CAPÍTULO 2

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Sarah abriu as cortinas do quarto luxuoso na casa do pai de Patrick e se deslumbrou com a paisagem. Montes e montanhas verdes, recortados contra um céu cinza, algo digno do pincel de John. Ela sorriu pensando em seu irmãozinho, ele ia completar quatorze anos na semana que vem, sua mãe quase surtou quando Sarah disse que não poderia ir ajudar com a festa.
Patrick a abraçou por trás, ela sorriu, eles agora estavam num outro patamar do namoro, o de se conhecerem de verdade. O primeiro ano, nos poucos momentos em que podiam estar juntos na faculdade, foi o ano do sexo. Muitas vezes foram só rapidinhas entre as aulas e nos finais de semana, aí sim, eles usavam bem o tempo. O segundo ano foi marcado pelos términos e voltas. O ciúme desmedido dele por causa dos Novas Espécies, houve até umas férias que ela não foi para a Reserva. Agora, eles estavam mais parceiros, mais amigos e gastavam o tempo entre sexo e conversas. Sarah se recusava a admitir que ela preferia as conversas, pois isso podia significar que o namoro deles talvez não estivesse tão firme. A viagem para a casa do pai dele, era o próximo passo, incluir as respectivas famílias no relacionamento deles. Sarah estava um pouco relutante.
"Vamos tomar o chá?" Ele perguntou, ela se virou e o beijou, Patrick a beijou, mas apenas por um segundo. Ele estava se mostrando muito ansioso para agradar o pai. Isso era quase como estar na Reserva, onde todos os filhotes brigavam pela atenção de seus pais, mas os pais de lá, eram dignos disso, o pai de Patrick era... Sarah não gostou muito dele, se ela fosse ser sincera.
Eles desceram as imponentes escadas, passaram por uma belíssima sala de estar e saíram numa varanda. O pai de Patrick, Eustace Lennisworth II, um nome por demais pomposo, estava sentado olhando a paisagem. Ele se levantou em respeito a ela, Sarah sorriu. Ela não se sentia a vontade ali, os olhos de Eustace eram frios demais.
"Sente-se aqui, minha querida. Hoje é um dia muito especial. Vamos conversar só nós dois." Ele sorriu, ela olhou para Patrick, ele sorriu para ela e saiu fechando as portas da sala pela qual eles chegaram a varanda. Sarah abriu a boca para chamá-lo de volta, mas era inútil, ela pôde ouvir os passos dele se afastando. Bom, qual o problema? Era apenas o pai do seu namorado.
"Você não quer se sentar?" Eustace perguntou, ela sorriu e se sentou a frente dele
"Isso é meio formal demais para mim, Eustace. Num filme você diria para que eu me afastasse de seu filho." Ela tentou descontrair. Ele riu.
"Mas se é justamente o contrário! Eu nem acreditei quando Patrick me contou sobre você! Uma cidadã Nova Espécie! Você nem imagina o que é isso pra mim!" Ele sorriu, Sarah ficou ainda mais desconfortável. O que estava acontecendo com ela?
Talvez fosse o livro de John e Flora enquadrado na biblioteca. Sarah ainda não acreditava que Eustace foi quem comprou um livro deles num leilão na internet. Foi uma travessura dos trigêmeos, é claro, Tammy fez Joe entrar em contato com Eustace e ele devolveu o livro, mediante a devolução do dinheiro. John e Flora comovidos com isso fizeram um livro especial e deram para Eustace.
Cada página do livro estava emoldurada e pendurada na parede principal da biblioteca, num lugar de destaque. Sarah, num primeiro momento achou uma bonita atitude e ficou muito surpresa com a coincidência.
Mas na noite anterior, ela estava conversando com Lunna por telefone, pois Lunna estava a frente da decoração da festa de John, e Lunna calculou a probabilidade de Sarah estar namorando o filho do homem que ganhou um livro do irmão dela. Muito pequena. Sarah riu e disse que estava com saudade de sua amiga, Lunna não riu com ela. O número foi infinitamente pequeno, Lunna disse que ela ficasse alerta.
Sarah ainda a questionou, mas Flora tinha chegado, então, Lunna desligou.
Seria isso o motivo de estar querendo sair dali?
