5. LIÇÕES A APRENDER

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ABRIL A JULHO DE 1974

Kevin Bright correu até dois vizinhos, William Williams e Edward Bell. Contou que o homem que atirou nele ainda estava na casa de sua irmã. "Ele esta la agora, acabando com a  minha irmã", disse Bright, "por favor me ajudem".

Eles chamaram a policia, depois levaram Bright ao Centro Médico Wesley. Eram 14h05. A central passou um rádio; "Assalto a residência em progresso". O policial Dennis Landon se dirigiu a porta dos fundos. Ninguem atendeu a sua batida. O policial Raymond Fletcher entrou pela porta da frente, com sua pistola 357 em mãos. Encontraram uma mulher sangrando no chão da sala de estar, com seu telefone na mão. Tinha rastejado para fora do quarto. Sua pele estava pegajosa ao toque. Sua perspiração estava superficial, seu rosto acinzentado.

"Aguente firme", disse Fletcher. "A ajuda esta a caminho".

Landon a virou de costas.

"O que aconteceu?" o policial perguntou.

Ela levantou a blusa. Landon viu ferimentos de faca, pelo menos tres.

"Voce conhece quem fez isso?"

Ela fez que não com a cabeça.

"Qual é seu nome?"

"Kathryn Bright." Sua voz estava fraca.

"Quantos anos voce tem?"

"Vinte e um"

Eles pressionaram panos de prato contra os ferimentos e elevaram suas pernas para mandar o sangue que restava para a cabeça. Landon viu meias de nailon amarradas em seus punhos. Havia um cachecol azul e um fio presos em volta do pescoço. A mão direita dela agarrava um trapo branco, e os tornozelos estavam atados com uma meia de nailon.

"Não consigo respirar", disse ela a Landon. " Por favor, desamarre meus tornozelos." Landon sacou um canivete e cortou o nailon. A moça estava coberta de sangue: rosto, cabelos, maos,  barriga. Sangrava pela narina esquerda, e o rosto estava gravemente machucado. Ela estava perdendo a consciência.

Eles lhe disseram para a ambulância estava a caminho e ela ficaria bem. Mas então o rosto dela começou a ficar roxo.

Ela agarrou o braço de Fletcher.

"Não consigo respirar", disse "Me ajude."

***

O fio usado pelo BTK ainda estava amarrado em volta da garganta de Kevin quando ele deu entrada no Wesley. Kathryn chegou em uma ambulância minutos depois. O policial Ronald Davenpont observava enquanto os funcionarios do hospital a viravam para olharem as costas. Mais ferimentos de facadas.

"Me ajude", pediu ela.

Estava fraca demais para fornecer algumas informações. Davenpont e outros policiais perguntaram a Kevin o que tinha acontecido. Ele tentou falar, mas engasgou com sangue. A bala que atingiu o maxilar superior tinha arrancado dois dentes; os policiais mais tarde os encontraram na casa de sua irmã. Kevin tinha queimaduras de pólvora no rosto. A outra bala atingira a resta de raspão. Os médicos o mandaram para a unidade de tratamentos intensivos.

Kathryn morreu quatro horas depois.

***

Mia tarde, Kevin contou para a policia que morava em Valley Center, mas que dormira na casa da irmã na noite anterior porque tinha nevado e era melhor nao voltar dirigindo para casa.

Para um rapaz de sua compleição física, Kevin resistira de forma notável. Aos dezenove anos tinha apenas 1,67 m de altura e pesava so 52kg, o mesmo que Josie Otero. Fora baleado duas vezes na cabeça e ainda assim lutara com bravura. Kevin relatou que o assassino era muito maior: 1,80 m de altura, bigode, cabelos escuros. Estava usando uma toca preta e amarela - as cores da Universidade Estadual de Wichita -, luvas, uma parca, e um casaco do exército com pele em volta do capuz. Usava um relógio prata no braço esquerdo,  do tipo com pulseira ajustável.

"E estava suando bastante", contou Kevin.

Os policias trabalharam com empenho no caso, mas   não chegaram a lugar nenhum. E, com Kevin dando respostas as vezes conflitantes, não tinham certeza de que sua descrição do agressor era muito sólida. 

Alguns especularam que o assassinato de Kathryn Bright estava relacionado aos assassinatos dos Otero. Kathy e Kevin tinham trabalhado na Coleman - assim como Julie Otero.

Mas outros policiais refutavam a ideia. Ainda acreditavam que havia uma ligação dos Otero com o tráfico de drogas comandado por latino-americanos. E havia diferença nos dois casos - os Otero foram estrangulados e asfixiados; os Bright foram estrangulados, baleados e esfaqueados.

***

Rader correu com os sapatos manchados de sangue ao longo de diversos quarteirões até seu carro. Dirigiu até a casa dos pais, que moravam perto do filho. No barracão de ferramentas do lado de fora da residência, em uma velha caixa de madeira cheia de serragem, escondeu suas armas. Despiu as roupas e os sapatos ensanguentados e colocou-os no galinheiro; ele os queimaria mais tarde. Então se limpou,  voltou para a esposa em casa e fingiu que nada fora do comum acontecera.

Tinha certeza de que seria preso. Mas um dia se passou, então outro. Ele assistia a televisão e lia os jornais. Os policiais não tinham descoberto nada.

Começou a escrever um extenso documento, "Uma Morte em Abril", conforme o intitulou; sete páginas, com espaçamento simples. 

Recortou uma foto de Kathryn do jornal. Pensou a respeito da possibilidade de ser esperto demais para ser capturado. Isso lhe deu outra ideia.

Por que nao se divertir um pouco com o jornal? Por que nao se pavonear um pouquinho?

***

Na noite do dia 7 de julho de 1974, seis meses depois dos assassinatos dos Otero, quatro pessoas na casa dos vinte anos foram mortas por uma briga por causa de 27,50 dólares. Tres das vitimas morreram em uma casa geminada no numero 1117 da Dayton Street, na zona oeste de Wichita. O assassino e seu cúmplice levaram a quarta vítima, uma moça de 21 anos chamada Beth Kuschnereit, até uma região rural do condado  vizinho de Butler.  

O homem com o revolver calibre 38 era James Eddy Bell, o grandalhão ameaçador que preocupava Kenny Landwehr e outros bebedores de cerveja na Old English Pub. 

Kuschnereit implorou a Bell. Ele lhe deu dois minutos para rezar, depois atirou em seu rosto. Como contou mais tarde, " explodiu a cabeça dela".

Bell e seu cúmplice foram presos, julgados e condenados. 

Foi o segundo homicídio quádruplo naquele ano, e deixou todos na cidade em choque. Apenas dezessete pessoas tinham sido assassinados em Wichita no ano anterior, e os policiais conseguiram resolver todos os casos.

Landwehr ficou mais perturbado pelas mortes na Dayton Street do que quando soube do assassinato dos Otero. Ele conhecia as pessoas da Dayton Street e, quando caminhava até o pub, o que acontecia com bastante frequência, passava diante da casa geminada onde as tres mortes ocorreram. Ele ainda pensava em se candidatar para o FBI depois da faculdade, mas aquela altura isso nao parecia tão importante. O FBI nao tinha um departamento de homicídios.



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