CAPÍTULO 21

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Livie abriu os olhos ante o barulho do tiro, o cérebro de Sarah sendo explodido arrancou um grito mudo dela, seu coração se contorceu com a dor.
Ela respirou fundo várias vezes, sua mente gritava sem parar, o terror era real, muito real.
"Calma, mamãe. Calma." Uma vozinha de criança soava ao longe, Livie não sabia quem era, sua mente estava em branco, só a dor existia.
"Mamãe." A vozinha continuava a chamando, mas Livie não reconhecia, não entendia por que a voz a chamava de mamãe. Ela não era mãe de ninguém, ela não era nada.
Ela causou a morte de Sarah. Mais uma pessoa morria por ela, por causa dela, quando aquilo iria parar?
"Eu tenho medo de machucar meus irmãos e isso me faz correr das lutas. Eles me chamam de covarde e eu penso: será que eu sou um covarde? É valentia lutar sabendo que o soco deles quase não dói? Que não podem quebrar meus ossos, ou me fazer parar de apertar seus pescoços?" A voz dele soou na mente dela e ela respirou fundo. A entonação calma, a voz grave. Livie quase podia ver os olhos de outono dele, os cabelos vermelhos vibrantes. Ela inspirou mais uma vez e se controlou. Ele era o motivo dela estar ali, ela tinha de ser forte.
O cérebro de Sarah explodiu. Ela se levantou, abriu a janela e inspirou o ar da noite. O terror estava cedendo, sua mente estava clareando.
"Mamãe? O gatinho tímido te ajudou?" A vozinha soou clara, não estava mais distante, Lily estava ali.
"Sim, ajudou." Livie pensou.
"Ele tinha medo de machucar os outros, ele não era um covarde. Foi a conversa que eu consegui me lembrar." Lily disse.
"É. Eu entendi, querida. Não importa o assunto, ouvir a voz dele me acalma, me ajuda a me focar. Obrigada." Livie disse, dessa vez falando para a noite.
"Livie?" Ela suspirou, teria de dar a notícia.
"Eu estou com muito sono, mamãe." Lily disse na mente dela, Livie respondeu dessa vez também em pensamento:
"Vá dormir, minha linda. Sabe que eu amo você, não sabe? Mesmo sem me lembrar, o sentimento está aqui." Livie pensou.
"Eu sei. Quer ver uma coisa bonita? Pra te dar mais força?" Livie sorriu.
"É claro." Ela pensou e logo estava olhando para o rosto de um lindo bebezinho. Era um bebê grande, seu rosto já trazia os traços bonitos e delicados do rosto de Pride, assim como os cabelos vermelhos escuros dele. Mas os olhos! Um verde e outro azul! Pupilas redondas, não verticais como as de Pride. Era uma linda mistura. Não demoraria muito para ele nascer, Livie se sentiu feliz por Pride e Minerva.
"Acho que o vovô vai deserdar o meu pai." Ela riu e desapareceu da mente de Livie que mesmo sabendo que Lily se desligou da mente dela, agradeceu pela ajuda, sentir a mente de Sarah explodindo era impactante demais, ela quase perdeu os sentidos. Ela seria sempre grata a sua incrível filhotinha.
"E então?" Livie inspirou profundamente uma última vez, trancou o pavor dentro do peito e se virou.
"Sua cabeça explodiu." Ela disse, Sophia apareceu e a abraçou. Livie ainda não estava sabendo lidar com o toque dos outros, ela ficava em pânico por uns segundos, mas como sabia que Sophia não a soltaria, ela relaxou.
"E foi Lily que te mostrou? Como ela lida com isso?" Sarah perguntou.
Livie se soltou de Sophia, deu as costas a elas e voltou a olhar para fora.
"Não é ela que vê. Sou eu. A mente de Lily amplia a minha capacidade. Eu não sou uma vidente, ela é. Quando nos ligamos eu vejo o que ela veria. Mas ela sentiu o meu pavor quando o tiro atingiu a..." Sophia estremeceu, Livie se calou.
"Ela me ajudou, foi horrível demais." Livie resumiu. Sarah colocou a mão na testa.
