CAPÍTULO 6

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Sarah deu de cara com Noble, ele estava estranho, sua roupa estava molhada, seus cabelos estavam bagunçados.
Quando ela disse que queria falar com Simple, eles se olharam entre eles, e quem respondeu foi Honest:
"Sim não está..." Ela se virou, o próprio Simple saia da administração.
"Vamos pro meu quarto." Ele disse, Noble rosnou.
"Não." Ela o encarou, ele ergueu as sobrancelhas, parecia surpreso consigo mesmo.
"Quer dizer, isso não é respeitável." Candid riu na cara dele, ele deu um tapa em sua nuca.
Simple simplesmente saiu andando, ela o seguiu até ser puxada para trás, pelo braço, por Noble. Ela se voltou, ele estava muito perto, tanto que ela mergulhou nos olhos dourados dele, que estavam um pouco mais escuros, quase castanhos. Ele baixou a cabeça na direção do pescoço dela e inspirou.
"Você vem?" Simple perguntou, ele estava no fim do corredor em frente a uma porta aberta. Sarah deu um passo para trás ele a puxou contra ele.
"Noble?" Candid o chamou.
"Lembra? Temos de voltar pra casa." Candid disse. Noble piscou e olhou na direção dele, Candid estava segurando no outro braço dele. Ele soltou Sarah e ela foi até o quarto de Simple. Antes de entrar, ela se voltou e ele a olhava mesmo enquanto Candid o puxava para fora.
Sarah entrou, Simple estava sentado numa cadeira, ele indicou a cama. Ela olhou em volta, o quarto estava impecavelmente arrumado. Livros, produtos de higiene, até os travesseiros na cama estavam perfeitamente alinhados.
"Você não estava deitado?" Ela perguntou, ele balançou a cabeça.
"Vamos direto ao ponto: como é o nome dela e onde eu a encontro?" Ele perguntou, Sarah se voltou para trás com o golpe.
"Eu..." Ela disse, Simple ergueu uma sobrancelha.
"Ela é...?" Simple balançou a cabeça dizendo que sim, Sarah apertou os lábios.
"Não me importa o que aconteceu, Sarah. Eu só quero encontrá-la." Ele disse.
"Por quê?" Ela perguntou, a frieza dele a incomodou, talvez ela pudesse contar da chantagem, talvez ele a ajudasse.
"Por que eu estou desesperado. Mamãe e papai estão sofrendo muito e eu sou culpado. Ela pode..." Sarah arregalou os olhos. Ele queria que Bronzy o matasse?
"Sim, você não pode pensar assim. Não foi culpa sua, Honor tomou sua própria decisão." Ele se levantou. Sarah nunca o temeu, mas naquele momento ela teve medo.
"Eu amo você, Sarah. Você foi minha primeira amiga fêmea, você sempre será especial pra mim, então, por causa disso eu não vou tirar essa informação de você. Fale." Sarah o viu como todos deviam vê-lo. A amizade, o amor fraternal, não deixavam-na enxergá-lo como ele era realmente, mas agora, ela o via: um macho espécie alto, maior e mais forte até que John, afinal Valiant era um gigante, dos mais fortes dali. Seu rosto era uma mistura das feições fortes de seu pai e das delicadas de Tammy, um rosto bonito, mas como seus olhos estavam vazios, uma beleza fria, cruel. Alto, muito forte e cruel. Ela nunca o enxergou assim.
"Eu não sei onde ela mora. Eu a encontrei na casa do pai de Patrick." Ela disse. Com sorte, ele ficaria interessado apenas em achar Bronzy.
Ele acenou. Mas ele não podia ir lá. Eustace poderia entrar em contato com o dono da ilha e Honor seria morto.
"Ela me ligou ontem. Pode tentar localizá-la com meu telefone." Ela estendeu o telefone, ele não se mexeu.
"Você perguntou a ela por que ela não quis vir para cá?" Ele perguntou, Sarah negou com a cabeça.
"A culpa não deixou, não é?" Ele sorriu. Sarah nunca mais falaria com ele. Ele nunca mais seria aquele seu amigo, o primeiro amigo que ela fez ali.
Sarah baixou a cabeça. Num outro tempo, seria a hora dela chorar e contar tudo, tentar se justificar, mas esse tempo se foi. Ela ergueu o queixo.
Simple não era mais o Simple de antes, talvez tripudiasse das lágrimas dela. Isso também era tão triste! Mas já era tarde. Não ia ficar lamentando a perda dele. As coisas são como são. Simple já andava nesse caminho de destruição a muito tempo, ela estava sendo afastada, assim como Lunna foi, assim como Flora também acabaria se afastando devido a todas as provocações dele a John.
"Eu sinto muito, Simple. No fim só vão restar seus irmãos, e depois nem eles." Ela disse, ele assentiu.
"Eu sei." Ele se sentou, ela se levantou.
