CAPÍTULO 34

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Uma semana tinha se passado e Patrick estava cada dia mais insistente. Sarah não sabia mais o que fazer ou dizer para afastá-lo. Ela estava a mesa do café da manhã, ele falava ao telefone, mas seus olhos a queimavam. Não de um jeito bom.
Ela se levantou e saiu para a varanda, a casa era magnífica, a sala de jantar dava para um jardim lateral onde havia um labirinto daqueles das casas inglesas. Ela olhou para Patrick que se exaltava por alguma coisa e xingava quem estava do outro lado da ligação, e fez sinal de que iria para o labirinto, ele assentiu.
Ela inspirou o cheiro delicioso do jardim e começou a andar a esmo pelos corredores de cerca viva. Era um lindo lugar, ainda que ela não iria chegar ao centro, pois depois de alguns minutos de caminhada, ela já estava cansada.
Ela sorriu e tocou seu ventre, a fórmula da doutora Mônica falhou e ela deveria estar já com umas duas semanas de gestação. Ela vestia um vestido longo, solto, mas mesmo assim sua barriga já era visível, ela estava tentando escondê-la de Patrick, então perto dele ela sempre se sentava e abraçava uma almofada. Ele estava absorto esses dias, seu pai não estava bem, era questão de tempo até que ele morresse.
Eustace Lennisworth tinha muitos negócios, muitas empresas e Patrick quase sempre estava em reuniões. Isso ajudou Sarah, mas seu tempo estava se esgotando, ela não conseguiria esconder a gravidez por mais que ele quase não se aproximasse. Suas pernas doíam, ela parou. Não sabia onde estava. Que burrice!
"Olá?" Aquele lugar fervilhava de empregados, muitos eram aprimorados e a ouviriam.
"Estou indo."
A voz de seu tio na mente dela a preocupou e acalmou ao mesmo tempo, Sarah se sentou no chão. Ela esperou e não demorou muito seu tio a pegava nos braços e caminhava com ela até o centro do labirinto.
Chegando lá havia uma fonte e um banco, ele se sentou sem tirá-la do colo.
"Tio! Isso é muito perigoso! Os soldados daqui..." Ele bufou e depois sorriu, um dos sorrisos malandros dele. Sarah sentiu tanta falta dele! E de sua mãe e de seu pai! E... Ela começou a chorar copiosamente as lágrimas inundavam o rosto dela, seu coração doía, sua garganta estava apertada. Vengeance a abraçou apertado e alisou seus cabelos esperando pacientemente ela parar de chorar.
"Desculpa, tio. Acho que é..."
"Os filhotes?" Ele tocou na barriga dela e sorriu
"Filhotes?"
Filhotes? Mais de um? Sarah sentiu seu coração disparar, uma alegria imensa tomou conta dela ao mesmo tempo que uma preocupação ainda maior.
"Valiant vai ficar insuportável! Ele já tem Sheer e Proud, agora vai ganhar mais dois machos!" Sarah riu. Valiant e Vengeance competiam por tudo!
"Tem certeza de que são dois? E machos?" Ela perguntava sorrindo, não conseguia parar de sorrir.
"É claro. Não deixe ele dar nomes a eles, eu não gostei de Proud, e foi ele que o nomeou."
"Acho que combina com o nome de Pride, é quase como se fosse Pride Junior, tio. Eu acho bem criativo."
"'O grande leão que dá nomes bobos aos seus netos'. Eu estou doido para chegar a Reserva e dizer isso a ele." Sarah riu.
"E ver a minha fêmea também. Não só 'ver' se você me entende." Ele sorriu malicioso.
"Por mim, eu iria embora, tio. Tem notícias de Honest?"
"Não. E isso é estranho. Mas eu espiei toda a casa, há quinze aprimorados, além de mais de trinta trabalhadores. Temos de esperar. Ele tocou em você?" Sarah fez que não com a cabeça.
"Não deve demorar, ele vai perder a paciência e quando descobrir essa barriga, pode querer te tirar daqui." Seu tio falava mais para si próprio do que com Sarah.
"Eu estou com medo." Ela disse, ele sorriu.
"É claro que está, eu também estou. Mas enquanto houver fôlego em mim, eu te protegerei." Ele colou sua testa na dela, Sarah fechou os olhos. Ela estava ali por Bronzy, não foi uma escolha leviana. A quatorze anos atrás, ela colocou o corpo inerte de Bronzy no chão e não contou a sua mãe sobre ela. Se tivesse de morrer por sua irmãzinha, que fosse.
Vengeance afastou o rosto e sorriu, logo depois Sarah ouviu um grande barulho, algo como uma explosão.
Vengeance riu e a abraçou.
"Seu macho está aí." Ele continuou rindo.
"Por que está rindo?" Sarah imediatamente temeu pela vida de Noble.
"Por que eu ganhei a aposta." Ele ficou de pé com ela nos braços e inspirou.
"Ele não está sozinho, Brass e seus irmãos estão com ele. Até Valiant está!
Mas que porra! Ele vai matar um monte de aprimorados e eu não!" Seu tio parecia realmente chateado.
Ela se agarrou ao corpo de Vengeance e os barulhos de tiros, rugidos, uivos, rosnados tomaram os ouvidos dela.
"Estamos seguros aqui, querida." Seu tio disse no ouvido dela.
"Então você veio." Vengeance se levantou do banco colocando Sarah no chão e a empurrando para trás dele. Patrick apontava uma pistola para eles.
"Não pensou que ela viria sozinha, pensou? Se pensou, você é mais idiota do que parece." Vengeance respondeu.
"Essas balas são especiais, quantas você aguenta?" Ele disse, seus olhos pareciam desesperados, Sarah tentou dialogar:
"Patrick, sua casa foi invadida, me deixe ir, você tem de cuidar de seu pai." Ele balançou a cabeça.
"Não há esperança para ele e eu não me importo. Você não respondeu, Vengeance, quantas balas você aguenta?"
"O suficiente para me aproximar e torcer seu pescoço." Vengeance respondeu com um rosnado.
Patrick ergueu as sobrancelhas e disse:
"Eu topo." Ele atirou, Vengeance desviou do tiro, mas um barulho atrás de Patrick o fez se virar atirando e Sarah gritou quando viu Noble ser atingido por dois tiros. Aquelas balas eram letais! Vengeance saltou sobre Patrick e, sem misericórdia torceu o pescoço dele.
"Noble! Tio! Noble foi atingido! Noble!" Ela correu até o corpo de Noble e se deixou cair sobre o corpo dele, uma grande quantidade de sangue saía de um tiro em sua barriga.
Sarah tentou fazer pressão sobre a ferida, as lágrimas não deixavam-na enxergar nada a sua volta, alguém a tirou de cima dele, ela começou a espernear e gritar até que sentiu uma picada de agulha em seu braço. Ela ainda gritava quando tudo ficou escuro.