"E agora?" Livie bufou e olhou para a outra cama, onde as outras duas dormiam calmamente.
"Só temos o plano de Simple." Ela disse, as palavras tinham gosto de limão em sua boca, Livie se lembrou de quando ela descobriu da pior forma que odiava limão.

Bronzy acordou devido a um barulho e saiu de sua cama quando o barulho se repetiu. Tiros! Ela tocou em seu pescoço, suas glândulas estavam vazias, correu para o banheiro, se olhou no espelho da bancada, seus olhos estavam normais.
Ela procurou se acalmar, a casa era muito bem guardada, e ela só precisava de algum tempo até começar a produzir veneno. Ela trancou a porta do banheiro e entrou na banheira.
Mas um cheiro totalmente inesperado chegou às narinas dela, e Bronzy franziu as sobrancelhas quando ouviu gemidos.
Ela não tinha um faro muito bom quando estava sem veneno, mas era melhor que o dos humanos. Bronzy inspirou forte e apurou os ouvidos. Alguém estava fazendo sexo no quarto ao lado.
A curiosidade a tomou, ela esfregou seu pescoço tentando se forçar a produzir veneno, mas ela tinha acabado de acordar, ainda demoraria.
Bronzy apertou os dentes quando ouviu algo se quebrando, ela tinha de ir ver o que era.
Ela saiu do quarto, o cheiro ficou mais forte, Bronzy se virou e viu que a porta do quarto ao lado estava aberta e um homem e duas mulheres se esfregavam nus.
"O que é isso?" Ela foi totalmente ignorada, o homem estava deitado as duas mulheres estavam em cima dele, uma sobre sua virilha a outra sobre seu rosto. Aquilo a excitou, eles se mexiam e gemiam alto, as faces dela pegaram fogo.
Um barulho de luta e o cheiro de vômito tiraram a atenção dela e alguém disparou em outro alguém no andar de baixo. Bronzy correu pelo corredor e desceu as escadas só para se deparar com dois seguranças se socando, duas mulheres nuas se beijando e outro casal em pleno ato sexual na sala de estar.
Tiros, gritos, gemidos, vidros sendo quebrados e sons de luta eram ouvidos por toda a casa, um conjunto de cortinas estava em chamas. Bronzy respirou fundo e tentou se acalmar, o veneno estava demorando para se formar em suas glândulas, ela se sentia indefesa.
"Bron..." A voz de Eustace vinha do escritório ele parecia estar sofrendo de alguma forma. Bronzy correu para lá e fechou as portas ao entrar.
Eustace estava caído numa poça de vômito o cheiro era horrível e ele já vomitava apenas bile, não havia nada em seu estômago mais.
"Pai!" Ela o suspendeu, ele arfou, parecia estar sufocando em sua própria bile.
As portas foram abertas, novamente fechadas e Bronzy se viu olhando para uma mulher alta e forte vestida toda de preto. Ela usava duas tranças apertadas que começavam no alto de sua cabeça e caíam em grandes tranças vermelhas. Cabelos vermelhos, olhos azuis e aparência feroz, quem seria ela?
"O que está fazendo aqui?" A mulher a ignorou e disse:
"Eu a tenho. No escritório. Eustace também está aqui." Ela disse, recuou alguns passos para trás, firmou o corpo e apontou uma pistola para a porta bem na hora que um segurança arrombava a porta e entrava. Ela o alvejou e ainda atirou em mais dois.
"Violet? Onde você está, porra? Acabei de acertar três!" Ela disse e se virou para Bronzy:
"Olhe para mim." Bronzy tentou olhar para baixo, mas ela ergueu seu queixo com uma mão enluvada.
"Bom. Não se atreva a me morder, ou vai se arrepender." Ela soltou o rosto de Bronzy abruptamente, Bronzy caiu sentada.
A porta foi aberta, três mulheres entraram, uma delas tão alta e forte quanto a ruiva atirou algumas vezes até fecharem a porta de novo.
"Bronzy! Viemos te buscar." O barulho de tiros contra a porta fez Bronzy tapar os ouvidos com as mãos e fechar os olhos. Sarah estava ali. Ela, as duas ruivas e uma outra, essa do mesmo tamanho de Sarah.
