CAPÍTULO 29

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No fim das contas, quando Noble foi atrás de Candid, ou Simple, para tirar a história de terem trocado a limpo, Candid tinha sumido. Sarah se lembrava de ter rido da cara de Noble e ele a colocou no ombro correndo com ela de cabeça para baixo até a cabana deles.
Quando, ao descê-la, ela vomitou, ele se ajoelhou e pediu mil desculpas.
Agora, no dia seguinte, Sarah ainda estava com o estômago meio enjoado, mas não contou a Noble, pois ele ficaria mal em saber disso.
Ela estava sentada numa banqueta da bancada que separava a cozinha da sala comendo a deliciosa salada de frutas que Candid tinha deixado lá mais uma vez junto de uma grande vasilha com carne de gato selvagem, a preferida de Noble, quando ele saiu do quarto vestido com uma calça jeans escura de um corte reto, elegante, e uma camisa preta. Ele não era muito de se arrumar, vivia quase sempre vestido com calças de moletons e camisetas, então, vê-lo vestido de maneira simples mas elegante fez o coração de Sarah disparar. Ainda mais que ele prendeu uma parte do cabelo, ficando ainda mais bonito.
"Onde você vai?" Ela perguntou, ele tomou a colher da mão dela e encheu a boca com a salada de frutas. Ele mastigou devagar, como se estivesse tentando descobrir algum ingrediente escondido.
"O que tem nessa salada de frutas que você gosta tanto?" Ele perguntou, ela deu de ombros.
"Eu não sei. Eu gosto de frutas. E acho um que é carinho de Candid para comigo, então, eu como. Ele fez carne para você também." Ela indicou a vasilha, Noble comeu toda a carne que havia lá.
"Mas não me respondeu. Onde está indo?" Ele sorriu.
"Sala de treinamento, aula de música." Sarah ergueu as sobrancelhas.
"Como assim?" Ele não precisava se arrumar todo para dar aula de música para os filhotes.
"O filhote de Pride parou de se mexer, ele não vai sair de perto de Minerva, então vou dar aula no lugar dele." Sarah assentiu.
"Mas por que essa roupa?" Ele baixou os olhos.
"Eu não tenho muitas oportunidades de me arrumar para você, então..." Sarah se jogou nos braços dele, ele a beijou.
"Você está lindo! Perfeito!" Ela sorriu o maior sorriso que conseguiu.
Ele continuava com os olhos baixos.
"E... Bom, vamos sair amanhã a noite?" Ela assentiu e encheu o rosto dele de beijos.
Ele a afastou, seus olhos estavam quentes.
"Eu já estou em cima da hora. Quer ir comigo?" Sarah ficou sobre seus pés e sorriu.
"Digamos que meus ouvidos são muito sensíveis. E que vou aproveitar as horas que você estará com os pestinhas para descansar." Ele sorriu.
"Desde que esteja na cama nua quando eu voltar, tudo bem." Sarah ficou séria.
"Vou pensar no seu caso." Ele a beijou e saiu.
Ela terminou de comer a salada de frutas, achando engraçado que cada vez era uma combinação de frutas diferentes. Candid era mesmo um fofo. Ou Simple sabia fingir ser seu irmão com maestria.
Ela ia se deitar quando um jipe parou a frente da cabana e alguém bateu na porta.
Sarah abriu e eram Jericho e Patrick.
"O senhor Lennisworth pediu para falar com você, Sarah, antes de ir embora. Eu estarei a distância, mas qualquer coisa, basta chamar." Jericho disse colocando o jipe em movimento.
Patrick entrou na cabana, Sarah se sentou no sofá, ele olhou ao redor.
"Tudo muito simples, mas você nunca foi de luxos." Ele tocou no cachorrinho de madeira e o colocou contra a luz.
"Isso é de madeira? É muito bem feito." Sarah sentiu vontade de tomar o cachorrinho dele, mas se segurou. Jericho não estava longe, mas algo a incomodou, ele estaria ali por que Noble não estava?
"O que quer, Patrick?" Ela perguntou, ele sorriu. Sarah o comparou com Noble, ela não pôde evitar. Patrick era menor e mais fraco, ainda que fosse inteligente e simpático. Noble era...
Sarah entendia agora o que viu em Patrick. Ela viu o oposto de Noble.
