Sarah abriu os olhos, as cortinas cor de rosa de seu quarto estavam fechadas, o quarto estava agradavelmente escuro. Ela alisou o rosto, sua mente começou a trabalhar lentamente e ela colocou a mão sobre a barriga. Seus filhotes! Ela alisou o montinho duro, tudo parecia bem, mas...
Ela não tinha dormido ali, ela tinha se deitado sobre as rosas que Flora fez brotar instantaneamente na cova de...
Ela jogou as pernas para fora da cama, ela tinha de correr até aquela colina. Não importava quantas vezes que a trouxessem, ela não queria ver mais ninguém.
"Filhote?" Seu pai abriu a porta no exato momento em que Sarah se levantava.
"Pai! Me leve de volta! Eu não posso ficar aqui. Meu lugar é lá agora." Seu pai a abraçou e ela chorou. Chorou até que não haviam mais lágrimas, até que seu choro se transformou em soluços secos, doloridos.
"Não perca a esperança, meu amor. Você precisa descansar. Honest, Candid e Gabriel estão nisso, eles não vão ser derrotados. Eu vou brigar muito com aquele macho por causa dos meus netos ainda!" Sarah se afastou piscando, ela não entendia.
"Brigar com que macho?" Ele franziu as sobrancelhas.
"Noble vai sobreviver, querida! Eu confio naqueles dois pestinhas! E Gabriel, bom, ele pode não saber amar, ou ter essa capacidade, mas ele não se permite perder." Sarah deu um passo para trás.
"Que dia é hoje?" Ela perguntou, seu coração estava disparado. Seu estômago queimava de fome, mas eram as batidas frenéticas que mais a incomodavam naquele momento.
"Domingo, por quê?" Sarah arregalou os olhos.
"Era uma segunda feira! Era... Amanhã! Pai!" Brass olhava para ela com uma dúvida no rosto, seu pai lidava com fatos, talvez até com probabilidades e possibilidades, mas ele não entendia nada do mundo dos sentidos, da premonição.
"Cadê a mamãe?" Ele sorriu triste.
"Dopada. Você não acordava, Trisha queria te manter no hospital, mas ela brigou tanto para que você ficasse aqui que passou mal. Então, como os ânimos estavam muito insuflados, eu dei um calmante a ela." Sarah olhou para seu pai e pensou no que fazer. Ela tinha um dia ainda para fazer alguma coisa. Ela tinha de fazer alguma coisa!
Seu estômago roncou, seu pai a levou no colo para a cozinha, ela tinha de estar forte para seus filhotes, então se forçou a comer alguma coisa.
"Que tal uma salada de frutas?" Seu pai abriu uma tigela e colocou a frente dela.
Sarah comeu se deliciando com o sabor, ela comeu até mais do que estava comendo antes.
"Quem fez?" Ela perguntou, seu pai sorriu.
"Bronzy. Ela se levantou cedo, picou tudo e misturou ao molho doce que Candid deixou na geladeira da cabana deles. Ela não dormiu nada a noite e está dormindo agora, no quarto, com sua mãe."
"Molho doce?" As saladas de frutas de Candid tinham sempre frutas variadas mas os pedaços das frutas eram cobertos por um creme rosa, muito gostoso.
"Isso não é um molho, papai, é um creme." Ele acenou.
"Quando você foi ficar com Patrick, os trigêmeos tiraram Noble da cabana deles, pois o seu cheiro estava lá, e segundo Candid, isso enfraquecida a sugestão. O único lugar que ele podia ficar era o zoológico, depois que Cam e Honest lavaram o lugar de cima a baixo. Sua mãe, nervosa e sem ter o que fazer, foi lá buscar suas roupas e, como a dona de casa que é, esvaziou a geladeira. Esse creme estava lá, ela trouxe junto com as carnes e frutas. É bem gostoso, sua mãe e irmã estão comendo dele com tudo. Sophia até passou no pão." Sarah sorriu, tentando mostrar a seu pai que ela estava bem. Ela tinha de falar com seu tio. Ele acreditaria nela, ele tentaria ajudar, segundo o sonho pavoroso, muito real que ela teve, Noble morreria na segunda feira, no dia seguinte.
Depois de comer, de passar no quarto de seus pais e dar uma olhada em sua mãe e irmã, Sarah foi ao seu próprio quarto se vestiu e desceu as escadas no momento em que Gift entrava pela porta.
"Oi, mana." Ele se ajoelhou a frente dela, Sarah o abraçou pelos ombros, Gift lhe beijou o rosto e baixou a cabeça para lhe cheirar a barriga.
