29. NO COMANDO DA UNIDADE DE HOMICÍDIOS

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1992

No dia 12 de Março de 1992, Dennis Rader ajudou os detetives de Wichita a investigar um homicidio.

Seis dias antes, um funcionário do setor de avionica chamado Larry A. Bryan, de 36 anos, baleou e matou Ronald G. Eldridge, de 42 anos. Eldridge era o supervisor de Bryan na Collins Avionics perto do Wichita Mid-Continent Airpot, e ao que parecia pretendia demiti-lo.

Detetives que investigam homicídios gostam de "varrer uma vizinhança". Costumam sair fazendo perguntas pela área onde o suspeito mora, assim como nos arredores do local de homicidio. Por isso, no dia 12 de Março, os detetives S.L Wiswell e Charles Koral se deslocaram até Park City para conversar com os vizinhos de Bryan. Como cortesia, fizeram uma visita ao chefe de policia local, Ace Van Wey.

Ele sugeriu que Wiswell e Koral interrogassem o fiscal da prefeitura, Dennis Rader, que morava no número 6220 da Independence, a poucas casas de Bryan. Wiswell escreveu em seu relatório o que aconteceu em seguida:

Eu e o detetive Koral informamos Dennis Rader de que estávamos investigando um homicidio do qual Larry A. Bryan era suspeito e estávamos tentando encontrar algumas informações sobre os antecedentes de Larry. Dennis Rader afirma que Larry se  mudou para o endereço de numero 6232 da Independece aproximadamente dez ou doze anos atrás e descreveu Larry como uma pessoa tranquila. Dennis diz que uma coisa que lembra a respeito de Larry é que Larry nunca sai durante o dia e ele meio que ganhou o apelido de  vampiro ao redor da vizinhança. Dennis também afirma que se lembra de Larry Bryan dirigindo o que descreveu como uma beleza de Chevelle. Pedimos a Dennis Rader que descrevesse Larry Bryan e ele declarou que Larry era educado e tranquilo. Perguntamos se alguém morava com Larry e se declarou que achava que não, no entendo achava que uma garota passava algum tempo na residência. Dennis Rader também afirma que Bryan tem uma fascinação pelas criancinhas da vizinhança. Ela se lembra de um incidente aproximadamente um mes atrás onde ele viu Larry Bryan correndo atrás das crianças da vizinhança com o que ele descreveu como uma máscara do Jason. Perguntei a Dennis Rader a respeito da residência de Larry Bryan e ele declarou que Larry sempre mantém as cortinas fechadas e voltou a afirmar que nunca viu mulheres na casa de Larry.

Em maio de 1992, Paul Dotson comandava a unidade de homicídios havia tres anos e estava "completamente acabado" como dizia - exausto.  Quando foi realocado, seis comandantes lhe disseram que ele podia nomear seu sucessor.

Dotson queria que Landwehr o substituísse, mas estava preocupado com o que o estresse do trabalho - e a necessidade de ficar de prontidão dia e noite - poderia fazer com o amigo.

"Sei que voce quer esse emprego mais do que tudo", disse ele a Landwehr. "Mas precisa me prometer que não vai permitir que a pressão acabe com voce."

Landwehr o encarou por um bom tempo. "Voce sabe como eu realmente sou", respondeu.

O alto comando concedeu o posto a Landwehr. Ele se empenhara por quatorze anos para alcançar aquela posição e esperava, contrariando todas as probabilidades, permanecer nela pelo resto da carreira. Estava com  37 anos. O trabalho seria incessante, ele sabia: Wichita teve 28 homicídios em 1991, dezoito em 1990, e 33 em 1989. 

O novo emprego não era único motivo de celebração. Ele estava noivo de Cindy Hughes, a assistente de educação especial tão perspicaz e atrevida quanto ele próprio. Quando as pessoas lhe perguntavam como Cindy pode se apaixonar por um investigador de homicídios, Landwehr simplesmente encolhia os ombros."Ela passou vários anos lidando com crianças especiais, então se sentiu qualificada para lidar comigo."

Cindy também estava feliz, mas a promoção de Landwehr a levou a fazer um pedido incomum:

"Quero que voce pesquise toda a minha família no seu computador criminalistico."