"O que eu quero? Por onde começar? Eu quero que a putinha que transformou meu pai num vegetal pague por isso, só para começar. Eu quero ver todos os que invadiram minha casa presos. Eu quero não me sentir descartado... A lista é grande, Sarah. Mas eu não sou um idiota e sei que não dá pra querer tudo. Porém, há uma coisa que eu posso fazer, uma coisa que não vai calar meu desejo de vingança, mas vai me dar alguma satisfação." Ele percorreu o corpo de Sarah com lascívia nos olhos.
"Se me tocar, você morre, simples assim." Sarah estalou os dedos mostrando o quão era simples.
"O amor da sua vida. Acha que eu seria idiota de dar um motivo para aquele animal me fazer em pedaços? Acha que sou burro a esse ponto?" Sarah suspirou cansada. A salada de frutas acalmou o estômago dela, mas a conversa estava a deixando meio tonta. Noble não devia ter corrido com ela no ombro de cabeça para baixo.
"Fale logo e vá embora, ou não fale, dá no mesmo pra mim, só vá." Ela ligou a tv, estava louca para se deitar.
"O que sabe sobre o veneno de Bronzy?" Ele pegou outro bibelô, dessa vez a bailarina de vidro.
"Fale, Patrick, vá logo ao ponto, estou com sono." Ele colocou a bailarina em outro lugar, franzindo os lábios desgostoso.
" O animal não te deixa dormir direito? Não me olhe assim, ele é um animal. Bom, voltando a Bronzy: ela precisa de um antídoto, ela te contou?" Sarah balançou a cabeça negando.
"Pois é. Tome. Dizem que os médicos daqui são muito bons, eu estou apostando que não." Ele sorriu. Sarah pegou a ampola que ele estendeu e segurou na mão.
"Quanto tempo isso dura?" Ele aumentou o sorriso.
"Duas ou três semanas, se ela conseguir controlar seu emocional, talvez chegue a um mês. E é exatamente um mês que você terá para decidir." Sarah não estava gostando nada daquela conversa, mas ficou calma. Ela tinha seu pai, seus irmãos, Noble e a família dele e se isso não bastasse, toda uma população Nova Espécie por ela, isso a fez olhar com calma para ele, seus olhos levemente piedosos. Patrick estava mostrando que era um pobre garoto rico, mimado e meio idiota.
"Você sempre teve esse olhar altivo, isso me fez te admirar, sabia? É lógico que pra mim era como se dissesse que você era uma puta de um animal poderoso, mas ainda assim, era excitante." Sarah não mexeu um músculo de sua face, ela esperou.
"Você tem um mês para sair daqui e embarcar num helicóptero comigo, se não fizer isso, Bronzy morre." Foi a vez dele esperar.
"Não. Você tem alguns segundos antes de entregar a fórmula desse antídoto aqui antes que eu peça para Jericho ir buscar Noble. Eu particularmente não queria tirá-lo da diversão de dar aula para os filhotes, mas farei." Ela colocou o fraquinho contra a luz, era um líquido branco, viscoso. Patrick se adiantou sobre ela, pegou a ampola das mãos de Sarah e o jogou no chão. Ela se assustou com o barulho do vidrinho de espatifando.
"Agora você tem poucos dias. Não devia ter brincado comigo." Ele disse se levantando.
"Podemos fazer mais." Sarah disse, mas sua voz tremeu.
"Não, não podem." Ele disse, saindo da cabana.
"Patrick! Você vai ficar preso aqui até dar a fórmula. Eles tem jeitos muito dolorosos de fazer você falar." Ele sorriu.
"Eu não tenho a fórmula. Samantha é que tem. A conhece?"
A mente de Sarah deu algumas voltas, ela tinha de saber o que ele planejou.
"Patrick, eu não entendi o que você quer. Noble nunca me deixaria ir daqui, eu não vou com você." Ele se apoiou numa viga do telhado da pequena varanda da cabana e cruzou os braços, seu rosto demonstrava satisfação.
"Samantha tem a fórmula, só ela. Papai sempre pagou uma fortuna pelas ampolas, essa é a última. Ela já deve saber que Bronzy está aqui, mas me fornecerá o antídoto se eu pagar. Eu só pagarei se você vir comigo."
Sarah o encarou. Dinheiro não era problema, mas Samantha não venderia nada para eles.
