CAPÍTULO 7

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Sarah o olhou e ele se sentiu um pouco tonto. Ele ainda estaria sofrendo os efeitos da manipulação de Flora? Talvez estivesse, mas ele parou o jipe e ela se virou para ele:
"Noble, amanhã, você vai comigo na cabana do Gabriel?" Noble tocou no rosto dela, ela fechou os olhos. Sarah era tão linda!
Ela sempre foi, mas agora havia uma força nela, ela tinha amadurecido, não era mais aquela garotinha. Isso era bom, Noble estava feliz por ela, por estar se tornando uma fêmea de valor.
"Noble, eu posso te contar uma coisa?" Ela segurou na mão dele e apertou, Noble colocou a outra mão sobre as dela, ela baixou os olhos e ficaram assim, calados.
"Tem a ver com a outra parte da conversa? Sobre a tal fêmea? A que pode matar Simple?" Ele perguntou. Essa parte da conversa foi muito estranha, Noble tinha olhado para Candid e Honest, seus irmãos tinham se negado a falar qualquer coisa, Candid tinha até saído na hora.
Sarah não falou nada.
"Ela pode mesmo?" Sara deu de ombros.
"Ela é venenosa. Ela me tocou, alisou o meu rosto, minha pele começou a esquentar, eu passei o resto do dia passando gelo no rosto. Ela disse que pode controlar, mas..." Ela ergueu os olhos para Noble, os lindos olhos azuis estavam brilhando com lágrimas retidas.
"Ela é..." Noble esperou ela falar, embora não entendesse por que Sarah estava chorando, ou o que essa fêmea tinha a ver com Simple.
"Ela é irmã de John." Ela disse e as lágrimas saíram, Noble ficou tentando entender o que ela estava dizendo, mas as lágrimas dela doíam nele. Era como se o coração dele estivesse sendo apertado por um torno.
"Como assim? Ela é uma filhote de Brass?" Ele perguntou, ela assentiu.
"E sua mãe não sabe?" Ela balançou a cabeça negando.
"Brass não faria uma coisa dessas Sarah. Tem certeza disso?" Sarah limpou o rosto assoou o nariz e ficou atrapalhada, Noble tirou a camisa e estendeu para ela. Sarah olhou para o peito dele, só havia a iluminação dos faróis na frente do jipe, ela não devia estar vendo muita coisa. Ela enxugou o rosto e assoou o nariz na camisa dele, e sorriu.
"Eu te devolvo ela limpinha." Ele sorriu.
"Papai nunca esconderia nada de mamãe. Bronzy é filhote dele com ela. Bronzy é irmã gêmea de John." Foi a vez da cabeça de Noble explodir.
"Que porra... Me desculpa, mas, Sarah, como assim?" Ela passou a camisa no rosto a apertou contra o peito.
"Mamãe estava morrendo. Tinha sangue por todos os lados, ela gritava de dor, a barriga se mexia, eu cheguei a gritar que John ia rasgar a barriga dela para sair." Ela voltou a chorar. Sara ia completar nove anos quando isso aconteceu, ela era só uma garotinha, devia ser uma cena muito traumática.
"E então, John saiu, gritando, ele chorava tão alto! Mamãe o abraçou e desmaiou. E então algo escuro saiu dela, era outro bebê, mas estava coberto de sangue, era muito sangue e estava morto. John gritava tanto eu peguei a..." Ela caiu num choro convulsivo, Noble a abraçou e esperou ela parar alisando os cabelos dela. Ele chorou também, por Sophia ter passado esse episódio tão terrível, só ela e Sarah.
"Mas o tio V. apareceu e salvou vocês." Ele disse. Sarah respirou fundo, mas não ergueu a cabeça, ela apoiou o rosto no peito de Noble e contou.
"Eu peguei o bebezinho, era uma menininha os cordões dela e de John estavam ainda dentro de mamãe, eu a sacudi, sacudi, bati na bundinha dela, igual faziam nos filmes, mas nada. Eu a deixei no chão perto de John, voltei a caminhonete, tinha uma faca lá, eu a usei, cortei o cordão de John e o dela e a coloquei no meio de umas folhas. John não parava de chorar, ele gritava, e eu chorava também e foi assim que o tio V. nos encontrou."
"Ele não viu a bebezinha?" Sarah balançou a cabeça contra o peito dele, Noble a afastou. Ela se endireitou.
"Na verdade, eu não sei. Ela estava morta e mamãe estava morrendo. Quando o tio V. Pegou a mamãe do chão pra colocar na caminhonete, eu me lembro de olhar para ela, um pacotinho no chão dois passos de distância mais ou menos. Eu não consegui falar. Eu só queria que tudo desse certo." Ela suspirou.
"E depois?"
"Mamãe acordou, deu a direção da cabana, tio V. Saiu dirigindo e eu disse a mim mesma que traria a mamãe ali no dia seguinte. Mas no dia seguinte foi tudo tão bom! Eu nunca vi a mamãe tão feliz! E eu conheci o papai. E o tio Harley e o tio Moon e o tio Slade. E foi ficando estranho contar que eu deixei um dos bebês no mato morto. Depois a tia Kit atacou mamãe, ela perdeu a voz. Papai e mamãe foram morar na casa nova e papai veio me perguntar se podia me adotar. Eu fiquei com medo de contar o que eu fiz e papai me devolver para a tia Rose." Noble sorriu triste.