"É a primeira vez que faço isso, afinal nenhum macho me deixaria cheirar a barriga de sua fêmea." Sarah não estava com energia para sorrir, só alisou os cabelos castanhos lisos dele.
"Dois machos. Grandes se levarmos em conta que têm pouco tempo. Eu estou muito feliz por vocês."
Sarah sentiu sua garganta fechar. Então era assim que Noah, ou Grace, ou Peter se sentia? E a pequena Lily? Como lidar com aquilo?
"Me leva na casa do meu tio V.? Eu preciso falar com ele." Gift a pegou nos braços e saiu com ela. Lá fora, ela bateu no braço dele:
"Eu falei pra me levar de jipe!" Ele a encarou ponderando se o jipe seria melhor que seus braços, mas acabou a colocando no banco do passageiro.
"Eu poderia te levar em meus braços." Ele disse colocando o jipe em movimento.
"Eu sei." Ele poderia, é claro. Ele era forte e grande, não seria nem muito esforço.
Na casa do tio V., quem lhes abriu a porta foi Lily. Ela sorriu triste para Sarah e fez sinal para eles se sentarem.
Marianne veio da varanda dos fundos e segurou as mãos de Sarah.
"Seu tio saiu. Parece que ele tem de prestar um relatório. Ele matou o Patrick, no fim das contas." Sarah se lembrou de Patrick se virando, atirando a esmo e acertando Noble. Ela fechou os olhos.
"Querida?" Sarah ficou tonta, rever Noble sendo atingido, o sangue saindo da barriga dele, isso a fez começar a chorar de novo.
"Calma, calma... Seus hormônios estão em combustão, você não deveria sair do seu quarto." Marianne a abraçou.
"Eu preciso..." Ela não sabia o que dizer.
"Eu não devia ter ido na sua casa, Sarah, você me desculpa?" Os olhos verdes claros de Lily se cravaram nos dela.
"Não há o que desculpar, querida. Você é uma filhote muito boa, eu só fico triste por não ter te visto." Sarah adorava Lily. Quando ela era um bebê, Sarah ajudou Tammy e as florzinhas a cuidarem de Lily e de Sheer.
"Mamãe nos ligou, eu não sei porque. Você viu alguma coisa ruim?" Então era isso? Livie ligou a mente de Sarah a de Lily? Jogando assim as visões da filhotinha na cabeça de Sarah? Não importava, embora.
Sarah não ia contar a Lily que viu que seu tio, o gatinho valente, iria morrer no dia seguinte.
"Não, eu vi uma coisa, mas eu espero que não aconteça." Ela disse, Marianne beijou a bochecha gordinha de Lily e disse:
"As suas primas e sua tia estão na piscina, vá brincar com elas." Sarah então notou que Lily estava vestida com um biquíni rosa. A menina sorriu e correu para fora da casa.
"Grace está mal, esse filhote, que ela afirma ser o último, está maior do que deveria." Sarah fez uma prece para tudo desse certo para Grace, a gestação dela estava no início assim como a de Sarah.
"E falando em filhotes!" Marianne tocou na barriga de Sarah com um grande sorriso no rosto.
"Sua mãe deve estar muito animada!"
Sarah sorriu, sim Sophia devia estar muito animada, mas Sarah e ela ainda não tinham se falado.
"Eu só acordei hoje, mamãe está dormindo." Marianne assentiu.
"Eu vou para o hospital então, tia. Pode pedir para o meu tio me encontrar lá?" Ela não sairia do lado de Noble.
"Noble está na cabana de Gabriel." Gift disse, Marianne olhou na direção dele, de pé num canto e Sarah viu que ela não o tinha visto.
"Oi, Gift. Você é tão silencioso. Eu nem te vi!" Ele sorriu um dos seus raros sorrisos, ela foi até ele e o beijou.
"Eu tenho de ir lá, então."
Marianne a beijou na testa.
"Eu sei bem o que você está passando, meu amor. Vengeance tem a irritante mania de quase morrer e quase me faz morrer também. Tudo vai dar certo." Ela disse, Sarah e Gift voltaram ao jipe.
"A cabana é muito fria, Sarah. Tem certeza de que pode ficar lá? Quando mamãe acordar, vai ir a pé te buscar." Ele disse e Sarah concordava, mas tinha de dizer a Candid e a Honest o que ela viu.
" Livie viu que o nosso plano não daria certo e mudou os planos, mudando assim a minha morte. Eu morreria se nós fôssemos como planejamos. Eu tenho de mudar o futuro, Gift!" Seu irmão parou o jipe.
"Maninha, eu acho que você não está bem. Há toda essa pressão sobre você, e a gravidez. Talvez fosse melhor voltarmos pra casa." Gift era como o pai deles, muito prático, muito ligado a realidade.
