CAPÍTULO 35

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Quinze e seus filhotes dormiam, Dezesseis com a cabeça apoiada num lado do imenso peitoral dele e Dezessete com a cabeça apoiada no outro lado. Quinze devia ser mais ou menos do tamanho de Hush, maior que o próprio Pride. Honor sorriu de leve imaginando seu pai olhar para Quinze e descobrir que Vengeance tinha um filhote maior que os dele. Seria hilário! Ele não conseguiu evitar rir e com isso veio uma constatação: o fato de Quinze e os gêmeos estarem ali, foi bom para Honor. Eles trouxeram uma coisa que Honor tinha perdido que era a empatia. Honor começou a se afastar, mas no fim não conseguiu, a preocupação pelo que poderia acontecer com eles lhe afligia.
E agora ele tinha decidido que não deixaria que fossem levados dali. Ele morreria, mas não permitiria que eles fossem para outra ilha. Honor estava pensando em algum tipo de acordo, algo como se tornar um selvagem louco que comeria os fígados dos participantes desde que Quinze e os filhotes voltassem para a casa deles.
Um leve barulho de asas foi ouvido e ele ficou de pé. Quinze e os gêmeos não acordaram, ele ficou em dúvida se deveria acordá-los. A dúvida se dissipou quando ele viu a criatura que desceu flutuando até ele.
"Quinze!" Honor chamou, o macho se moveu, os filhotes acordaram. Dezessete olhou para a grande sombra, seus olhos azuis meio entreabertos de sono, já Dezesseis se abaixou em posição de luta e uivou.
O macho alado pousou delicadamente os pés no chão e disse:
"Os filhotes de Vengeance já se tornaram uma praga. Onde quer que eu vá, sempre tropeço com algum deles. Até no meio da porra do pacífico!"
"Quem é você?" Quinze perguntou se esticando em sua impressionante altura, o macho o encarou.
"Você é maior que os outros. Teria um valor incalculável. E seus filhotes também alcançariam um ótimo preço. Mas eu não me importo com dinheiro, então..." Ele falava de um jeito estranho, sua voz era baixa mas sem a gravidade característica da voz dos Novas Espécies. Não era uma voz melodiosa como a de Pride, era uma voz metálica, irritante.
"Eu não me lembrava de você ser tão grande, Honor. Deve ser bem pesado." Os olhos dele, azuis, percorreram o corpo de Honor calculando alguma coisa, seria mesmo o seu peso?
"O que te interessa qual o meu peso? Quem é você e o que quer?" Honor perguntou.
"O nome dele é Adriel. Seu irmão Candid o mandou. Candid bateu nele, quebrou seu braço." Dezessete disse.
O tal Adriel sorriu de má vontade.
"Exato. Eu vim te buscar." Honor não saiu do lugar ou disse alguma coisa.
Ele não iria. Não sem Quinze e os gêmeos.
"Como planejou fazer isso?" Honor perguntou ele deu de ombros.
"Eu o segurarei em meus braços e voarei com você até a ilha principal desse arquipélago. De lá você chama o seu povo." Era uma idéia. A força tarefa poderia resgatar Quinze e os filhotes. Mas havia uma coisa:
"Quanto tempo até você chegar lá?" Foi Quinze que perguntou, mostrando que ele pensou o mesmo que Honor.
"O resto dessa madrugada, todo o dia e o início da noite seguinte. Essa ilha não aparece nos mapas e o motivo é por ser muito longe da ilha principal."
Honor olhou para Quinze.
"De manhã descobrirão que você não está aqui. Talvez nos levem para a nossa jaula." Ele disse, mas sem muita convicção. Honor era a estrela principal da caçada. Quinze era grande e forte, mas sempre cuidaria de seus filhotes, não cumpriria o script da caçada, ele não sairia da jaula. Os três morreriam facilmente.
"Eu não posso deixa-los. Ou vamos os quatro ou não irá ninguém." O macho torceu a boca.