"Por quê?" Sarah perguntou, ele deu de ombros.
"Por que eu quero que você sofra. Você me usou para provocar ciúmes naquele animal e na primeira oportunidade me deu um pé na bunda. E agora está aqui, nesse paraíso de pobre sendo a puta dele. Isso não é justo. Ele vai sofrer e você vai também."
"Você deve estar brincando! Seu pai me ameaçou! Ele queria um filhote de Noble! Como eu poderia ficar com você depois disso?" Ela disse, tentando não se exaltar.
"Você nunca me amou, Sarah. Você me usou. E agora eu vou usar você para me vingar desses animais."
A cabeça de Sarah não estava funcionando direito. O que ele poderia fazer contra ela? Bastava que Sarah contasse para Noble e ele rasgaria Patrick em dois.
E era com isso que ele contava. Se ele morresse, Samantha não venderia as ampolas. Bronzy tinha poucos dias ele também contava com a urgência. Patrick nunca intentou dar o antídoto a eles.
"Samantha não venderia o antídoto para você." Ele sorriu.
"Venderia. Ela precisa de dinheiro. Bronzy aqui ou em minha casa não faz diferença para ela. Samantha está montando um exército. Um que faça frente ao seu povo. Ela precisa de dinheiro." Sarah não pôde evitar pensar que talvez pudessem interceptar o envio das ampolas, talvez fosse um dos clones que fosse fazer a entrega, talvez...
"Venha comigo e daqui a alguns dias uma remessa de ampolas será entregue aqui. Ou não venha e a veja morrer, ou conte para o seu animal e ele me matará." Ele disse olhando para o lago.
"É claro que se algo acontecer comigo, todos vocês vão pagar na justiça dos Estados Unidos. Ele irá preso e talvez o exército seja nomeado como gestor desse lugar. Isso só para começar. Você decide." Sarah engoliu em seco, era muita informação para a cabeça dela.
Um barulho a direita a fez virar a cabeça, Noble vinha correndo a distância. Ele tinha tirado a camisa, provavelmente para correr melhor.
"Me dê um dia. Eu preciso pensar." Patrick ficou olhando Noble se aproximando.
"Tanto poder! E ele só quer foder você, que desperdício!" Ele balançou a cabeça. Noble diminuiu a velocidade até parar na varanda. Ele olhou para as pernas de Sarah, ela usava um vestido simples de alcinhas, curto. Patrick também olhou para as pernas dela e sorriu, Noble rosnou.
"O que está fazendo aqui?" Patrick olhou para Sarah, ela implorou com os olhos para ele.
"Vim me despedir. Até pouco tempo atrás, era eu que dormia com ela." Noble abriu as ventas do nariz.
"Vá embora." Ele disse, Patrick sorriu.
"Um de vocês, como é mesmo o nome dele, querida? Um nome bíblico não é? Ele me trouxe, estou esperando-o voltar." Ele chamou Sarah de querida com tanta doçura, Sarah se encolheu. Noble ia atacá-lo.
"Senhor Lennisworth, vamos?" Graças a Deus, Jericho parou o jipe, Patrick sorriu para Sarah, disse 'um dia' e subiu no jipe. Noble ficou olhando o jipe por um bom tempo mesmo depois que o veículo sumiu na estrada.
"Não devia conversar com ele pelas minhas costas." Noble disse, a cara fechada, o rosto sério.
"Eu não fiz nada pelas suas costas. Ele chegou aqui e conversamos, só isso." Noble a encarava, Sarah torcia para não parecer tão desesperada quando estava por dentro.
"Não vai falar mais com ele. Nunca mais." Ela não fazia questão nenhuma de falar com ele, mas o que ele estava fazendo, decidindo com quem ela falava ou não, era errado.
"Não pode me impedir de falar com quem eu quiser. Eu e Patrick não temos mais nada, eu estou com você." Ela disse. Aquilo estava a matando por dentro, Sarah tinha de ir falar com sua mãe e com Bronzy. E talvez com Honest e Candid.
"Se ele chegar próximo de você de novo, eu o matarei. Se não se importa com a vida dele, se aproxime dele." Noble disse, sua voz no mesmo tom com que falava com os irmãos. Sarah, todavia, não era irmã dele.
