CAPÍTULO 31

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O helicóptero pousou na ilha e Sarah se admirou da beleza do lugar. Patrick a ajudou a descer, ela não queria tocá-lo, mas o piso do helicóptero era alto.
"Você vai adorar a casa!" Patrick disse como se fosse uma viagem romântica, como as que eles faziam antes. Sarah não respondeu.
Eles fizeram um acordo, Sarah só embarcou quando as ampolas foram entregues, dois dias depois dele ir embora da Reserva. Ela o fez jurar que não a forçaria, ele concordou, desde que ela fosse uma boa companhia. Ele parecia acreditar que conseguiria que ela permitisse que ele a tocasse, Sarah não se importava a mínima com ele.
A casa era realmente uma mansão de sonhos, era uma daquelas vilas espanholas que mais pareciam um resort do que uma casa. Vários empregados iam de um lado a outro, Sarah nem mesmo olhou na cara deles, ela não estava ali para ser simpática.
Ele a guiou até um quarto luxuoso, ela olhou para a cama e a vontade de dormir bateu forte, nem parecia que ela tinha dormido durante todo o vôo.
"Vou me deitar. Me chame na hora do jantar." Ela disse e ia fechar a porta na cara dele, mas ele não saiu do lugar.
"Acha que vai me evitar? O trato foi que você seria uma companhia agradável. Tome um banho e me encontre no terraço." Ele se virou, Sarah fechou a porta com um suspiro. Quanto tempo aquilo duraria?
"Honest está quase conseguindo copiar a fórmula do antídoto, seja forte."
A voz de seu tio lhe acalmou. Ele conseguiu seguí-la, isso era tudo o que ela precisava para aguentar firme.
Sarah tomou um banho, vestiu um biquíni, uma saída de praia por cima e foi até o terraço. Quando chegou lá se arrependeu por não ter usado o elevador, suas pernas doíam.
"Venha aqui, minha querida." Patrick indicou uma mesa onde baixelas de prata continham alguma comida e um bonito jogo de jantar estava posto. Sarah se sentou e um empregado encheu a taça dela de vinho.
"Não. Não quero vinho. Quero água." O criado abriu uma garrafa de uma cara marca de água e encheu outra taça. Sarah tomou a garrafa dele, tomou a água da taça e o restante da garrafa.
"Mais, por favor." O criado pegou outra garrafa, Sarah tomou da mão dele antes que ele enchesse a taça.
"Se mostrando mal educada? Isso não me choca." Sarah deu de ombros e pediu mais uma garrafa. O criado entregou, ela tomou tudo novamente.
"Eu só estava com sede." Ela disse.
Patrick pegou a taça de vinho e estendeu a ela.
"Você gostava particularmente deste. Mas talvez você não possa beber?" Ele olhou para a barriga de Sarah ela deu de ombros de novo, tomou todo o vinho e estendeu a taça pedindo mais.
"Eu ainda adoro esse vinho." Ele mesmo a serviu, ela voltou a tomar tudo.
"Lembra quando você o tomou pela primeira vez?" Ele disse com um sorriso, ela sorriu também, mas foi um sorriso triste. Patrick foi um bom namorado, foi um golpe muito grande ela descobrir o que ele escondia dela.
Mas ela tinha de ser agradável, então se empenhou em conversar com ele, esperando ansiosa pelo momento em que pudesse dormir.
Era mais de meia noite quando Sarah finalmente se deitou. Patrick tinha a acompanhado até o quarto, mas graças a Deus, ele não tentou entrar.
Sarah fechou os olhos e suspirou, rogando a Deus que o sono viesse logo, pois se não, ela pensaria em Noble.
Honest deveria estar passando os dias e noites sem dormir para replicar o antídoto, ela confiava nele. Logo estaria de volta aos braços fortes de Noble.

Candid apoiou a mão esquerda na pedra errada, ela caiu, ele foi obrigado a socar a rocha. Puta que pariu! Aquela porra doía! Ele, porém viu que dali para cima as pedras podiam se soltar com mais facilidade, então parou de segurar em pedras e foi socando a rocha. Merda!
Mas faltava pouco e não demorou e ele estava no topo. A vista era deslumbrante! E dava para ver toda a vila de Eustace dali. E que coincidência! Lá estava Sarah num dos terraços sentada a mesa com o humano ridículo. Ele sorriu. Haviam outros planos paralelos se desenrolando. Ele esperava que tudo desse certo para ela e quem estivesse... Ele inspirou. Seu tio. Isso era bom, ele não precisava se preocupar. Ele procurou pelo cheiro de Noble, mas não o sentiu, onde ele estaria? Nessas horas ele amaldiçoava o fato de Simple ser tão superior. Se Simple não sentia o cheiro de alguém, ele tinha certeza de que esse alguém não estava ali, mas no caso de Candid, ainda havia uma pequena dúvida.