"Eu tenho a cara da porra de uma companhia aérea? Não consigo levar todos. E Candid irá matar a minha mãe se a sua bunda não estiver na ilha principal amanhã a noite. Eu custei a achar a merda dessa ilha!"
Honor olhou para Quinze, Quinze olhou para Dezesseis. Ali, ela era a mais fraca, não que não fosse forte, mas Dezessete era mais forte e estava menos sujeito a ser estuprado. Fora que o instinto deles sempre iria escolher proteger uma fêmea, mesmo que ela fosse durona como Dezesseis. Honor assentiu.
"Leve ela. Candid vai entender que eu não pude deixá-la. Mas tem de ficar com ela até a força tarefa a encontrar. Ensine a ela a localização desse lugar." Ele balançou a cabeça.
"Não é assim que funciona, Honor.
Samantha mataria minha mãe assim que Candid a libertasse se soubesse de minha participação nisso. Te levar e deixar na ilha principal já é um risco a que estou correndo. Não levarei ninguém que não seja você."
Honor o encarou. Adriel. Ele deveria ter ossos ocos. E leves. Quando o assunto era luta entre Novas Espécies os ossos eram cruciais. E até então, não havia notícias de um Nova Espécie que tivesse os ossos mais resistentes que os de Honor.
Honor deu um passo até ele, ele começou a flutuar.
"Ou você a leva ou te matarei, e Candid matará sua mãe." Ele bateu as asas, Honor saltou e o segurou pelo pescoço. Adriel arregalou os olhos, Honor apertou. Se ele não o levaria, não tinha utilidade para ele. E ele pareceu ser aliado de Samantha. Samantha destruiu a vida de Honor.
"Espere! Eu..." Ele pousou, mas Honor não soltou o pescoço dele.
Ele piscou, Honor diminuiu a pressão, mas ainda segurou seu pescoço.
"Eu a levo." Ele disse, Honor o soltou.
Todavia, assim que Honor libertou o pescoço de Adriel, Quinze rosnou e caiu de joelhos segurando a cabeça e foi seguido por Dezessete e Dezesseis. Eles uivavam alto, em agonia, Adriel o encarou.
"Se os matar só terei de levar você." Ele sorriu.
"Se os matar, você morrerá. Lentamente." Honor rosnou. Adriel não parou de sorrir, Quinze, mesmo parecendo estar sob grande dor uivou e deu alguns passos até Adriel. Honor o segurou de novo pelo pescoço, mas os três ainda continuaram gemendo de dor.
Ele olhou bem nos olhos de Honor, Honor fez força até que ele fechou os olhos e desmaiou.
Quinze e os gêmeos ainda ficaram de joelhos segurando suas cabeças, mas parecia que o que quer que aquele desgraçado fez com eles tinha acabado.
Ele ajudou Dezesseis a se levantar, ela tossiu, estava totalmente mole e sem forças. Dezessete estava igual, Quinze conseguiu se levantar sozinho.
"Que porra foi essa?" Quinze perguntou, foi até o corpo de Adriel e o chutou com tanta força que ele foi jogado contra uma parede do muro que circundava a jaula. Dezesseis foi até ele e começou a puxar as enormes penas pretas e brancas de suas asas com fúria, seu irmão se juntou a ela.
"Desgraçado!" Uma montanha de penas foi se ajuntando ao redor deles até que Quinze os puxou.
"Não, filhotes. Não arranquem mais. Ele ainda pode nos machucar."
"Ele tem de ficar desacordado." Honor disse.
"Eu faço a primeira vigia." Ele completou.
"Mas e quando o dia amanhecer e as câmeras forem ligadas?" Dezessete perguntou.
"O esconderemos." Honor disse cansado, ver Quinze e os filhotes serem torturados foi doloroso.
Ou podiam mostrá-lo aos humanos. Ele seria uma das atrações. Era uma idéia.
Quinze, mostrando que era mesmo filhote de Vengeance se deitou com seus filhotes e os três rapidamente voltaram a dormir.