"Você não conhecia bondade." Ela assentiu.
"Sim, demorou muito para eu realmente acreditar que ele me amava. Aí, mamãe ficou grávida de novo e foi um período horrível das nossas vidas. Se ela morresse, papai tiraria sua própria vida. Mas a tia Kit e o tio V. ajudaram, Brave e Gift vieram fortes e saudáveis. Eu fui guardando aquilo, fui guardando... Uma vez depois de um tempo, eu conversei com mamãe sobre segredos, sobre coisas que fizemos e não contamos. Ela sorriu e disse que não importava. Ela nem quis saber, ela disse que eu nunca seria capaz de fazer algo que a magoasse." Ela respirou fundo esfregou as mãos nos braços. Noble a envolveu nos braços.
"Frio?" Sarah sorriu.
"Eu sempre pensei que se fosse contar isso para alguém seria você." Ele suspirou.
"Vamos pra casa?" Ela acenou, Noble colocou o jipe em movimento ainda a abraçando pelos ombros.
"Estou aliviada."
"Sempre ao seu dispor." Algo dentro dele se agitou, pois isso era uma grande, uma enorme verdade.
"O nome dela é Bronzy?" Ele perguntou.
"Ela tem os olhos do papai. Exatamente como os dele. E só. Ela é uma cópia de mamãe. O mesmo nariz a mesma boca, os cabelos encaracolados, a altura, o porte régio. Ela poderia se passar pela mamãe, assim como você poderia se passar por seu pai." Noble pensou nisso. A maioria dos primogênitos era quase uma cópia perfeita de seus pais. Ele, Jonathan, Peter, Salvation, Florest. Daí era como se os genes fossem se adaptando e um ou outro tivesse alguma coisa das mães. Honor tinha os olhos estranhos, Pride tinha olhos azuis e cabelo mais escuro, Leonel, o filhote mais novo de Leo tinha os olhos azuis. Era uma coisa maravilhosa, uma certeza de que não eram cópias. Havia muito ainda a se aprender sobre eles.
"E é venenosa." Ele disse.
"Sim. Ela me contou que foi encontrada por um caçador e daí foi parar num orfanato. Ela não me deu detalhes. Ela tem muito ódio de tudo. Parece que o pai de Patrick a comprou e ela faz o que ele manda."
"Não me parece uma filhote do seu pai e da sua mãe." Noble disse.
"Ela está consumida pelo ódio e a culpa é minha." Sarah disse num fio de voz.
Eles chegaram a casa de Sarah, John estava sentado na varanda.
"Estava no zoológico?" Ele se levantou e perguntou.
"Eu faço as perguntas aqui, John, eu sou mais velha." Ela puxou o rosto de Noble para ela e o beijou na boca, um beijo cheio de carinho.
"Obrigada." Ela sussurrou contra a boca dele o soltou e entrou na casa.
Noble meio que cruzou as pernas, a ereção foi instantânea. Como ela poderia mexer com ele assim ainda?
"Ela estava com você ou..." John perguntou se sentando de novo.
"Ela foi falar com Simple." Ele acenou.
"Eu fui na casa de Flora e adivinha? Ela também tinha ido falar com Simple." Ele disse amargo.
Noble se lembrou do ataque de Flora. Ele nunca se sentiu tão mal, tão sem esperança, tão triste.
"E...?" Noble perguntou.
"Ela voltou estranha e me mandou embora. Não quis falar sobre o que falou com Simple, disse que não era da minha conta. Quando eu cheguei em casa, Brave disse que Sarah tinha ido no zoológico falar com ele."
"Eu estava lá quando Flora chegou, John. Ela atacou Simple com alguma coisa, alguma merda que fez eu me sentir como se um caminhão de emoções ruins me atropelasse. Honest vomitou." John sorriu como se dissesse: 'essa é a minha garota!', e ergueu as sobrancelhas.
"E Simple?" Ele perguntou, Noble deu de ombros.
"Ele não foi atingido." Noble não diria que Simple tinha beijado Flora, é claro.
John fechou a cara.
"Entendo. Tenha uma boa noite, Noble. Nos veremos amanhã, você tem uma classe, não é? Eu estarei na equipe que vai te escoltar." Ele disse.
"Eu não vou dar aula amanhã. Marquei uma coisa com Sarah." John acenou.
"Ok, vou avisar o pessoal." Ele entrou na casa.
Noble ficou parado sentindo o cheiro de Sarah se misturar ao do sabonete, ela estava no banho. Ele balançou a cabeça e correu para casa. Era tarde demais, ele não a queria.
Ele resolveu viver a vida sem grandes paixões. As grandes paixões traziam grandes sofrimentos e ele gostava de Sarah demais para fazê-la sofrer.
Ainda que imagina-la nua debaixo da água desatou um tesão que ele não sentia a muito tempo.

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