"Por que voce quer que eu faça isso", perguntou ele.

"Para evitar surpresas. Meu irmão esteve na lista de Mais Procurados do condado, e não quero que voce seja pego de surpresa no trabalho por causa de alguma coisa que minha família fez ou irá fazer no futuro."

"Não vou fazer isso."

"O que?"

"Não vou fazer isso"

"Eu quero que voce faça"

"Não."

"Quero que voce faça essa pesquisa no computador para saber onde pode estar se enfiando"

Ele sorriu.

"Ora, vamos", disse Landwehr. "Eu nunca faria isso com sua familia."

"Besteira, Kenny. Eu sei que voce ja fez isso - voce não é burro. Então só estou dizendo para que voce saiba que por mim tudo bem."

"Mas eu nao fiz nada disso."

"Voce está mentindo."

"Não." garantiu ele. "Estou dizendo, eu nunca faria isso com a sua família."

"Seu mentiroso desgraçado"

Ele sorriu.

***

Cinco meses depois de Landwehr assumir a unidade de homicídios, policiais em um estacionamento perto da Twenty-first com a Amidon entraram em confronto com um suspeito de tentar matar a esposa. Quando o acusado pulou na direção da porta aberta do seu carro para pegar uma arma, os policiais abriram fogo. O médico legista mais tarde concluiu que o homem acabara disparando contra si mesmo no instante em que os policiais atiraram nele-portanto era parte suicido e parte tiroteio em enfrentamento com a policia.

Os detetives do departamento de homicídios chegaram, acompanhados do novo chefe.

Landwehr decidira que na maior parte do tempo deveria ser um chefe que delegaria tarefas, cuja função seria designar investigadores para um caso, depois apoia-lo com conselhos e recursos materiais. A não ser que eles pisassem na bola, Landwehr ficaria fora do caminho. Mas decidira também que visitaria pessoalmente as cenas dos crimes, não apenas porque poderia se mostrar útil, mas porque tinha ciência de suas fraquezas.  Havia ocupantes de cargos de chefia que eram capazes de olhar as fotografias de uma cena de homicídios e reconstituir a coisa toda na mente,mas ele não conseguia fazer isso. "Sou uma pessoa mais 3-D", justifica. "Tenho eu mesmo que ver tudo em dimensões inteiras."

Os detetives gostavam dele. O chefe os deixava fazer seu trabalho em paz. Não tinha um ego enorme: não dizia "eu comando a unidade de homicídios", nem sequer se referia a si mesmo como tenente. Quando ligava para as pessoas, se apresentava apenas como policial.

Landwehr chegou a Twenty first com a Amidon e começou perambular pelo outro lado da fita amarela da policia usada para evitar que os repórteres se aproximavam das provas.

Hurst Laviana, do Eagle, viu isso como uma oportunidade. Passara oito anos cobrindo histórias de crime e queria transformar o novo chefe da unidade de homicídios em uma fonte, ganhar sua confiança.

Como sempre, Landwehr estava vestido com um terno e uma camiseta branca imaculada. Existem hábitos que o Departamento de Policia incutem nos investigadores sobre roupas e cuidados pessoais. O detetive de homicídios deve se barbear bem, usar terno e gravata e não pode sorrir nem fazer piadas em uma cena de crime. Se as cameras dos noticiários capturarem algum sorriso, as emissoras de TV podem repassar a gravação repetidas vezes e fazer com que ele ou ela pareça indiferente.

Naquele dia, após uma breve apuração no local, o pessoal da televisão guardou os equipamentos e foi embora. Landwehr ainda caminhava pelo estacionamento. Olhou para uma parede de tijolos de um prédio ali perto. Houvera inúmeras balas disparadas. Talvez alguns projéteis tivessem atingido a parede.

Landwehr passou para o lado de fora da barreira de fita e foi andando até o edifício. Laviana não perdeu tempo. Parou a poucos metros de onde Landwehr fitava a parede. O repórter, geralmente um homem taciturno, decidiu fazer uma piada. Ele fingiu dar uma espiada pelo canto do prédio.

"Ei", disse para Landwehr. "Voce já deu uma olhada nesse outro morto aqui?"

Landwehr riu. Uma importante amizade começava.

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