"Patrick nunca me serviu para muita coisa, mas aí, ele me ligou contando a novidade, estava saindo com você! Irmã de John! Só seria melhor se fosse a própria Flora, mas ela ainda é muito novinha, não é?" Sarah franziu as sobrancelhas. Ele disse aquilo sobre Patrick tomando um gole de chá, como se não fosse nada.
Ela olhou para a xícara, ele sorriu e preparou chá para ela, mas tudo dizia que ela não devia tomar nada que viesse da mão dele. Só por precaução, claro.
Ele estendeu a xícara, ela pegou, fingiu que tomou e recolocou a xícara na mesa de café.
"Não gostou?" Ele perguntou.
"Sim, está muito bom." Ela assegurou, ele ergueu uma sobrancelha.
"Então tome tudo." Ele sorriu, mostrando seus bonitos dentes, brancos, alinhados. Ele parecia estar se divertindo, parecia estar segurando uma risada. Sarah não sabia agir com subterfúgios, então tomou tudo. Ela não podia acreditar em paranóias.
O gosto era realmente bom, Sarah gostava de chá, culpa de sua mãe. Sophia gostava de vários tipos de chá. Seu pai odiava, alguns ele dizia que tinham gosto de água suja. Eles sempre discutiam sobre isso, sua mãe estava sempre fazendo chás diferentes esperando que ele gostasse de algum.
"Está muito bom, mamãe adoraria provar." Ela disse.
"Esse chá é bem comum, se ela gosta de chá, já deve ter provado." Ele respondeu, Sarah quase suspirou. Foi tudo coisa da cabeça dela. Eustace era um admirador dos Novas Espécies, Patrick sempre disse isso.
"Sabe, o caso da sua mãe foi uma trapalhada atrás da outra. Eu ainda não consigo acreditar em tudo o que deu errado naquela história." Ele disse com um suspiro, se recostando para trás na cadeira e sorrindo para Sarah.
"O que..." Os alarmes que mal tinham parado de soar na cabeça de Sarah voltaram com força total.
"Calma. Vou te contar uma história, uma longa história, minha querida. Uma história de um homem cercado de idiotas por toda a parte. Ele se servia de idiotas por que os inteligentes poderiam traí-lo, então, bom, graças a isso, aqui estamos." Sarah se segurou na cadeira, evitando entrar em pânico. Todos sabiam onde ela estava, a força tarefa estaria ali num segundo se ela não aparecesse no dia seguinte no ponto de encontro combinado. Ela era irmã de um dos integrantes da força tarefa, se isso não assegurasse a segurança dela ali, nada mais poderia.
"Vamos começar do começo. Você pesquisou a vida de seus pais, não foi?" Ela acenou.
Joan e Alfred Briston. Alfred bebia, batia em Joan e a obrigava a se prostituir ficando com todo o dinheiro. Ele morreu, esfaqueado por um dos clientes dela que a chamou para ir para outra cidade. Joan aceitou, mas ela estava grávida, o que fez o cara abandoná-la. Joan voltou a prostituição apenas alguns meses depois de dar à luz a Sarah. Ela deixava Sarah com uma vizinha, que também era prostituta. Quando Joan morreu provavelmente de overdose, a vizinha temendo ser envolvida no caso, abandonou Sarah numa lixeira, que foi onde Sophia a encontrou.
"Por que a pergunta?" Sarah investigou tudo o que pôde, mas prostitutas morriam aos montes de diversas formas. Seu pai, como tinha um irmão, teve sua morte investigada, mas não encontraram o homem que o matou. Seu tio, David, a encontrou no orfanato e a adotou junto com a esposa dele, Rose. Eles adotaram Sophia também. David e Rose tinham um certo envolvimento com um homem chamado Hunter, eles obrigaram Sophia a entrar na Reserva por causa dele, uma história muito estranha. Tio V. matou um tal de Hunter, mas não sabiam se seria o mesmo homem.
Tudo isso passava pela cabeça dela, enquanto Eustace a observava.
"Não conseguiu muita coisa, não é?" Ele concluiu, ela assentiu.
"Não. Ninguém guarda informações sobre um bêbado que explorava a própria esposa, ou de uma prostituta morta numa cidade grande." Ela disse.
