CAPÍTULO 4

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Sara passou o dia aproveitando sua mãe e seus irmãos. Era tão bom estar de volta!
Ela ajudou a cozinhar, ou melhor, a quase não cozinhar a tonelada de carne que seu pai e seus irmãos comiam. Eles estavam a mesa e ela não conseguia tirar os olhos de Brave.
Ele era tão lindo! A pele escura, com as feições delicadas de Sophia e os olhos escuros. Ele sorriu para ela e ela notou as presas pequenas.
"Eu sei que eu sou bonito, Sarah, mas somos irmãos." Seu pai deu um tapa na nuca dele, todo mundo riu.
"É que você é igualzinho a mamãe, e eu não percebi o tanto que senti falta dela!" Sua mãe estendeu a mão e segurou a de Sarah. Sarah se esforçou para não chorar de novo.
"E só sentiu falta da sua mãe?" Seu pai perguntou. Sarah sorriu para a cara fechada que ele fez. Seu pai, na opinião dela, era um dos machos mais bonitos dali.
"Eu senti muito a sua falta, papai." Ele sorriu, iluminando seu rosto. Sarah sentiu a coragem voltando.
"John, como vão as buscas por Honor?" Ela perguntou, seu irmão se mexeu na cadeira.
"Ele tem essa mania besta de não comentar informações das missões em casa." Sophia disse, encarando John.
"Estamos indo." John deu de ombros.
"Estamos indo, estamos indo! Isso é resposta? Tammy é a fêmea mais importante dessa Reserva, acha que dizer estamos indo acalma o coração dela? Acalma o meu coração? Você não sabe disso, mas uma mãe sempre vai sentir a dor da outra!" Sophia disse. Sarah estava vendo o que a partida de Honor causou a todos ali.
"Ela está a par de tudo, mamãe. Mas não há muito a informar."
"Vengeance continua procurando?" Ela perguntou para Brass.
"É claro, querida, ele não vai desistir, mas parece que Livie não consegue conexão com Honor." Sophia baixou a cabeça. Sarah ficava muito mal vendo-a triste.
"Livie está aqui?" Sarah perguntou, sua mãe acenou.
"Eu vou vê-la hoje ou amanhã." Sarah pensou em Romulus que lia mentes. Ela não podia ficar perto dele.
"Quando vocês voltam John? Isso você pode dizer, não é?" Gift e Brave riram, até sua mãe sorriu de leve.
"Hoje." John estava tão sério!
"Nós já varremos um grande território, fomos em todos os lugares suspeitos, estamos de olho em vários países ao mesmo tempo, e não tivemos nada nesses três anos. E só temos mais dois anos para..." Ele desabafou.
Sophia olhou para Brass, seu pai não dourava a pílula, então disse:
"Mais dois anos de procura e ele será considerado morto." Brass disse e a mesa ficou em silêncio.
Sarah suspirou.
Ela terminou, deu um beijo no rosto de sua mãe, se levantou da mesa e subiu para seu quarto.
Ela poderia dizer que tinha como saber onde Honor estava, mas Eustace tinha um trunfo muito grande em mãos. Se até hoje, três anos depois de ser vendido, a força tarefa não o encontrou era sinal de que havia um espião entre eles, ou em Homeland.
Sarah pensava numa forma de fazer alguma coisa, dar alguma informação. Ela tinha até estar ovulando para fazer algo. Seu telefone tocou. Era a Bronzy.
"E então?" Ela disse, Sarah não sabia o que ela queria.
"E então, o que?" Ela perguntou. Havia uma sensação estranha em falar com ela, um misto de carinho e medo.
"Já conversou com Noble? Já estão íntimos?" Ela perguntou.
"Eustace sabe que está me ligando? Por que parece que você só quer conversar." Sarah disse. Se conseguisse despertar algum sentimento nela, talvez tudo se resolveria.
"Sim, ele sabe, ele pediu que eu ligasse. Não vamos deixar você desistir. Você é uma tola romântica, dar um filhote em troca da salvação de outro Nova Espécie e de vários outros é uma coisa que poucas poderiam fazer. Não seja fraca!" Ela desligou.
Sarah discordava dela. Haviam muitos tipos de força, a força física era a mais simples delas, ou você tinha ou não. Mas força de vontade, força de caráter, essas sim eram valiosas. E Sarah era filha da pessoa mais forte que ela já conheceu. Sarah não ia decepcionar Sophia. Ela daria um jeito.
Alguém bateu na porta e a carinha sorridente de Brave apareceu depois. Sarah se sentou e fez sinal para ele entrar. Ele se sentou na cama ao lado dela tomando todo o espaço. Ela então percebeu o quanto ele tinha crescido.
"Por que sua cama é tão pequena?" Ele perguntou, ela riu.
"Noble diz a mesma coisa." Ela disse, ele rosnou.
"Como Noble sabe o tamanho da sua cama?" Ele perguntou sério, seu rosto a imitação perfeita do rosto da mãe deles, quando ela ficava brava.
"É sério?" Ela fechou a cara, ele lhe deu seu sorriso travesso. Ela segurou nas mãos dele admirando a beleza da cor de sua pele.