"Você ia contar a Honest?" Ele perguntou, dessa vez sem olhar para ela, ele olhava para as mãos.
"Eu tinha algumas dúvidas." Ele suspirou.
"Sobre Brave." Ele disse.
"E sobre mamãe." Ele sorriu, frio amargo.
"Você é inteligente, afinal."
"Por que papai não..." Ele se levantou e foi até a janela.
"E quem disse que não? Ele é o seu pai, nunca se esqueça disso. É só que nunca teve importância para ele. Brass sofre do mesmo mal que eu, e por ser mais velho, muito mais aliás, ele conseguiu encontrar a paz. A mente dele é analítica demais, mas consegue se desligar de algumas coisas específicas e se ligar em outras. Em algum momento o subconsciente dele se convenceu que não importava e então, ele não pensou mais nisso. Isso é um mecanismo de defesa, pensar em coisas demais ao mesmo tempo, poderia tê-lo deixado maluco. E provavelmente foi apenas uma suspeita. Infelizmente isso pode explodir na cara dele. Embora esteja em suas mãos." Ela inspirou fundo.
"Eu acho que isso é importante." Ela disse. Simple não se virou. Sarah queria sair, mas ainda havia uma questão. Eles ficaram em silêncio por alguns minutos. Ele falou:
"Brave ainda é novo, Sarah. Ele nunca se sentiu acuado ou excitado demais ou nenhuma outra emoção muito forte, ele é como Sophia, tem muito domínio próprio e um coração enorme. Um coração bondoso que nunca odiou ninguém e que esteve sempre cercado de muito amor. Se ele continuar nesse caminho, um caminho lindo de aceitação e felicidade com as coisas simples, talvez ele nunca desenvolva veneno. No máximo vai desmaiar uma ou outra prostituta." Ele riu, Sarah estava pensando em tudo o que ele disse.
"E Bells?" Isso fez ele se virar.
"Se Noble não fosse apaixonado por você..." Ele aumentou o sorriso. Sarah afastou esse pensamento. Noble não era apaixonado por ela.
"Não dá pra saber, mas eu apostaria que são irmãos. Bells é um dos mais novos, ele vai completar cinquenta. Sua mãe está quase com quarenta, não é?" Ele perguntou, Sarah acenou.
"Vai querer juntar a família?" Ele a encarou, ela deixou ele ver toda a sua dor.
"Não há desculpa, não quando sua mãe é quem é. Mas por outro lado, ela vai te perdoar, sabe disso, não é?"
Sarah sabia. Mas havia a questão do paradeiro de Honor, ela queria muito contar, mas do que adiantava contar se poderia haver um espião na força tarefa? Ou ali? Ou em qualquer lugar?
Simple pegou um livro da prateleira, eles estavam alinhados por tamanho, o abriu, a dispensando, mas ela perguntou:
"Acha que há um espião na força tarefa? Eu só posso pensar em algo assim, para não terem encontrado Honor ainda."
Ele apertou os lábios. Eram lábios bonitos, passou pela mente de Sarah que algumas mulheres poderiam se sentir atraídas por um cara meio malvado. Embora ele fosse frio e indiferente.
"Romulus está lá, ele saberia. Eu torço para que aja, pois assim acharíamos meu irmão. Até agora, porém, parece estar tudo certo."
Ela foi até a porta, ele baixou os olhos para o livro, mas antes de sair ela disse:
"Não se mate, Sim. Sua mãe não aguentaria." Ele ergueu os olhos dourados para ela e sorriu, dessa vez era o sorriso de antes, o sorriso quente, meio travesso.
"Eu vou pensar nisso, mas vai depender dela." Sarah fechou a porta com leveza, seu coração estava um pouco mais leve. Simple era como um padre, ele guardava segredos, sempre foi assim. É claro que ele usava esses segredos da maneira que melhor lhe aprouvesse, mas ainda assim, ele os guardava.
Honest, Candid e Noble estavam na recepção que eles faziam de sala de estar, deitados num tapete felpudo assistindo um filme na tv. A tv estava no volume mínimo, Sarah demorou para conseguir se adaptar às vozes baixas e ao volume baixo em tudo, seja tv, rádio ou toca discos. Os celulares sempre ficavam no silencioso, até os jipes eram ajustados para fazerem o mínimo de barulho.
Noble se levantou, ele não foi embora.
"Vou levar você." Sarah se agitou. Ela e Noble na estrada escura por toda aquela longa distância?
"Eu vim de jipe." Ela disse, ele acenou.
"Está muito escuro." As estradas não tinham iluminação, eles não precisavam.
"O jipe tem faróis." Ela respondeu.
"Não importa, vou aproveitar a sua carona." Ele disse abrindo a porta para ela passar.
"Mas há um jipe lá fora. Não é o da sua mãe?" Candid que estava apertando os lábios deixou a risada escapar como se fosse um espirro. Ele fingiu outro espirro.