"Exato. Mas e toda a história de David e Rose enviarem Sophia para a Reserva? Vocês nunca se importaram com quem os mandou fazer isso?" Ele perguntou, Sarah se levantou. Ela se postou à amurada deixando o vento frio daquele lugar lhe tocar o rosto.
"Nunca soubemos se o Hunter que mandou David e Rose baterem em minha mãe e a jogarem no portão da Reserva era o mesmo que o tio V. matou. Rose e David se mudaram quando Brass lhes deu dinheiro pela minha guarda e da minha mãe. Mas como você sabe de tudo isso?" Ela se virou para ele.
"Eu sempre estive muito perto deles, sempre tive olhos e ouvidos por todas as partes. Hunter, e sim, era o mesmo homem, diferente de mim que admiro os Novas Espécies, tinha um grande ódio por eles e isso foi a ruína dele. Nós nunca nos encontramos pessoalmente, mas eu sempre soube de todos os passos dele, havia um ou outro soldado que que me passava informações, afinal uns estavam ali por dinheiro, outros só pela promessa de poder matar um Nova Espécie. Você não imagina o ódio que alguns homens nutrem por eles. Eu fui um dos colaboradores de Max Hunter, eu sempre tive muito dinheiro." Ele tomou um gole de chá. Sarah olhou para a xícara dela, ele fez menção de lhe servir mais, ela não aceitou.
"No caso de sua mãe, eu fiquei bem ansioso. Mas eles pegaram um dos idiotas que trabalhava com Max e isso elevou o alerta deles, então, Max mandou que eles a buscassem. Pelo que eu entendi, ela ficou quase que todo o tempo no hospital, ela estava quase morta quando a acharam. Eles a trouxeram para casa, e Max foi para outro estado, tudo parecia ter dado errado. Mas então, e eu pessoalmente matei Rose quando ela me disse isso, Sophia, apareceu com uma barriga de grávida enorme e eles a mandaram trabalhar para o velho... Como era o nome dele?" Ele perguntou, sua voz não se alterou quando disse que matou Rose pessoalmente.
"Não importa. Max foi embora por um tempo, ele queria planejar uma invasão, ele estava convicto de que ia arrasar a Reserva, o idiota, então Sophia ficou os meses da gestação na cabana, roubou você da casa deles, deu à luz a um dos mais impressionantes exemplares dos Novas Espécies e foi resgatada por eles. E os idiotas nem ficaram sabendo! Ninguém soube até que naquela merda de entrevista, Justice fez o anúncio de que eles podiam se reproduzir. Como se qualquer dos inimigos deles não soubesse disso!" Ele terminou o chá com um suspiro de prazer.
"Você sempre soube?"
"Sim. Eu fui um dos muitos financiadores de Mercille, é claro. E eu conheci Samantha, Bishop e Anderson. Eu fui um dos poucos que conheci a vadia da Samantha pessoalmente. Hoje em dia, pode se dizer que tenho projetos paralelos aos dela." Ele sorriu. Sarah estava se preocupando. Ele só diria tudo aquilo a ela, se tivesse a certeza de que ela não fosse contar para ninguém.
"Eu não conheci Marshall, porém. Ele era um dos assistentes. Ele conseguiu o que ninguém tinha conseguido, embriões! É claro que eu fiquei de fora da festinha deles. Afinal, hoje em dia, ter um Nova Espécie é sinal de poder, é a ostentação no mais alto grau, porém, essa ostentação não vale tanto se ele for um clone. Por que clones carregam a fagulha rebelde que inviabilizou todo o projeto, clones tem a mesma veia lutadora, a mesma motivação de liberdade, e são indomáveis, exatamente como os originais. Mas um Nova Espécie de segunda geração, não. Um Nova Espécie de segunda geração é mais inteligente, mas é possível de se moldar. Peter ficou anos com Gabriel devido a um laço familiar. Grace, Livie, elas foram tratadas com medicação de supressão, foram moldadas a vontade de Brenner e Graham." Sarah pensou em Adam e Noah. Eles eram clones, eles foram criados por um humano, eles não fugiram.
