JANEIRO A ABRIL DE 1974.
Os Otero foram enterrados em Porto Rico. Os filhos sobreviventes deixaram Wichita para sempre; encontraram um lar com familiares em Albuquerque.
O futuro de Charlie Otero lhe traria depressão, raiva, um rompimento com os irmãos e o comprimento de uma sentença de prisão por violência domestica. Também abandonaria Deus, visto que acreditava que Ele tinha abandonado sua família. Charlie nao tinha respostas para as questões que os perturbavam:
Por que alguém atacara sua família?
Como passara pelo cachorro? Como convencera um pugilista como seu pai a colocar os punhos atrás das costas?
Deve ter havido mais de um assassino, pensava Charlie.
Charlie queria matar todos eles.
***
A policia começou analisando quatro possibilidades:
1. O assassino era alguém da família? Essa ideia foi descartada bem depressa.
2. Havia uma ligação com o trafico de drogas? Na aeronáutica, Joseph Otero tinha servido na America Latina. Depois de dar baixa como militar, Joe arrumou um emprego que lhe dava acesso a aeronaves particulares. Isso chamou atenção dos investigadores. Talvez um enorme acordo de transporte internacional de drogas tivesse dado errado, o que poderia ter levado ao assassinato dele e de sua familia como uma forma de vingança.
Cornwell e Hannon voaram para o Panamá e Porto Rico para explorar essa possibilidade. Bruce nao estava tao certo quanto essa possibilidade - os policiais nao tinha encontrado sequer uma aspirina na casa, muito menos drogas ilegais.
3. Alguem estava atras de Julie? Ela trabalhara na Coleman. Por acaso teria arrumado um amante ciumento por la ? seu antigo supervisor fora baleado e ferido poucos dias antes da morte dela. Haveria alguma ligação?
4. O assassino era um ladrão que matou para encobrir seus rastros? Os detetives investigaram os cidadãos com passagem pela policia por furto e arrombamento, embora as únicas coisas que tivessem sumido fossem o relógio de Joe, o radio de Joey e um molho de chaves.
Quatro ideias, quatro buscas inuteis.
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Dennis Rader passara duas horas com os Otero, em seguida se esgueirara para dentro do Vista Cruiser e dirigira até o mercado Dillons. Foi por pouco - o tanque da perua dos Otero estava quase seco. No caminho, manteve o capuz da parca levantado para esconder o rosto. Antes de sair, ajustou o banco para a frente a fim de disfarçar sua altura. Caminhou até o próprio carro, um Imapala Cupe Branco 1962. Ali fez um inventario de tudo que levara naquela manhã, e então se deu conta, com o estômago embrulhado, que deixara a faca na casa dos Otero.
Dirigiu de volta a casa na North Edgmoor, estacionou na garagem, caminhou até a porta dos fundos e pegou a faca. Então foi para casa, a cabeça latejando. Tomou dois comprimidos de tylenol, em seguida seguiu o caminho de um bosque onde brincara quando criança, á margem do rio Little Arkansas, no norte de Wichita. Lá queimou os esboços que fizera durante o planejamento, junto com as coisas usadas para matar a família. Ele agiu depressa. Sua esposa ja estaria saindo do trabalho, e ele queria estar em casa.
***
Depois dos assassinatos, cidadãos de Wichita que nunca tinham trancado as portas passaram a faze-lo. Alguns compraram armas e instalaram sistemas de alarmes. Estudantes do ensino médio como Steve, Rebecca Macy criaram uma nova rotina aos voltar para casa: Rebecca ficava sentada no carro. Steve entrava na casa levando um taco de basebol e verificava todos os cómodos e closets - e o telefone - antes de deixar a irma entrar.
Crianças mais novas, como Tim Relph, um aluno do sétimo ano, viveram com medo durante anos, se perguntando se suas familias poderiam ser atacadas. O caminho que seus pais faziam passavam pelas mesmas ruas que os Otero usavam.
O capitão do departamento de homicidios, Charlie Stewart, passou a dormir perto da porta da entrada da casa.
Lindy Kellly, um ex detetive do departamento de homicidios, ficou tao transtornado cpm o que ouvira de seu melhor amigo, o sargento Joe Thomas, que violou sa regra de nunca assustar seus filhos com historias do trabalho. Contou a filha de treze anos, Laura, sobre as marcas da cadeira no carpete. O sujeito tinha se sentado para ver o menino se debater, revelou Kelly.
Thomas iniciou uma rotina que duraria o restante de sua vida. Todas as manhãs, quando saía para pegar o Eagle, levava um peso na porta, uma pesada barra de metal que viria a calhar para espancar o assassino dos Otero, caso algum dia este decidisse lhe fazer uma visita.
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Rader retornou aos confortos da vida doméstica. Estava casado fazia tres anos, mas ainda abria as portas para a esposa e a ajudava a vestir o casaco. O casal frequentava a igreja junto com os pais; ele ajudava com o grupo de jovens. Mas estabelecia regras da casa e gostava de coisas arrumadas, em ordem e na hora. Ela obedecia.
Ele gostava de estudar romances policiais, revistas sobre investigações e pornografia. Gostava de se masturbar enquanto brincava com algemas. Em seu lar aconchegante - de apenas 90 m quadrados-, escondia pequenos troféus. No pulso, usava o relógio de Joe Otero. Ele funcionava bem e o ajudava a chegar as aulas com pontualidade. A universidade Estadual de Wichita ja iniciara as atividades do primeiros semestre, e ele havia escolhido uma especialização - que lhe permitia observar os policiais e aprender mais sobre sua nova ocupação. Ele se divertia com a ironia.
Começou a escrever sobre o que fizera; disse a esposa que tinha muitas coisas para datilografar para a escola. Registrou que Joe Otero pensara em um primeiro instante que sua invasão era uma pegadinha. Anotou o que Josie dissera pouco antes de a enforcar. Escreveu tufo isso, terminou no dia 3 de Fevereiro de 1974 e arquivou tudo em fichario para que pudesse ler sempre que lhe aprouvesse. Assinou o documento como BTK (BIND= AMARRAR), ( TORTURE=TORTURAR, (KILL=MATAR).
Ele sabia das coisas que poderiam fazer com que fosse pego: se esquecera da faca. Permitira que o vissem. Não esperava pela presença do cachorro. Imaginara que o pai não estaria em casa. Entrara em um lugar com gente demais.
Decidiu fazer melhor na próxima vez. E haveria uma próxima vez.
Ele gostara do tempo que passara com a menina.
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BTK MÁSCARA DA MALDADE
LosoweUma obra escrita Roy Wenzl, Tim Potter, Hurst Laviana, L. Kelly. Editora Darkside