"Acho que há poeira nesse tapete." Ele comentou, quando Noble olhou com os olhos raivosos para ele. Honest continuava olhando a tv, desinteressado. Ele ostentava um olho roxo, que significava que tinham brigado. Machos!
"Eu vou com você. Está com medo de mim?" Ele perguntou ainda segurando a porta. Sarah ergueu o queixo e disse:
"O mais feroz dos filhotes do tio Valiant se chama Daisy e é uma fêmea." Ela disse e passou pela porta.
Ele fechou a porta cortando as palavras de indignação de Candid e andou atrás dela até seu jipe. Sarah entrou e se sentou ao volante. O jipe era do pai dela, e ela era bem capaz de dirigir no escuro. Ele se sentou no banco do passageiro, sua perna tocando na dela, ela se afastou. Ele não disse nada. Ela deu partida e eles foram engolidos pela escuridão. Ela só via uns poucos metros a frente e estava morta de medo de algum animal surgir na frente do jipe, mas sua mãe dizia que coragem era justamente quando você tinha medo, mas se decidia a continuar. Ela continuou pela estrada, ele ia silencioso ao lado dela.
"Sabe, o zoológico foi construído por humanos, sem a fiscalização de um Nova Espécie. E os quartos foram feitos para trabalhadores humanos, até que Hush apareceu para trabalhar com Leo, que não dormia lá. Hush é surdo, nunca precisou de isolamento nas paredes." Sarah parou o jipe quase o virando, Noble foi empurrado para cima dela. Ele ficou um tempo sobre ela, mas se endireitou.
"Você ouviu tudo?" Ela se virou para o brilho dos olhos dele, olhos de gato no escuro.
"Eu não entendi tudo, é claro. Simple, Candid e Honest têm a irritante mania de ficarem completando o pensamento de quem esteja falando com eles. Mas pelo que entendi, sua mãe seria irmã de Bells? Ela seria Nova Espécie? Mas Bells é felino, ele tem olhos como os meus." Sarah colocou o jipe na estrada, mas suspirou e parou.
"Se quer conversar durante o trajeto, então, dirija." Ela disse. Já tinha provado seu ponto, falar e dirigir naquela escuridão não seria fácil, ainda mais sobre aquele assunto.
Ele desceu do jipe, deu a volta e se sentou ao volante, Sarah passou para o banco do passageiro. Noble colocou o jipe na estrada e por alguns metros eles continuaram silêncio.
"Eu não sei de tudo, é só que Brave é idêntico a ela. Quantos filhotes iguais as suas mães você conhece? E não diga Pride, Pride tem o rosto delicado, mas ele não é tão parecido a sua mãe assim. Não como Brave. Até Ann Sophie e Flora se parecem com seus pais e eles são humanos." Ele dirigiu por um momento procurando uma objeção ao que ela dizia.
"Tem as marcações genéticas. A doutora Trisha saberia." Ele disse. Sarah concordava com ele.
"Mas e todas as drogas de regeneração que usaram em mamãe? Elas alteram o DNA. John é maior e muito mais inteligente devido ao papai ter usado as drogas do doutor." Fazia sentido. A primeira vez que Sophia entrou na Reserva ela estava quase morta.
"Tá, mas como ela não sabe? E ela seria felina? Embora, ela é alta, magra e forte... Ela poderia ser primata. Ela poderia ter sido descartada. Dizem que faziam isso." Ele disse, Sarah ficou alguns minutos pensando. Bells e ela só tinham em comum a cor da pele. Cabelos, olhos e feições eram diferentes. Sophia tinha lábio leporino, isso teria feito os técnicos a jogarem fora? E ela não tinha as presas, quando era pequena, seus dentes nasceram todos tortos, então tiraram seus caninos. Ela disse que não se lembrava direito, que era algo que o pai dela tinha lhe contado.
"A diferença dos dois é de doze anos. Será que ele poderia ser pai dela?"
"Ela teria de ser felina." Ele disse.
"É mesmo." Sarah suspirou, Simple disse irmãos, ele não errava.
"Mas ela é fértil. É de segunda geração, então." Ela disse.
"Bells pode ser de segunda geração também. Ele é mais novo. Romulus leu todos os relatórios de Bishop, o velho, em um deles havia uma relação de datas de nascimento. O número de Bells constava dessa lista. Ele vai completar cinquenta anos, mês que vem."
"E se ela e ele fossem filhotes de uma filhote de segunda geração? Com pais diferentes? E essa 'mãe' fosse primata? E um dos pais, o de Bells, no caso fosse felino?" Ele riu.
"Acho que estamos indo longe demais não acha?" Ele disse, Sarah riu.
"É, mas..." Não tinha graça. Sua mãe merecia saber, Honor estava longe e ela poderia ajudar a encontrá-lo, mas a um custo muito alto.
"Não sabe o que fazer, não é?" Ela segurou no braço dele.
"Pare o jipe, Noble."

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