Mas Noble não seria capaz de estar perto de Sarah sabendo que ela estava sentada a mesa com aquele pau no cu. Noble rugiria e partiria pra cima do humano e quebraria seu pescoço fino, logo, ele não estava ali.
Estaria sofrendo a distância? Estaria. Noble amava Sarah e pelo tempo que ficaram na cabana deles, ele já deveria estar vinculado. Candid bufou, ele não iria colocar o plano dele a perder por causa de Sarah. Seu tio daria um jeito!
O barulho das asas o fez se esticar, suas mãos estavam curando, ele quebrou um dedo que estava curando torto com um gemido.
"Socou a pedra?" O desgraçado riu, Candid não respondeu. Não que ele estivesse sem palavras, é claro que não.
Era um ser surpreendente, mas ele tinha se preparado, embora talvez se Hon e Sim estivessem com ele, Candid se sentiria mais seguro.
Ele acalmou as batidas de seu coração e respirou fundo, aquilo era o risco máximo a que alguém como ele poderia correr.
"Noah me falou de você, ele disse que você era o mais poderoso dos três, mas eu acho que não." Os olhos azuis límpidos piscaram. Olhos antigos, velhos e sábios.
"Noah é apaixonado por mim, sabe como é, né? Eu sempre serei o melhor de qualquer coisa para ele." Ele sorriu. Seus dentes eram bonitos, retos, ele não tinha presas.
"Esse seu jeito debochado não funciona comigo. Não precisa encenar seu personagem, eu conheço você. Por baixo de toda essa sua empáfia, eu só vejo um filhotinho de quase dezesseis anos. E isso não me atrai em nada. Então me diga, Candid, o que me impede de voar até acima das nuvens com você e o soltar de lá?"
Candid sorriu.
"E como me pegaria? Você é grande, mas não é mais forte que eu." Adriel sorriu.
"Como sabe que é mais forte que eu? Você não me conhece." Candid se sentou no chão de pedra.
"Eu o conheço. Acho que sempre o conheci." Ele piscou. Candid olhou para a vila, Sarah e Patrick tinham ido embora do terraço.
"Seu irmão já traçou planos melhores. Ele permitiu que Sarah viesse para as minhas mãos." Candid franziu o nariz.
"Ela não tem serventia para você. E Patrick merece o que vai acontecer com ele, ele tocou no que é do meu irmão." Foi a vez de Adriel sorrir.
"Se é do seu irmão, o que ela fazia dormindo com Patrick todos esses anos?"
"Eles precisavam desse tempo. E quando eu digo em tocar no que é de Noble, eu estou falando desse momento." Ele assentiu.
"Bom, o que você quer? E como espera me obrigar a fazer ou dizer o que quer?" Os olhos dele brilharam divertidos na escuridão.
"Sabe, eu sempre pensei que o primeiro a me encontrar seria Simple. Se não ele, eu até já pensei em Honest, e você sabe o quanto isso é improvável, mas você? Estou muito surpreso. Ainda mais quando Bronzy está em perigo." Candid não sorriu, ou mudou sua expressão.
"Ela não está. Simple está com ela." Adriel balançou a cabeça.
"O antídoto que Samantha enviou nada mais é que um paliativo. A fará pensar que a produção de veneno está sob controle, mas em algum momento, o corpo dela vai começar a produzir sem parar até que ela sufocará em seu próprio veneno."
"Cobras são imunes a seu próprio veneno." Candid disse.
"Mas ela não é uma cobra, é?" Ele sorriu, Candid sorriu também.
"Simple parece estar apaixonado por ela, será uma pena."
"É, é uma pena." Candid jogou o cabelo para trás.
"Terá um lado bom, você não poderá mais usar os olhos dela para nos espionar." Ele encarou Candid.
"Haverá outros, sempre há." Isso Candid concordava com ele.
"Sua mente não é tão fechada a mim como você pensa, sabia?" Candid deu de ombros, não importava.
"Eu não tenho nada a esconder. Mas que tal irmos direto ao ponto?" Ele se sentou. Suas asas eram negras, com as pontas brancas, enormes. Tanto que ele meio que se sentou sobre elas.
"Fale."
"Eu quero que busque Honor. Voe até a ilha em que ele está, o pegue e o traga pra mim." Adriel riu. Riu tanto que Candid se sentiu contagiado e riu também.
"Eu nunca acreditei muito quando diziam que você era engraçado, mas eu admito, você é realmente engraçado."
Candid sorriu, Adriel enxugou os olhos, ele achou mesmo graça.
