24. O SALVADOR

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1988 A 1990

Aquela altura, pessoas como Cindy Hughes haviam se esquecido do BTK, ou não de preocupavam mais. Cindy tinha outras problemas: era uma mulher divorciada com uma filha e parentes com predileção para encrenca. Seu irmão acabara de entrar para a lista de criminosos mais procurados do condado de Sedwick.

Certa noite, uma amiga sua lhe contou a respeito de um policial de Wichita que, segundo ela, tinha uma natureza aventureira.

"Ele frequentara o Players", disse a amiga de Cindy. "Vamos lá ver se conseguimos encontrá-lo."

"Voce esta saindo com esse cara?, perguntou Cindy.

"Não", respondeu a amiga. "Mas quero muito isso."

Cindy também tinha uma natureza aventureira. Achava que ver a amiga correr atrás de um amor não correspondido por um por policial em um bar seria uma maneira divertida de passar a noite.

No Players, sua amiga apontou para o policial, sentado de forma não muito estável em um banquinho no balcão. Cindy viu cabelos escuros espessos, o rosto bronzeado, o cigarro aceso na mão. Ele estava bêbado e gritava com uma mulher sentada ao seu lado, que, imperturbável, continuava bebericando uma bebida. O policial berrada sobre injustiça e algum cara chamado Butterworth.

Seguiu berrando até o final do banquinho o=com um baque  seco. A mulher ao lado agiu com indiferença, como se não fosse a primeira vez que aquilo acontecia. Cindy achou isso divertido.

Não conversou muito com ele naquela noite. Mas, em noites subsequentes, quando sua amiga apaixonada a levava junto, Cindy começou a observar melhor Kenny Landwehr.

Parecia ser o protótipo do beberrão sinonimo  de encrenca. Landwehr frequentava bares da zona oeste: O players, na esquina da 21st com a West, ou o Barney's, na esquina da Ninth com a West. Entrava todas as noites vestindo uma jaqueta de aviador de couro preto de 300 dólares, presente de uma ex-namorada. Pedia uma bebida, contava uma anedota, pedia outra bebida, contava outra história. Pagava bebidas para Cindy, para seus amigos, para os amigos dela. Ouvia com atenção a histórias de outras pessoas.  De vez em quando alguém o provocava e mencionava Butterworth, o que o fazia berrar sobre injustiça. Depois que Cindy ouvia a história completa, entendeu o porque.

A principio, achava que Landwehr era apenas uma daquelas pessoas perspicazes que gostavam de contar histórias exageradas em bares, mas que não tinham muito a oferecer além disso. Parecia de fato um bad boy, fumando um cigarro depois do outro, enchendo a cara, contando histórias de mau gosto. Mas ela logo enxergou nuances mais profundas em sua personalidade. Ele não era como os outros homens. Landwehr era curioso, agradável e empático. Tinha o costume de se inclinar para frente e ouvir com atenção, ao contrário da maioria dos outros.

Dizia coisas ultrajantes como um mecanismo da defesa- fora magoado por alguns namoradas e queria manter as pessoas a uma certa distancia. Mas essa estratégia não funcionou com Cindy, que falava coisas tão ultrajantes quanto.

"Por que voce tem uma placa personalizada no seu carro que diz "Skippy?", perguntou Landwehr certa noite, voltando-se para Cindy com um sorriso largo.

"Por que tenho orgulho do que faço pelo meu time de softbol", respondeu Cindy. " Quer dizer que eu estou sempre pulando de base em base".

"Papo furado", disse Landwehr. " Quer dizer que voce é como a manteiga de amendoim da marca Skippy - é boa de comer."

"Voce é mesmo um merda de metido a engraçadinho", rebateu ela.

"Onde voce cursou o ensino médio", perguntou ela.

"Na South", respondeu ela.

"Sério? A gente costumava chamar as garotas de lá de as Vadias da South.

BTK MÁSCARA DA MALDADEOnde histórias criam vida. Descubra agora