"A cor de sua pele é tão bonita..." Ela ainda se sentia tão mal com o que aconteceu! Ela era só uma criança!
"Eu sei." Ele disse com um sorriso.
"Quantos períodos faltam, Sarah? É horrível imaginar que você vai embora amanhã." Ele disse, Sarah quase bateu em sua testa. Ela tinha de inventar uma desculpa na faculdade!
"Acho que vou ficar um pouco aqui. Por causa do término com Patrick e tal." Ele ergueu as sobrancelhas.
"Acha que isso vai colar com a mamãe? Você tem o papai no bolso, eu te dou isso, mas a mamãe vai querer que você enfrente o idiota e mostre que você é filha de Sophia North." Ele disse, os dois riram. O pior é que era verdade.
"Você adora a faculdade, está mesmo tão magoada?" Ele perguntou com a voz leve, olhando para a janela. Sarah porém o conhecia muito bem para saber que se ele imaginasse que Patrick realmente a magoou, ele teria de se ver com Brave e também com Gift e talvez com John também. Por um momento ela saboreou imaginar Patrick sendo cercado por seus irmãos.
"Eu terminei. É que agora eu me sinto fora de lugar, eu queria um tempo pra mim, afinal eu comecei a namorar com ele no fim do meu primeiro ano, eu ainda estava deslocada lá. Foi ao lado dele que eu consegui me adaptar. Ele era meu amigo. Acho que é muito mais difícil terminar uma amizade do que um namoro." Sarah estava sendo sincera. Ela e Patrick eram amigos. O namoro estava morno, mas a cumplicidade e a intimidade que eles partilhavam era do que ela já começava a sentir falta.
"Mas você terminou por que..." Brave cravou seus olhos escuros nela, Sarah por um momento procurou pintinhas de bronze em suas íris, não havia nenhuma. Ele continuava esperando.
"Não quero falar mais disso. Me conta, ainda não decidiu o que quer cursar?" Ela se preparou para ouvi-lo. Ele só negou com a cabeça.
"É normal. Não se esqueça que papai criou vocês o mais próximo da criação humana, vocês tem só treze anos." Ele lhe deu um sorrisinho e disse:
"Nós fazemos algumas coisas que filhotes humanos de treze anos não fazem."
Sarah bateu no braço dele.
"Brave!" Ele sorriu.
"O quê, nós fazemos muitas coisas que filhotes humanos de treze anos não fazem, escalar, por exemplo." O rosto dele continuava malicioso.
"E Gift?" Ela perguntou. Sarah sempre foi mais próxima de Brave. Gift e John eram mais sombrios como Brass. Até nisso Brave tinha puxado a mãe deles.
"Engenharia. Ele até já está mandando as cartas. E não é como se as faculdades não brigassem por ter um de nós entre os alunos." Ele disse, Sarah ficou feliz.
"Que legal! Um engenheiro na família!" Ela sorriu, ele, porém não.
"É." E Sarah suspirou. Se contasse sobre a chantagem de Eustace, ele poderia ser torturado? Ou poderiam fazer algo contra ele? Ela precisava saber. Eustace estava muito seguro de que não poderiam fazer ele falar. Ou de que caso algo acontecesse com ele, Honor poderia ser morto. Sarah suspirou.
"Brave, lembra quando você mordeu o Flame?" Ele fez uma cara de raiva.
"É claro. Destiny me furou todo! Eu era só um bebê!" Ele disse.
"Você não era só um bebê, Brave. E Destiny só colheu seu sangue." Ele deu de ombros.
"Por que está perguntando?" Brave a encarou e ela viu um certo alerta nos olhos escuros dele.
"Aconteceu alguma outra vez?" Ele se levantou, disse não e ia se despedir dela quando Sarah o segurou pelo braço.
"Brave." Ele suspirou.
"Uma... Fêmea, você sabe. Eu a mordi no pescoço, não rompeu a pele, mas ela desmaiou. A levamos para o hospital, mas antes de chegarmos lá, ela já tinha melhorado. Deu tudo certo." Ele disse. Sua voz parecia despreocupada, mas aquilo o inquietou, ela podia ver nos olhos dele.
"Não aconteceu de novo?" Ele balançou a cabeça. Sarah aceitou o beijo dele e ficou olhando ele sair pela porta.
Ela precisava conversar com alguém.
Florest? Era uma tentativa. Mas enquanto discava, ela pensou em Honest. Honest estava fazendo residência, ele tinha passado Florest que por não conseguir ficar longe de seus pais fez apenas medicina. Ele estava fazendo residência agora, mas Honest já estava em cirurgia, tendo feito neurologia também.
Ela discou o número dele e esperou.
"Oi." A voz era a de Honest, mas a entonação estava muito animada para ser ele.
"Cam?" Ela sorriu.
"Não. Sou eu, Honest." Sarah riu mais ainda. Candid riu também.
"Tem de admitir que a imitação ficou boa. Ele está tomando banho, posso ajudar?" Eles sempre contavam tudo um para o outro, mas Sarah ficou em dúvida.
