34. AS RECOMPENSAS DO TRABALHO, PARTE 2

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DEZEMBRO DE 2000 A 2003

Landwehr olhou para os corpos nus na neve ensanguentada.

Jesus Cristo, pensou. O que está acontecendo com o mundo?

Depois das prisões, Dana Gouge e Rick Craig interrogaram os irmãos Carr. Uma das primeiras coisas que fizeram foi mandar uma enfermeira coletar amostras de cabelo, sangue e saliva para descobrirem se o DNA dos suspeitos era compatível com o encontrado nos corpos das vítimas.

No hospital, Jonathan Carr perguntou a Kelly Otis: "O que aconteceu com os casas que atiraram naqueles garotos?" Ele estava perguntando a respeito do outro caso de quádruplo homicídio da semana anterior.

"Foram acusados de homicidio qualificado", respondeu Otis.

"O que é homicidio qualificado?"

"Alguém que é condenado por homicidio qualificado pode receber a pena de morte", explicou Otis.

"Como fazem isso?"

"Injeção letal."

Carr ficou sentado em silencio por um longo tempo antes de falar. "A pessoa sente alguma coisa?"

"Nunca tivemos a chance perguntou a ninguem", disse Otis.

Tim Relph foi o hospital para fazer mais perguntas a vitima sobrevivente. O policial a considerava uma heroína. Nos meses seguintes, enquanto ajudava "H.G". a se preparar para testemunhar, passou a considerá-la uma amiga.

Relph vira coisas terríveis como investigador de homicidios, mas o que aquela sobrevivente lhe contou foi pior do que a maioria das coisas que ouvira em termos de crueldade. Os mortos eram o noivo dela, Jason Befort, de 26 anos; Brad Heyka, de 27; Aaron Sander, de 29;e uma amiga de Sander, Heather Muller de 25. Ao longo de tres horas, os dois bandidos tinham espancado os homens, estuprado e sodomizado as mulheres repetidas vezes, obrigado as vitimas a sacarem dinheiro de caixas automáticas, forçado todos os cinco a se ajoelharem nus na neve e então atirado neles.

Relph ponderou sobre como os policiais internalizavam a crueldade de maneiras diferentes. Gouge parecia superar a raiva a medida que seguindo os caminhos apontados pelas provas. Otis, por outro lado, se permitia sentir raiva, então a canalizava. Snyder, ao ajudar a solucionar o assassinato de uma garotinha, tinha afundado no desespero, e só sairá com a ajuda de orações e conversas com a esposa. O remédio para Landwehr após um dia de trabalho na unidade de homicidios era bastante conhecido, embora ele não acostumasse mais toma-lo.

Relph também sentira angústia com aquela cena, parado de pé na beira do campo de futebol ensanguentado. Pensou em sua família. Tinha quatro filhos, e a esposa estava grávida do quinto. Esses assassinos deram cabo de quatro pessoas, pensou. Quatro vidas de pessoas amadas pelo seus entes queridos como eu amo os meus.

Ainda assim, achava que se saia melhor nesse sentido do que a maioria dos outros investigadores de homicidio, e lhes disse isso. Sua fé era uma bênção para seu trabalho. Na primeira vez em que viu as fotografias de Josie Otero no porão, ele as analisou com um distanciamento tranquilo. E sua fé lhe permitiu que fosse capaz de recobrar depressa a compostura, mesmo enquanto estava em pé naquele campo. Como a maioria das pessoas, já questionara os motivos de Deus em algumas ocasiões. Alguns casos o levaram as lágrimas. Mas tudo isso servira apenas para confirmar sua fé, de acordo com sua visão das coisas: Deus não obrigou aquelas cinco pessoas e se ajoelharem na neve. Deus não enforcou Josie Otero , nem estrangulou Nancy Fox. Deus nunca é parcial, nem cruel, nem censurável. Existe um diabo no mundo; pessoas ruins que fazem coisas ruins por escolha própria.

E, quando fazem isso, é necessário caça-las.

***

Robert Beattie, o advogado de Wichita que usara o caso de Charles Manson para a simulação de julgamento feita por seus alunos na Universidade Newman, voltou a entrar em contato com o Eagle no inicio do segundo semestre de 2001. Beattie estava se correspondendo com o responsável pelo atentado com bombas de Oklahoma City, Timothy McVeigh, que logo seria executado por matar 168 pessoas. Beattie contou a Roy Wenzl que pretendia realizar outras simulações de julgamento além do caso McVeigh. Tinha se correspondido com o escritor de ficção cientifica Arthur C. Clarke e planejado leva-lo a Júri por criar o computador malévolo HAL. que matava astronautas em 2001: Uma Odisseia no Espaço.

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