Honor puxou o corpo inerte de Adriel, arrancou um fio da cerca elétrica, com um rosnado de dor, é claro, e amarrou todo o corpo dele, juntando as asas depenadas as suas costas.
"Arrancar minhas penas foi crueldade." Ele sussurrou. Honor segurou um dos braços dele, por entre as voltas do fio.
"Machuque-os e eu quebrarei seu braço, foi esse o que Cam quebrou?" Ele perguntou.
"Você tem de ser muito idiota para não aproveitar e fugir. Seu irmãozinho não perderia essa chance." Honor apertou seu braço, ele rilhou os dentes. Quebrar o braço dele foi como torcer um graveto.
Ele rosnou.
"Pare ou vou matá-los não importa se morro também." Os olhos dele brilharam. Honor entendeu que ele tentava acesso a mente dele, Honor.
"Minha mente é blindada." Ele avisou.
"O que significa que você não pode comigo nem fisicamente nem psiquicamente." Ele acenou.
"É." Ele disse desanimado.
"Por que não quis levá-la?" Honor perguntou.
"Por que não quis te obedecer. Eu estava só mostrando o meu ponto. Mas levei a pior e te dou isso." Ele falou isso e fechou os olhos. Honor se sentou e olhou para o céu estrelado. De todas as ilhas que esteve, essa era a mais bonita e perfumada, deviam ser as rosas do jardim de Dezesseis do outro lado da ilha. Rosas. Rosa chá. Aquela conversa parecia tão distante!
Adriel abriu os olhos e Quinze também se levantou.
"Honor?" Honor olhou para Dezesseis foi ela quem o tinha chamado. Quinze estava alerta e rosnou.
"O que está fazendo com minha filhotinha, seu bosta?"
"Eu? Nada." Adriel respondeu.
"Honor, as grades vão abrir, corram para a parte sul da ilha." Dezesseis disse e Honor viu um brilho verde nos olhos dela. Livie?
Honor olhou para Adriel, ele poderia deixá-lo amarrado ali, mas algo nele não quis ser como seus captores.
"Consegue voar se eu te desamarrar? Voar para longe, para sua casa?" Ele assentiu, os gêmeos não tiraram tantas penas assim.
Quinze acordou Dezessete, eles se prepararam e as grades abriram. Honor sentiu que alguns jipes estavam vindo, ele desamarrou Adriel, ele alçou vôo sem olhar para trás. O vôo foi todo desajeitado mas ele planava, conseguiria sobreviver. Se não, pelo menos, Honor tinha feito sua parte.
Eles correram para o sul da ilha, logo os jipes estavam perto e tiros foram deflagados. Honor sentiu um tiro na parte de trás de sua coxa, mas ele não parou.
"Vamos!" Ele os incentivou, eles aumentaram a velocidade por entre as árvores, os jipes não conseguiam seguí-los com a mesma rapidez, tinham de fazer desvios.
Eles começaram a correr paralelamente a um muro, Quinze afirmou que era o muro da jaula gigante deles, Dezessete até quis parar, mas Honor os encitou a continuarem correndo.
E depois de alguns quilômetros correndo ao lado do enorme muro e com os humanos atirando neles dos jipes, ele a viu. Dentro de um helicóptero do seu povo, o Logo com as letras ONE em branco num fundo preto quase o fez chorar. Ele correu até parar a frente da aeronave, saltou e ela ficou de pé. Vários Novas Espécies atiraram contra os humanos, eles deram meia volta com os jipes e partiram.
"Vamos pra casa?" Ela perguntou com um sorriso, Honor acenou e se sentou depois de ajudar Dezesseis e Dezessete a subir no helicóptero. Quinze saltou em seguida, seu peso balançou o helicóptero como se este fosse se partir em dois.
"Mais um filhote?" Ela perguntou, Honor informou:
"Sim, esse é seu irmão, Quinze."
"Isso é bom, não tenho de me lembrar de você." Ela disse, a voz fria.

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