CAPÍTULO 8

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Sarah desceu as escadas e o cheiro de café a fez se sentir em casa como só o cheiro do café feito por sua mãe podia.
Ela entrou na cozinha e sua mãe a abraçou. Era bom, muito bom, mas havia a culpa. Sarah até o fim do dia estaria trazendo sofrimento para a pessoa que mais amava nesse mundo.
"Bom dia, monstrinha. Eu sei que estou sendo uma péssima mãe não chutando você para aquele helicóptero, mas é tão bom você estar aqui!" Sarah sentiu o bolo em sua garganta.
"Serão só uns dias. E espero aproveitar o seu colo o máximo que der." Ela iria. Cada segundo antes de revelar o que ela tinha feito.
"Não. O colo dela já é meu." Seu pai a abraçou junto a sua mãe. Isso era o bom de ser filha deles, nunca faltou carinho.
"É sério? Toda manhã vai ser isso agora? Essa melação? Não somos crianças mais." Gift disse da bancada.
"É mesmo? Então eu não preciso passar a tarde aqui, posso ir para o complexo." Seu pai disse, se servindo de uma montanha de carne.
"E o que você iria fazer lá? Você não é o diretor, lembra? Essa maratona de filmes é mais para que você passe um tempo com a gente que o contrário." Gift disse. Sarah adorava o jeito sério e compenetrado dele. Ele era um John menos amável.
"Oh! Muito obrigado, filhote, pela sua imensa boa vontade em passar algumas horas comigo! Meu coração se comove com a sua benevolência." Seu pai fez uma cara irônica, Sarah riu.
"Certo. Parem, os dois já provaram o seu ponto. Mas eu queria fazer umas visitas a tarde, cadê o Brave?" Sua mãe perguntou. Gift deu de ombros.
Brave tinha conseguido comprar de Gift o presente que Candid deu a John que era simplesmente o número do telefone de uma das garotas dele. Então ele estava fora.
"Ele não está aqui. Onde está o seu irmão?" Seu pai perguntou. Esse era o problema em se ter um pai Nova Espécie. Quando Brave chegasse, Brass saberia onde esteve e o que estava fazendo.
"Ele saiu."
"Cedo assim?" Sua mãe perguntou. Ela se aproximou de Gift, ele piscou por um segundo, mas depois voltou ao seu ar sisudo. Ele acenou. É claro que sua mãe percebeu onde Brave poderia estar, mas deixou pra lá.
"Bom dia." John entrou na cozinha e como eles eram gigantes naquele pequeno espaço, passaram para a sala de jantar.
"Panquecas?" Sua mãe sorriu e colocou uma montanha a frente dele. Ele se levantou e a beijou nos lábios de leve, com muito carinho.
"Eu também gosto de panquecas, mas você só faz quando John está aqui!" Gift reclamou.
"Eu sou mais bonito, então mereço as panquecas." John disse de boca cheia, Sophia sorriu para ele.
Sarah olhou para ela e seu rosto bonito, jovem, sem rugas de expressão, a pele negra uniforme, perfeita e sem manchas, agora tinha um novo significado, sua mãe era Nova Espécie! E não sabia. Meu Deus!
"Sarah?"
"Oi?" Ela viajou olhando nos olhos escuros de sua mãe. As pupilas pareciam normais. Ela seria primata, então.
"Eu perguntei se você não gostaria de fazer algumas visitas comigo." Ela a olhou entre divertida e preocupada.
"Eu não sei quando vou voltar da..." Ela não soube completar.
"Da..." Seu pai a olhou.
"Eu e Noble. Nós vamos dar uma volta." Seu pai ergueu uma sobrancelha.
"Filha, tem certeza? Você e Patrick acabaram de terminar. E Noble é tão intenso!" Sua mãe segurou na mão dela.
"Noble está sempre namorando, eu nem imagino como ele consegue, eu te aconselharia a não ir com muita sede ao pote." Gift disse, comendo despreocupadamente.
Seu pai acenou.
"Gente! Só vamos dar uma volta, só vamos conversar!" Ela disse.
"Ótimo! Diga a ele que se ele fizer qualquer coisa a mais que isso, vou saber e as bolas dele estarão em risco." Seu pai disse. Sarah abriu a boca para contestar, mas sua mãe se adiantou.
"Lunna tem apenas doze anos, meu amor, Moon pode sair ameaçando chutar as bolas dos outros, você não."
"Mas que graça tem ter uma filhote, então? Ela cresceu tão quietinha, e foi tão rápido! Quando eu ia sair rosnando para os machos ela foi embora e arrumou aquele humano, que, pelo amor de Deus! Quando ele veio aqui, ele cumprimentou John achando que era eu!" Sarah riu e até Gift elevou o cantinho da boca. John rosnou. Ele não parecia estar de bom humor naquela manhã.
"Vocês podiam tentar mais uma vez. Tentar uma filhotinha, mamãe. Você está mais velha, a ciência deu um salto. Honest e Florest estão revolucionando as drogas, eu gostaria de uma irmãzinha. Uma que fosse bem parecida comigo, não com Brave." Ele disse.