"Quando foi a última vez que viu sua mãe?" Ele ficou de pé, Candid também. Ele abriu as asas, seus pés ficaram flutuando, Candid o encarou.
"Acha que não sentiríamos o seu cheiro em Isaac? Ou em Missy?" Ele rugiu ao ouvir o nome de Missy.
"Eu vou matar você. De forma lenta. Você vai demorar para morrer." Ele flutuava sem precisar bater as asas, isso significava que os ossos dele eram totalmente ocos e muito leves.
Candid quebrou um dedo na frente dele com uma careta, era o dedo do meio, claro, e ele ficou olhando o dedo se curar.
"Ossos fortes e que curam rápido, diferentes dos seus que são ocos, leves. Você é frágil. Pode ser forte, mas não aguentaria se eu quebrasse seus braços e pernas. E eu faria isso." Ele baixou até seus pés pousarem no chão.
"Você não é nada sem seu poder mental, suas asas não ajudam em nada em uma luta. Não contra mim, pelo menos." Candid disse.
"Você não teria coragem de tocar em Missy." Nisso ele tinha razão.
"Mas teria toda coragem de matar Fiona. Ela acha que passou despercebida, mas nunca tiramos os olhos dela. Inclusive de seu número de seguro social e da fortuna que ela tem no banco sob várias contas laranjas. Nós gostamos de dinheiro, Adriel, e se Fiona sofresse um acidente, não há muito dinheiro na conta pessoal dela, mas nas outras..."
"Toque nela e eu mato você." Candid sorriu.
"E se eu já toquei?" O desespero tomou as feições dele. Os olhos se fecharam, se não precisasse dele seria a hora de matá-lo. Mas ele sabia onde Honor estava.
Adriel saltou sobre Candid, mas não foi difícil pegar no pescoço dele. Ele rasgou o braço de Candid que apertava seu pescoço, mas Candid não soltou. Ele abriu as asas e alçou vôo, Candid cravou as garras em seu pescoço e de lado em seu tórax.
"Você vai desfalecer, eu vou usar o seu corpo para amortecer a minha queda. Há árvores também, você teria que subir muito para me machucar." Ele arregalou os olhos, mas acabou pousando no topo do paredão.
Candid o soltou, ele o tinha arranhado profundamente seu braço sangrava.
"Você nunca lutou, é como meu irmão Honor. Ele é poderoso, mas nunca teve de usar sua força. Eu, por outro lado, cresci lutando." Adriel respirava com dificuldade, provavelmente Candid tinha quebrado algum osso de seu pescoço e estava curando devagar.
"Onde..." Ele balbuciou.
"Onde sua mãe está? Me traga meu irmão e a terá de volta. Tio V. tem um certo carinho por ela, sabia?"
"Samantha não vai gostar disso." Ele disse baixinho, cada palavra era acompanhada por uma careta.
"Não é problema meu."
"Eu posso te dar uma informação importante, vocês gostam disso, não é? De saber coisas que ninguém sabe?" Candid balançou a cabeça.
"Honor. Você tem uma semana."
"Eu não posso. Samantha mataria minha mãe!" Ele disse.
"Se não trouxer meu irmão, eu a matarei." Ele olhou bem nos olhos de Candid e viu que era verdade. Candid não pensaria duas vezes.
"Você a protegeria, então?" Ele perguntou. Candid o olhou com pena. Tão poderoso, implorando por uma humana sem valor.
Candid pensou bem na resposta. E viu a armadilha. Ele sorriu. Sugestão camuflada. Quase que Candid protegeria Fiona para o resto de sua vida.
"Eu quase caí." Ele rosnou e investiu contra Candid, dessa vez conseguiu lhe socar a mandíbula. Candid sentiu a força dele, era até bem forte, mas nada que ele não podia lidar.
Ele socou de novo, Candid não desviou o rosto e pegou no braço dele. Ele rugiu quando Candid lhe quebrou o braço. Candid usou tanta força que os ossos leves dele se quebraram em várias partes. Ele se afastou segurando o braço, abriu as asas e flutuou.
"Eu a matarei." Candid prometeu.
"Uma semana?" Ele perguntou, Candid assentiu.
"O deixe na Reserva. Ela estará lá."
Adriel voou para longe, seu braço quebrado parecia atrapalhar a precisão de seu vôo, ele pendia para o lado.
Candid se sentou exausto. Os socos dele doeram pra caralho, o filho da puta era forte. Ele examinou o topo daquele paredão de pedra, encontrou umas cobertas num canto e as cheirou. Fêmeas. Várias fêmeas diferentes. Ele riu, o filho da puta gostava de foder humanas.
"O que é tao engraçado, Leãozinho?" Seu tio se sentou no chão, suas mãos estavam em carne viva. Ele lambeu os nós dos dedos e esperou curarem.