"Vocês não tomam mais banho juntos?" Ela brincou para conseguir mais tempo. Talvez não fosse uma boa idéia envolver os três nisso.
"A questão é que não somos tão exatamente idênticos, e quando crescemos, um de nós, e você pode imaginar quem, acabou ficando maior que os outros dois perdedores, se é que você me entende, então para não deixar meus irmãos tristes, paramos com isso." Sarah ainda ria quando um barulho chamou a atenção dela. Algo como alguém pegando o telefone bruscamente.
"Sarah? Tudo bem?" Sarah fechou os olhos. Droga! Simple. Ela era uma idiota. Ela não queria envolvê-lo naquela história.
"Oi, Sim. Estou bem e você?" Ela tinha muito carinho por ele, mesmo eles tendo se afastado nos últimos anos.
"Aconteceu alguma coisa?" Ele perguntou.
"Não, nada. Você está no hospital com seus irmãos?" Ela desconversou.
"Não. Estamos aqui. Chegamos um pouco tarde para a festa, mas vamos entregar o presente de John hoje. Ele está aí?" Ele perguntou. Sarah se levantou da cama. Simple não podia chegar perto dela! Ela tinha de fugir para algum lugar.
"Eu não sei. Ele deve estar na Flora." Ela odiava não ser capaz de saber pelo cheiro se seus irmãos ou seus pais estavam em casa. Para seus irmãos, isso era tão básico! Ela o ouviu inspirar e então, ele disse:
"Não, ele está aí. Peça pra ele nos esperar, por favor? Estamos esperando Honest sair do banheiro." Ele disse, Sarah escutou um resmungo, deveria ser Honest xingando.
"Quando chegarmos aí você pode conversar com Honest, tudo bem?" Ela fechou os olhos. Ela era muito burra!
"Sim, é claro." Ela desligou e correu para o banheiro. Ela se esfregou toda, cada pedacinho de seu corpo, até que estava toda vermelha, lavou os cabelos duas vezes, e saiu do banho. Em seu quarto, Sarah passou um creme hidratante por todo o corpo, perfume e por fim, entrou no quarto de seus irmãos, eles estavam na sala, pegou um conjunto de moletom de Gift e vestiu. Ficou um pouco grande, mas ela gostava desses conjuntos, esse era preto, poderia muito bem ser um dos dela. Sarah se olhou no espelho, pegou uma tesoura e cortou as pernas da calça fazendo um short e as mangas do moletom.
Ela deveria saber que eles não perderiam o aniversário de John! Como foi tão idiota? Se Simple sentisse o cheiro de Bronzy nela, tudo iria por água abaixo!
Sarah foi até a sala, se sentou perto de John e se aconchegou nele quando Gift reclamou:
"Por que cortou meu conjunto Sarah? E logo o meu preferido!" Sarah abriu a boca, mas John respondeu por ela.
"Fica melhor nela que em você." Ele disse, Brave riu. Seu pai e sua mãe não estavam presentes, deviam estar no quarto.
"Sabia que os trigêmeos estão aqui?" John acenou.
"Sim, eles vieram com Florest. Honest está no mesmo hospital que ele. Candid e o outro devem ter ido para lá e vieram também." Ele ainda estava distante de Simple.
"Estão vindo pra cá trazer seu presente." Ela disse se erguendo do colo dele.
"Os três?" Ele perguntou, seus olhos estavam frios.
"John, tem de superar isso. Sempre amamos os leãozinhos, eles são como irmãos para nós." Brave disse, como sempre tentando apaziguar.
"Se quer saber minha opinião, se você fosse seguro do amor de Flora, não ficaria assim. Já fazem mais de três anos. Ele nunca tocou nela." Gift disse, John ajeitou Sarah em seu colo, e não disse mais nada. Sarah colocou a cabeça no ombro dele, alisando os cabelos negros e lisos, pensando em como as posições entre eles mudaram. Antes, ela o fazia dormir, embora ele sempre foi muito pesado para ela o carregar.
Não demorou e bateram na porta, Brave foi abrir e no segundo seguinte, todos estavam se abraçando. Candid lhe cheirou o pescoço e disse que estava a disposição se ela quisesse um macho para esquecer o idiota. Sarah riu.
John estava de pé olhando para eles, Honest estendeu um embrulho, parecia um livro grande. Ele aceitou, abriu e era mesmo um grande livro, sobre arte renascentista. John abriu um grande sorriso e agradeceu a Honest com um abraço.
Candid disse que não tinha tido tempo de comprar um presente, então estendeu um papel dobrado para John dizendo que já estava pago.
John riu e jogou o papel para o alto, Brave e Gift praticamente saíram lutando pelo papel, enquanto todos riam. Gift ficou com o papel.
Simple estendeu um embrulho, mas facilmente se via que era uma garrafa.
"Pra afogar as mágoas, se um dia Flora escolher outro." John rosnou. Honest, Candid, Gift e Brave ficaram a frente dele, Sarah o olhou, ele sorriu.
"Um simples banho não é suficiente. Se quiser conversar, estarei no zoológico."
Ele sorriu e saiu enquanto Honest e Candid seguravam John.

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