"Nem me fale! Eu sou humana, querido. Na minha idade, uma gestação já seria de risco. Mas eu adoraria uma filhotinha parecida com você." Ela o beijou.
"Na verdade seria parecida comigo. Eu sou o pai, vocês devem essa cara bonita a mim." Brass disse com um sorriso malandro. Sua mãe o beijou nos lábios e sussurrou alguma coisa no ouvido dele.
"Por favor, estamos comendo." John gemeu, mas nos olhos dele, Sarah pode ver o quanto ficava feliz ao ver o amor de seus pais.
"Bom, sua mãe já preparou o café, lavem tudo." Seu pai se levantou e eles saíram da sala de jantar. Antes de subirem as escadas sua mãe riu de alguma coisa que seu pai disse. Felizes para sempre, era o que se dizia, não era? Sarah pensou um pouco antes de pensar que aquela felicidade estava sendo ameaçada.
"Bom, eu vou passar o dia na sala de treinamento, assim mamãe levará o Brave nas visitas." Gift disse e saiu.
"Você e Noble estão se reaproximando?" John perguntou olhando para ela fixamente.
"Eu não sei. Como a mamãe disse é muito cedo ainda." John bufou.
"Mamãe! Acha que ela não está dando pulos de alegria por você estar aqui, sem namorado? Você pelo menos imagina o objetivo das visitas?" Sarah inclinou a cabeça.
"Como assim?" John balançou a cabeça.
"Você ficou pouco tempo fora daqui, e já esqueceu que elas adoram se fazer de casamenteiras?" Ele falou, Sarah sorriu.
"É, é verdade." Mas ela não acasalaria com Noble, isso parecia uma coisa definitiva. Embora quando o beijou, ela o sentiu quente. Ele era sensual de um jeito cru, com aquele tamanho todo e os músculos gigantes. E quando ela olhava nos olhos dele, ela via inteligência, bondade e sensibilidade.
Sarah por um momento imaginou seu corpo sendo tocado pelos dedos de Noble do mesmo jeito reverente com que ele tocava seu violino. Ela suspirou.
"Sarah." John disse, ela olhou para ele.
"Hã?" Ele se levantou da mesa e andou de um lado a outro.
"Você pelo menos entende a dádiva que é ter um de nós totalmente vinculado a você?" Ela franziu as sobrancelhas.
"Noble não está vinculado a mim." Ela disse.
"Será que não? Como você pode saber?" Ele se virou para a janela.
"Por que está dizendo isso, John?" Ela perguntou se aproximando dele e o tocando nas costas. Ele se virou, abriu os braços e a abraçou forte. Era tão bom! Mais um abraço antes de tudo desmoronar. Ele descansou o queixo na cabeça dela e falou:
"Eu não estou sabendo lidar com a indiferença de Flora nos últimos tempos. Ela não parece estar apaixonada por ninguém, mas quase nunca está em casa quando eu a visito. Ela vive indo para a casa dos avós dela, me deixando louco de preocupação. Aqueles humanos teimosos não aceitam por nada vir pra cá e ela parece escolher o momento em que estou em missão para ir pra lá. Gift disse que se eu não estivesse inseguro do amor dela, eu não ligaria para as provocações de Simple." Ele falou tudo de uma vez, Sarah fechou os olhos. Ela não podia falar o óbvio, que eles eram muito novos e que ainda havia muita coisa para acontecer entre eles. Era o que uma vez sua mãe lhe disse, não foi fácil de se escutar.
"Flora ainda precisa se conhecer, John. Esse auto aprendizado leva tempo e você tem seu próprio caminho a trilhar. Por que toda essa pressa?" Ele a soltou e se postou a janela.
"Por que eu a quero. Eu já tive minha cota de prostitutas e de sexo casual, eu preciso sentir algo pela pessoa que eu..." Ele se calou.
"Que você fode? Para deixar de ser apenas uma foda?" Ela o encarou.
"Algumas vezes é apenas isso, John. E está tudo bem. Eu sempre sonhei em perder minha virgindade com Noble, agora, olha onde eu e ele estamos, somos amigos que se desejam. Eu tenho medo de me jogar nos braços dele, não querer mais sair e descobrir que ele quer que eu saia. Nunca é fácil." Ele inspirou.
"É, você tem razão. E só que Simple é tão... Ele é tudo o que eu não sou. Eu sou um carvalho, seguro, mas plantado no chão. Ele é uma águia que está sempre voando acima de todos. Um filho da puta que sabe tudo, que sempre está metido em tudo. Você foi perguntar algo a ele não foi?"
Sarah acenou.
"Sim. Mas eu não o vejo assim. Eu o vejo mais como uma cobra. Sempre perto, sempre a espreita, ele poderia ter..."
"O quê?" Sarah balançou a cabeça.
"Nada. Só não se diminua. Flora sabe muito bem quem Simple é. Ele nunca poderia ser uma alternativa a você.