"O tal anjo gosta bastante de foder humanas." Candid jogou os cobertores para seu tio.
"Não só foder." Seu tio disse, Candid inspirou. Filho da puta!
Alguns daqueles cobertores tinham cheiro de fluidos femininos, mas também de cadáveres femininos.
"Não é problema nosso, tio." Candid disse, seu tio o encarou. Ele deixou seu tio prender seus olhos nos dele, Candid sentiu o frio que havia naquelas profundezas azuis claras e geladas.
"Você está falando sério." Ele assentiu, seu tio assentiu de volta. Esse era o seu tio, ele sempre aceitaria Candid como ele era.
"E Noble?" Candid perguntou.
"Sugestionado." Fazia sentido. Ele nunca permitiria Sarah sair das vistas dele.
"Hon está trabalhando no antídoto?" Candid perguntou, seu tio acenou.
"Sim. Era um paliativo, mas precisamos que pensem que não notamos isso."
"Ele vai dizer a Samantha que me contou." Seu tio acenou.
"Por que Sarah está aqui?" Se eles sabiam que o antídoto não funcionava, por que ela veio?
"Por que há mais Novas Espécies nas mãos deles. Filhotes pequenos, bebês e até uma humana grávida. Sarah com ele aqui, faz com que ele pense que venceu, que estamos usando todas as nossas forças em libertá-la, quando trabalhamos em outra frente." Era inteligente, tinha a cara de Simple.
"Mas Noble vai ficar sugestionado todo esse tempo? Ele vai ficar puto!"
"Não teria outra forma. Honest está cuidando dele, ele esqueceu o que ele e Sarah viveram nessas semanas. Mas o vínculo deles é forte, eu não acho que durará muito tempo."
Candid assentiu. Era uma coisa terrível de se fazer, mas haviam outras vidas em jogo.
"Eu preciso ir. Tenho que esconder Fiona." Vengeance sorriu.
"Informação é poder. Esse sempre foi o lema de vocês." Candid cheirou o rosto querido de seu tio.
"E pensar que foi por que você disse que ela era bem elástica." Vengeance rosnou.
"Eu não me lembro de dizer isso! Eu não fazia essa coisa feia de dar detalhes sobre as fêmeas com quem compartilhei sexo."
"Você disse que ela era flexível para a idade dela." Ele piscou.
"Foi mesmo. Vocês perguntaram se humanas na idade dela não eram secas. Eu achei a pergunta válida."
"Quantos anos ela tem?" Vengeance perguntou, Candid hesitou.
"Sério? Não vai dizer?" Ele cruzou os braços.
"Se te disser, Rom e Livie saberão. Isso é uma coisa que não deve ser comentada." Ele apertou os lábios.
"Ok. Eu já vou, seu irmão vai me ligar."
"Diga que eu os amo." Era verdade, Candid estava sentindo a falta dos dois violentamente. E de seu pai, e de sua mãe...
"Direi. Mas ela tem mais de cem anos?"
"Tio!" Candid reclamou.
"O quê? Vou poder dizer a Marianne que ela não precisa ficar com ciúmes!"
"Sim, bem mais." Ele sorriu.
"Isso me deixa aliviado. Minha fêmea vai viver muito. Isso sempre foi um grande medo sabia?"
Candid o beijou, ele começou a descer rosnando de dor por ter de socar a rocha. Um tempo depois Candid o ouviu saltar. Ele, como canino, pousava no chão fazendo um grande barulho.
Candid pensou em sua mãe, em Fiona e em Marianne. Os genes Novas Espécies eram como vírus, eles invadiam as células e as mudavam. Eles estavam presentes em diversos tipos de fluidos corporais, até no suor. O maior propagador era o sêmen, claro, mas gerar um Nova Espécie dentro de si conferia uma mudança definitiva. Fiona viveria ainda muito tempo, se Candid não tivesse que matá-la.
Samantha devia ser mãe de algum Nova Espécie também, ele só tinha de saber quem era. Mas isso seria outra missão. Se tudo desse certo e Adriel trouxesse Honor, ele se sentiria melhor, a culpa não doeria tanto.
Ele se deitou com as mãos atrás da cabeça, pensando em Ann. As cinzas dela estavam numa urna ao lado da urna que continha as de Blue, na estante da tv de Dusky.
Candid tinha uma teoria para essas coincidências. As almas das pessoas deviam ter alguma espécie de elo, que não importasse onde no mundo estivessem, o maldito elo continuava forte, inquebrável. Só isso para justificar Ann e Dusky se encontrarem de novo em circunstâncias tão terríveis.
E em pensar no quanto ele se culpou pela morte de Blue!
Ele suspirou. Ann estava no inferno agora, ela merecia queimar para sempre.

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