"Pare com isso, Nob. Ele já foi, não voltará mais aqui." Ela tentou acalmá-lo, porém. De nada adiantava discutir.
"Cadê a sua camisa?" Ela perguntou, ele olhou para as mãos. Era nítido o esforço dele para se acalmar, ela o abraçou.
"Não precisa ficar tão nervoso, Nob. Eu estou aqui." Ele a apertou nos braços.
"Eu senti o cheiro dele aqui e saí correndo, a camisa era justa, eu a tirei e joguei na estrada." Ele afastou o rosto de Sarah para olhá-la nos olhos.
"Era uma camisa bonita." Ele encostou sua testa na dela e fechou os olhos.
"Eu estou por um fio. Eu quero ir atrás dele e despedaçá-lo!" Sarah sentiu seu coração disparar, ele estava falando sério.
"E eu quero que você me possua. O que vai escolher?" Ela perguntou.
"Você." Ele disse tomando os lábios dela com volúpia, com loucura. Sarah se deixou ser levada para dentro, Noble se sentou com ela no sofá, rasgou seu vestido e só baixou as calças libertando seu pênis para que ela se sentasse sobre ele. Sarah desceu seu corpo sobre a grossa coluna, ela pensava em se ajeitar, mas não teve tempo, Noble tomou o controle, a subiu e desceu sobre seu pênis com rapidez e força, Sarah gritou quando o clímax a tomou, Noble rugiu. Ela descansou a testa num ombro dele, ele ainda estava totalmente duro dentro dela, isso indicava que eles iriam levar um bom tempo fazendo amor, tempo que Sarah não tinha.
"Nob, eu estou cansada e dolorida. Você foi um pouco bruto." Ela disse, ele a pegou nos braços e a levou para a cama.
"Eu vou atrás da minha camisa. Descanse um pouco." Ele daria alguns minutos para ela se recuperar, ela precisava falar com sua mãe e Bronzy.
"Eu preciso falar com minha mãe. Eu estou me sentindo estranha, cansada..." Ele a olhou desconfiado.
"Quer ir para o hospital?" Ele inspirou profundamente e Sarah entendeu o que ele pensou. Novas Espécies detectavam gravidez pelo cheiro, ela tinha tomado a fórmula da doutora Mônica, mas ele adoraria se a tal fórmula falhasse.
"Não. Eu só quero conversar um pouco com a minha mãe. Coisa de mulher, Nob." Ele a encarava, Sarah sentia que ele podia ler a mente dela. Falando em mentes... Sarah buscou seu tio em pensamento, ele não demorou a responder:
"Estou indo."
Sarah suspirou, seu tio ajudaria.
"Quer que eu a chame?" Ele perguntou, seu rosto ainda desconfiado.
"Eu mesmo ligo para ela, vá procurar a sua camisa."
"Que se foda a camisa. Você vomitou ontem." Ele disse.
"Eu estou bem, Nob! Só quero falar com a minha mãe, você permite?" Ele rosnou baixo, Sarah estava vendo em primeira mão o quanto ele era teimoso.
"Sarah?" A voz de seu tio na varanda, tirou a atenção dele de Sarah. Ela correu para o quarto, nem tinha reparado que estava meio nua com o vestido rasgado.
"Já vou, tio." Ela respondeu.
Enquanto tomava um banho rápido, Sarah tentava ouvir a conversa deles, mas falavam muito baixo para os ouvidos humanos dela. Ela saiu do banheiro e ouviu a porta da sala se fechar, quem teria saído?
Sarah vestiu qualquer coisa e saiu do quarto, seu tio arrumava os bibelôs de Simple.
"Onde Noble foi?" Vengeance lhe tocou o rosto e sorriu.
"Para o heliporto. Eu meio que disse que Jericho comentou que o humano abraçou você. E também deixei escapar que o helicóptero dele ainda não decolou." Os olhos de Sarah quase rolaram de suas órbitas.
"Tio!" Ele sorriu.
"Eu tive que pensar rápido. O que você queria?" Ele riu.
"Eu preciso falar com a minha mãe e com Bronzy, mas ele estava querendo me..." Ela baixou os olhos.
"Te confirmar como dele." Ele fez aspas com os dedos, ela acenou.
"Então vamos." Vengeance disse, a colocou nas costas e correu. Pelo menos era melhor que de cabeça pra baixo no ombro de Noble.

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