"Por favor, Gift! Me leve! Eu estou bem, sou forte." Ele ergueu uma sobrancelha, mas ligou o jipe. Sarah foi a cada quilômetro do caminho pensando no que poderia fazer, mas ela não sabia.
Eles chegaram a cabana, a porta estava destrancada, mas ainda assim, fechada. Sarah e Gift entraram, vestiram grossos casacos e foram até o quarto em que Gabriel e os trigêmeos operavam Noble.
Sarah, ao ver todo aquele sangue, abraçou Gift e seu irmão a tirou do quarto. Simple que só observava saiu também.
"Você é algum idiota? O que ela faz aqui?" Ele estava diferente, seus olhos estavam implacáveis, ele estava puto.
"Ela tem direito de estar aqui." Gift disse, ele bufou.
"Sente-se. Já comeu?" Sarah viu que tinham ido para a cozinha, Simple não esperou ela responder e ligou um forno onde algo assava lá dentro. Estendeu duas xícaras com algo fumegante, Sarah provou, era chocolate quente.
Sarah comeu, ela não sabia o que fazer, o que dizer, só que não iria chorar nem se desesperar. Se aquele fosse o último dia de Noble, ela o passaria ao lado dele.
"Eu tive um sonho, Sim. Um sonho do funeral de Noble. No sonho ficou bem claro pra mim que ele morreria na segunda, ou seja, amanhã. Foi real e aterrador, mas assim como Livie usou o dom de Lily e mudou nossa estratégia, eu sinto que podemos mudar esse futuro. Nós temos de mudar. Já são meio-dia. Temos pouco tempo." Simple assentiu, mas estava triste.
"Essas balas, e eu vou matar Romulus se meu irmão morrer, elas se estilhaçam e crescem dentro do corpo. É como se milhares de balas estivessem dentro do seu corpo, provocando infecções nos órgãos que perfuram. Conseguimos retirar o máximo de estilhaços, mas há as perfurações que já se transformaram em hemorragias." Sarah segurou a vontade de chorar. Era só o que ela poderia fazer.
"E o sangue do tio V.?" Vengeance tinha uma capacidade de cura incrível, dizia-se que o sangue dele curou Adam pouco antes deste morrer.
"Retiramos litros e litros dele para salvar os clones e ainda usamos o máximo que pudemos para estabilizar Noble. Não dá pra tirar mais, se tirássemos mais, ele não resistiria."
"Onde ele está?" Sarah entendeu que mentiram para Marianne.
"No hospital, se recuperando."
"Encontraram os clones?" Gift perguntou, Simple assentiu.
"No pior momento. Se não tivéssemos usado o sangue do tio V. neles, teríamos uma chance. Mas quando meu tio chegou, eles estavam piores que o Nob." Simple explicou. Ele se ajoelhou e olhou nos olhos de Sarah.
"Me conte uma coisa, querida. Havia alguma coisa estranha nesse sonho? Pense bem. É essa a diferença das visões de Lily de todos os outros, as dela não são visões propriamente, são possibilidades. São desdobramentos de decisões." Sarah se forçou a relembrar tudo.
"Noble não..." A voz falhou, Gift segurou na mão dela lhe dando forças.
"Ele não foi cremado. Ele foi enterrado. Vocês, todos vocês cavaram a terra com as mãos, até as florzinhas. Flora fez brotar um jardim, colocando as mãos na sepultura dele, Rosas azuis, amarelas e brancas brotaram e eu me deitei sobre elas." Simple ficou muito sério, ele inspirou, fechou os olhos e saiu correndo.
Candid saiu do quarto tirou as luvas cheias de sangue e olhou para Gift.
"Onde Sim foi?" Sarah só balançou a cabeça, Gift a puxou para o colo dele, ela estava com muito frio. Candid a serviu com mais chocolate quente ela bebeu e se aconchegou no corpo de seu irmão.
"Porra!" Candid disse e olhou para fora, pelo vidro.
"Hon, preciso de um minuto, só um." Ele também correu para fora dali.
Sarah olhou para Honest entrando na cozinha, ele sorriu.
"Você ouviu? Você acha que há uma esperança?" Sarah perguntou, Honest se abaixou e beijou os lábios dela.
"Só acaba quando acaba."
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FILHOTES DE VALIANT - NOBLE
FanfictionNoble se considerava um macho feliz, realizado profissionalmente, tinha uma família grande que o amava, morava no melhor lugar do mundo e... Não tinha se vinculado ainda. Em toda a sua vida, tinha se apaixonado apenas uma vez, mas acabou por não dar...