"Bronzy? Vamos para a casa dos seus pais? O que acha?" A voz da terceira moça era agradável, doce, amável. Bronzy olhou para ela e se admirou da beleza de seus traços, do mel de seus olhos. Ela tinha imensos cabelos castanhos claros. Bronzy nunca viu uma moça tão bonita. Ela assentiu, faria qualquer coisa.
"Vamos?" A moça sorriu, Bronzy sorriu de volta.
"Bronzy, seja forte... Elas querem prender você..." Seu pai disse num fio de voz, ele estava muito mal no chão, meio ao vômito.
"Pai..." Bronzy balançou a cabeça, e se afastou da mocinha.
"Quem são vocês?" Ela disse. Seu corpo começava a aquecer, ela começava a produzir veneno.
"Bronzy, viemos te buscar..." As portas duplas do escritório foram sacudidas e quase abriram, as duas ruivas se posicionaram cada uma numa folha da porta e a seguraram.
"Anda, Sarah!" Uma delas disse. Sarah se ajoelhou perto de Eustace e o levantou pela lapela de seu terno e o sacudiu:
"Onde está Honor?" Ela perguntou, ele abriu os olhos e cuspiu no rosto dela.
"Vá se foder, vadi..." Sarah o sacudiu de novo, Bronzy a puxou pelos cabelos, a afastando de perto de seu pai.
"Saia daqui, eu não vou com vocês!" Ela disse e empurrou Sarah. Sarah caiu batendo a cabeça, Bronzy se posicionou a frente de seu pai e chiou.
"Bronzy, vamos pra casa! Eu estou com medo!" A moça linda disse, Bronzy olhou para ela, para as duas ruivas segurando a porta, para Sarah que se levantou e se aproximava:
"Foi a nossa mãe que nos enviou. Venha com a gente, se quiser voltar, nós te traremos de volta." Sarah disse.
Bronzy olhou para as ruivas, elas acenaram uma para a outra e com extrema sintonia se afastaram, bem na hora que quem estava do lado de fora investia contra as portas, elas se abriram violentamente, os seguranças caíram no chão, as duas os alvejaram com uma saraivada de balas. Um escapou e foi até a mocinha, ela sorriu para ele, ele parou e se ajoelhou ante ela. Bronzy levou um susto quando a ruiva mais feroz atirou contra a cabeça dele. A mocinha olhou para Bronzy sem mudar sua expressão bonita e doce.
"Bronzy, vamos!" Ela disse, mas Bronzy deu um passo para trás. Ela queria ir, ela queria ficar, sua cabeça estava confusa.
"Bronzy, vamos. Por favor." A mocinha pediu, Bronzy sorriu.
"Eles vão trancar você e tentar tirar seu veneno, querida. Eles não a aceitam como eu. E o que irá te impedir de matar os outros, as mulheres humanas, as crianças?" Seu pai tentou se levantar, Bronzy o ajudou. Ela o levantou, mas ele caiu de novo.
"Fale onde Honor está." A mocinha disse olhando para ele, ele começou a chorar.
"Eu falaria, eu juro, mas eu nunca sei. Eu não procuro saber, é uma medida de segurança. Ele está numa ilha do pacífico é só o que eu sei." Ele deixou o corpo cair e continuou chorando, a linda moça olhou para Sarah.
"Isso serve?" Ela perguntou, a ruiva deu de ombros e disse:
"Temos que ir." Bronzy olhou para seu pai, ele chorava, tinha ânsias de vômito e não tinha forças para ficar de pé. O que aquela moça fez com ele?
"Não vou deixar o meu pai." Ela disse, Sarah se aproximou.
"Mamãe está lá fora. Está te esperando, vamos Bronzy!" Ela segurou numa das mãos de Bronzy, mas Bronzy sentiu uma onda de medo muito forte, então Bronzy a empurrou e cuspiu em seu rosto. Sarah caiu, a mocinha gritou e a ruiva maior se lançou sobre Bronzy.
A última coisa que Bronzy viu foi o punho poderoso dela contra seu rosto.

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