Noble morreu numa segunda-feira e diferente dos outros que foram cremados, ele foi enterrado. A cerimônia foi linda, as crianças cantaram uma música enquanto Valiant e seus filhotes, até as florzinhas, cavaram a terra onde seria sua cova com as mãos nuas. Tammy estava imóvel observando e continuou imóvel quando desceram o caixão na cova.
Ela suspirou e deixou as lágrimas descerem por seu rosto bonito, eram poucas lágrimas, ela parecia seca, parecia que já havia secado todo o líquido em seu corpo chorando.
Sarah segurava a mão de sua mãe, Sophia também tinha os olhos inchados, mas como Tammy, ela estava imóvel.
"Ele sempre amou você. Eu sei que você quer ir daqui, mas fique, vai valer a pena." A pequenina Lily disse, Sarah a abraçou.
Logo, no lugar da cova havia um monte, Ben e Flora trouxeram mudas, Flora tocou na terra, as flores plantadas desabrocharam, um lindo canteiro de rosas se formou, ninguém sabia que Flora podia fazer isso, mas não pareceu estranho a ninguém.
Daí os jipes foram saindo, uma procissão se formou na estrada que levava a área familiar.
Sarah não saiu do lugar, a tristeza a paralisou, sem Noble ela não era nada.
Sem Noble nenhuma profissão poderia ser satisfatória, nada fora dos braços dele lhe faria feliz. Mesmo que ela alcançasse a glória e fosse a número um do marketing mundial, ainda assim, sem ele, ela não era nada.
Sarah olhou o jardim, as rosas eram brancas, azuis e amarelas, um bom lugar para se deitar. Ela se sentou e depois baixou o corpo no canteiro, as folhas e as rosas amaciavam o chão, não era áspero e era perfumado.
E ali ela ficaria para sempre, não havia nada para ela além daquele canteiro de rosas, ela só esperava que sua família aprendesse a conviver com a falta dela, pois até que morresse, ela nunca sairia dali.

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