicando, mas isso mantinha o sigilo desejado pela policia, uma decisão que mais tarde alguns repórteres vieram a criticar. Granger apenas pediu que o BTK ligasse para ele.

Ao longo da última semana, a policia de Wichita vem tentando entrar em contanto com um homem que possui informações importante a respeito do caso do assassinato dos Otero - um homem que precisa de ajuda com urgência. O leitor pode ter notado um anuncio nos classificados publicado no topo da nossa coluna "pessoal" na sexta feira, sábado, domingo, segunda, terça. [...] Realmente existe um BTK. A autoridades policiais nao podem revelar como sabem disso, mas estao convencidas de que o BTK tem informações a respeito dos assassinatos de Joseph Otero, de sua esposa e de dois de seus filhos. [...]

Granger informou que o numero de telefone no anuncio estava sendo monitorado por "policiais prontos para ajudaram o BTK"

Havia uma alternativa,Granger destacou. O colunista estava disposto a conversar pessoalmente com o BTK, e para demonstrar sua solicitude forneceu o numero dos telefones de seu escritório e de sua residência. 

Isso pode me expor a uma boa quantidade de trotes e pegadinhas, mas o incomodo valerá a pena, se ao menos conseguirmos proporcionar ajuda a um homem perturbado.

O BTK nao entrou em contato. Rader estava mais ocupado do que nunca. Alguns dias depois da publicação da coluna de Granger, o BTK foi trabalhar para a empresa de alarmes de segurança ADT.

Depois dos assassinatos dos Otero e de Bright, a ADT vinha prosperando com as instalações de alarmes residenciais. O novo emprego colocava o BTK dentro de casas com instalador.

Rader se divertia com a ironia.  





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