Olha pra você! Você é forte, lindo, inteligente, grande, ágil e ainda sabe desenhar!" Ela sorriu e o sacudiu, tentando animá-lo.
"Já viu os desenhos dele?" Ele perguntou. Sarah balançou afirmativamente a cabeça.
"Não são melhores que os seus, os de ninguém é!" Ela devia dizer isso com mais ênfase, mas os desenhos de Simple eram incríveis. Ela tinha um dela emoldurado em seu quarto. Lindo, perfeito!
"Ok, então Flora nunca se sentiria atraída por ele por que meus desenhos são melhores que os dele?" Ele ergueu a sobrancelha, Sarah riu.
Não era uma conversa alegre, mas naquele momento ela riu. E ele riu também, tanto que ela olhou para a porta e viu Noble parado lá com uma expressão confusa no rosto.
"Eu bati." Ele disse, ela sorriu, ele também. Só então ela reparou que ele estava de coque, ela nunca o tinha visto com os cabelos assim.
Ela se aproximou e ficou nas pontas dos pés para tocar no cabelo dele.
"Eu gostei." Ele sorriu, tímido.
"Foi Lily que fez. Ela me fez prometer que eu não iria desfazer o cabelo durante todo o dia de hoje. Ela disse que quando você me visse assim, iria se apaixonar." Ele disse a última parte com a voz rouca.
Sarah sorriu, sem saber o que dizer.
"Eu vou ver o meu pa... É, quer dizer, vou sair por aí." John ia saindo quando Sarah disse:
"Nós vamos ver o Gabriel, John." Ele ergueu as sobrancelhas. Ele achava que ninguém sabia que ele chamava Gabriel de padrinho?
"Por quê?" Ele cruzou os braços. A expressão carinhosa com que sempre a olhava se tornando sombria. Ninguém ia ver Gabriel a toa.
"Você vai saber. Ainda hoje ou até amanhã. Mas precisa confiar em mim." John suspirou.
"Diga que eu vou lá amanhã, então. E que eu estou com saudade." Ele beijou a testa dela e saiu.
"Isso foi tão fácil. Se fosse um dos meus irmãos eu teria de desmaiá-lo e o amarrar numa árvore grossa. Como fez isso?" Ele sorriu, um sorriso aberto mostrando as presas.
"Meus irmãos são melhores que os seus, só isso." Ela o provocou.
Ele se aproximou, a pegou nos braços, a jogou no sofá e se deitou sobre ela.
"Eu não posso deixar você falar algo assim dos meus irmãos e sair impune." Ele começou a fazer cócegas nela. Ela riu, mas ele começou a alisar sua barriga, Sarah parou de rir.
"Sarah está tendo um infarto? Por que é a única coisa que justifica você estar em cima dela." Brave disse chegando a sala pela porta da sala de jantar. Noble saiu de cima dela com um salto. Foi uma pena, Sarah pensou.
"Você não tem de tomar banho?" Ela perguntou, Noble franziu o nariz.
"Tem mesmo." Ele completou. Brave o encarou, mas se virou e subiu as escadas correndo.
"Eu nunca pensei que veria Brave correr para tomar banho." Noble disse e eles riram.
"Vamos logo. Mamãe vai fazer visitas a tarde e é melhor que eu vá."
"Por quê?" Eles saíram e subiram no jipe da mãe dele.
"Por que ela e as Marys vão começar a querer nos juntar, mas se eu estiver junto, vou deixar bem claro que não vai rolar." Ele assentiu concordando.
"Bom, então espero que passem na minha casa primeiro." Ele disse, Sarah suspirou. Ele não queria nenhuma associação a ela que fosse diferente de amizade.
"Eu quero mesmo abraçar sua mãe." Ela disse e era verdade. Tammy era carinhosa, sempre a tratou como a uma filha, como se ter dez filhotes fosse pouco e ainda sobrasse muito amor para dar.
"Hoje ela está bem, está animada, fazendo papai mudar as coisas do lugar." Sarah riu.
"Eu gostaria de ver isso!" Ele sorriu triste. Sarah entendeu. Antes era Honor que ficava trocando as coisas de lugar para Tammy. Sarah cansou de chegar a casa deles e Honor estar segurando algum móvel gigante e pesadíssimo.
Ele dirigia em silêncio, Sarah aproveitou para analisá-lo. Não tinha mudado nada desde os quatorze ou quinze anos, que foi mais menos quanto ela o conheceu. O coque destacava as feições fortes, mas harmônicas no rosto simétrico dele. Não havia nenhuma delicadeza nas maçãs do rosto altas nos olhos puxados, no nariz que ainda que fosse um pouco achatado era perfeito, bem feito, os lábios cheios eram um detalhe a parte e por fim o queixo quadrado. Ele usava uma barba rala, bem feita, ruiva como seus cabelos de fogo. Usava uma camiseta colada no peitoral gigante, as mangas curtas pareciam que iam rasgar a qualquer momento. E a calça jeans...
Sarah parou com essa linha de pensamento. Iam saber o que pudessem sobre sua mãe, só isso. Ela precisava estar preparada para o que pudesse vir a saber.

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