"Você não concorda, não é? Está pensando nos clones gêmeos, não é?" Ele sorriu. Sarah estava odiando quando ele sorria, ela sentia ganas de quebrar aqueles dentes bonitos.
"Vengeance sempre foi fora da curva." Ele disse simplesmente. O seu querido tio V.! Sarah fez uma prece a ele, eles foram sempre muito ligados, mas ela estava muito longe!
"Bom, então, chegamos a o que eu quero de você. Eu acabei descobrindo por acaso, uma ilha onde milionários apostam em jogadores alugados para caçarem Novas Espécies. O que acha disso? Eu acabei de chegar de uma caçada, me custou uma fortuna! É emocionante! O meu jogador morreu, mas as lutas são de cair o queixo! E adivinha quem era o astro principal da caçada?" Ele esperou Sarah dizer com um sorriso no rosto e as mãos cruzadas sobre a mesa.
Honor? Ele foi vendido a três anos atrás, todos o procuravam, John às vezes passava meses inteiros fora de casa. Ou poderia ser Adam ou Noah. Eles também estavam perdidos.
Ele assentiu.
"Exatamente, o Nova espécie menos selvagem que eu já vi na vida. Nada de rugir, nada de arreganhar os dentes, ele fica lá só fugindo, tomando balas e torce o pescoço dos jogadores. Num primeiro momento, você fica se perguntando: 'que porra é essa?', mas aí ele parece ficar meio fora do ar e a carnificina é incrível! Ele arrancou os braços de um dos caras, um dos soldados deles! Aquilo é melhor que um striptease, se é que você me entende." Ele olhou para sua própria virilha, mas Sarah não seguiu o olhar dele.
"Por que está me contando tudo isso? Sabe que eu vou contar tudo, não é?" Ele sorriu.
"Não. Não vai. Vamos fazer um acordo, eu e você. Eu vou te dar a localização da ilha e de todas as outras, eles ficam mudando, mas se souber a localização de algumas delas, a força tarefa onde seu irmãozinho é um dos membros os encontraria. E você vai fazer o que Sophia devia ter feito, se David e Rose, que o inferno os tenha, tivessem tido um mínimo de inteligência."
Rose e David só sabiam que Sophia devia entrar na Reserva, o plano então era que ela engravidasse? Mas como eles não sabiam que Novas Espécies não eram estéreis, eles não cogitaram que Sophia poderia estar grávida.
Sarah se lembrava da sua mãe contando que o fato de John ser muito grande, a salvou, pois foi só mostrar a barriga de grávida, grande já, e eles quiseram distância dela. Ela disse que o pai era um cara que tinha morrido, eles a jogaram na cabana do velho Simmons e a esqueceram.
"Você quer um filhote." Sarah disse, já preparando-se para dizer não na cara dele.
"Sim, querida. Eu quero um filhote. Não um filhote qualquer, eu quero um do seu querido Noble. A genética de Valiant é superior até entre os irmãos dele. E já que Noble é apaixonado por você..." Sarah balançou a cabeça.
"Ele não é..." Ela começou ele a interrompeu:
"Mas já foi, não é?" Ele perguntou. Sarah se afastou o máximo que podia dele, ele sabia coisas demais sobre os Novas Espécies. Como assim Valiant era superior entre os irmãos? Ela porém decidiu pensar nisso depois, precisava pensar em sua situação agora. Ela olhou a amurada feita de lindos balaústres e pensou se doeria muito se pulasse dali. Não era tão alto.
"A casa está toda cercada, querida. Não pense em se machucar. Eu ainda não contei tudo." Sarah não entendeu até que as portas foram abertas e uma mulher Nova Espécie saiu para a varanda. Sarah não acreditou em seus olhos!
"Ela é linda, não é? Me custou uma fortuna! É por isso que estamos aqui. E é por isso que você não vai contar nada. Você ama Honor? Quer que ele seja encontrado?" A mulher, ou melhor, a filhote a olhava com uma certa curiosidade nos olhos.
"Não vou barganhar algo horrível assim com você." Sarah disse. Ela se voltou para a filhote:
"Você..." Sarah se aproximou, ela não se afastou.
"Não graças a você." Os olhos dela encararam Sarah com ódio. Sarah colocou a mão no peito, tentando acalmar seu coração.

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