CAPÍTULO 16

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Dezesseis segurava o corte no lado do corpo de Dezessete, ele estava muito pálido deitado no chão, mas ela tinha um semblante calmo enquanto fazia pressão tentando conter o sangue.  Honor ouviu os jipes e os passos dos aprimorados.
"Aguenta ser carregado?" Ele perguntou, Dezessete não respondeu. Honor o pegou nos braços e fez sinal para dezesseis.
"Vamos!" Ele correu tentando não sacudir muito o filhote em seus braços, mas o sangue continuava jorrando da ferida.
Eles correram, Dezesseis estava com os olhos arregalados, parecia que estava em choque.
"Estamos longe, muito longe!" Ela disse desesperada. Honor parou.
"O que você vê?" Ele perguntou, ela balançou a cabeça.
"Nada! Eu não..." Um projetil passou perto da cabeça dela, ela se assustou.
"Vamos." Eles correram, Dezessete desmaiou.
Tudo o que Honor pensava era que não podia deixar o filhote morrer. Ele aumentou a velocidade, Dezesseis ficou para trás, ele diminuiu.
"Vamos Dezesseis!" Uma bala o atingiu no braço, eles estavam perto. Dezesseis olhou para o sangue no braço dele, ele fez sinal para que ela continuasse.
Porém, eles estavam muito longe e Honor sentia caçadores e aprimorados vindo por todas as direções. Eles teriam de lutar com um dos grupos. Honor então, indicou a Dezesseis que seguisse a esquerda. Era a direção na qual encontrariam o menor grupo.
"Vamos por aqui." Ele disse, ela correu atrás dele. Era uma rota ainda mais longe do lugar seguro, mas eles se encontrariam com dois aprimorados e três caçadores apenas.
E logo, Honor os sentia bem próximos, Dezesseis desviou de uma bala que acertaria sua perna e de outra que a acertaria na barriga. Ela parou e se escondeu atrás de uma árvore, Honor deitou Dezessete no chão.
"Dezessete?" Honor o sacudiu ele abriu os lindos olhos brilhantes e disse:
"Papai vai parar a caçada." Ele tossiu sangue, Honor temeu que não houvesse chance dele sobreviver. Isso o enfureceu.
"Cuide dele." Ele disse a Dezesseis e correu até o grupo. Os caçadores vinham num jipe, atirando a esmo, os aprimorados vinham correndo ao lado. Honor se lançou sobre o jipe, saltando e caindo sobre o que estava no banco de trás, o humano se dobrou ante o peso dele, Honor só sentiu barulho de algo se quebrando. Os outros dois tentaram atirar, Honor arranhou profundamente o pescoço de um e socou o outro com muita força, o lançando longe. Os aprimorados atiraram nele, Honor usou o corpo de um caçador para se cobrir das balas e quando um parou de atirar por um segundo Honor se jogou sobre ele. O outro conseguiu lhe acertar um tiro no ombro, mas Honor lhe torceu o pescoço. Dezesseis olhava tudo com um rosto impassível, ela estava novamente tentando estancar o sangramento de seu irmão.
"Dezesseis?" Honor ia pegar o filhote no colo, ela o encarou.
"Temos de ir para a direita." Honor acenou. Ela estava no controle, ele suspirou de alívio.
"Papai!" Dezessete chamou baixinho. Honor o pegou com cuidado e correram.
"Aqui." Dezesseis indicou outra direção, eles enveredaram por uma trilha entre árvores grandes e antigas.
"Onde estamos indo?" Honor perguntou.
"Confie em mim." Ele acenou, eles continuaram até chegar num paredão de pedra.
"Consegue escalar?" Ela perguntou, Honor olhou para Dezessete em seus braços.
"Não carregando ele." Ela olhou para cima, era um paredão de uns sete metros e se conseguissem ganhariam tempo.
"Tente assim mesmo, teremos uma vantagem." Honor colocou Dezessete no ombro, fez uma prece a virgem de sua mãe e se lançou contra o paredão. Era bem íngreme, ele usou toda sua força içando seu corpo para cima, o corpo de Dezessete no ombro dele raspava na pedra, mas não havia muito o que fazer. Ele aproveitou uma forte trepadeira brotando em alguns pontos para subir e quando não havia nada, ele perfurava a rocha com os punhos. No fim da subida, ele tinha quebrado três dedos e suas mãos estavam em carne viva.
Mas eles tiveram uma grande vantagem, Honor sentiu uma certa esperança, eles correram durante um certo tempo, cada metro vencido lhe dava confiança de conseguir salvar Dezessete.
Dezesseis parou e olhou ao longe, Honor desceu o corpo de Dezessete e o deitou no chão com cuidado. Ele abriu os olhos, mas estava semi consciente.
"Papai? Papai, venha nos ajudar." Ele chamava, Honor sentiu a raiva aflorar e jurou que se encontrasse o pedaço de merda do pai de Dezessete, mastigaria o coração dele.
"Estarão nos esperando no lugar seguro. Quatro aprimorados e sete caçadores." Ela olhou para Honor, tentando segurar o pânico. Honor assentiu, ela engoliu em seco, fechou os olhos e respirou fundo.
Honor voltou a colocar Dezessete no ombro com cuidado e fez sinal para continuarem. Dezesseis correu ao lado dele, silenciosa, seu rosto resignado.
A uma certa distância do lugar seguro, Honor parou, colocou Dezessete no chão, Dezesseis correu para fazer pressão na ferida. A carne estava se fechando em volta do grande buraco feito pela munição de grosso calibre.
"Fique aqui, eu vou enfrentá-los. Vou matar todos e voltar." Honor disse, ela abriu a boca, mas a fechou em seguida.
"Boa sorte." Ela disse, ele sorriu.
Honor correu na direção dos filhos da puta e os sentiu bem perto da entrada da jaula deles, o lugar seguro.
A luz verde num dos postes estava acesa, sinal que a eletricidade das grades estava ligada. Uma coisa boa naquele mar de merda, Honor pensou.
Ele parou de correr, andou até estar a distância de um salto dos idiotas e parou.
"O filhote está muito machucado. Deixem ele e a irmã entrarem e sou todo de vocês." Ele disse.
Vin o olhou pensativo, Cash riu e disse:
"Você não tem nada a barganhar animal. Hoje é sua última caçada." O outro aprimorado, um dos mais novos, riu.
"Certo." Honor olhou para a câmera, Vin ergueu o braço, lhe dando tempo. Sempre que Honor se dirigia às câmeras as apostas aumentavam, isso já havia virado praxe.
"O caçador que matar Cash não vai morrer. Eu matarei todos, menos ele."
Cash parou de sorrir quando dois caçadores descarregaram as armas nele, Vin, se lançou sobre o que estava mais perto, mas era tarde, o outro acertou um tiro bem na cabeça de Cash. Vin tirou a arma das mãos do caçador, mas acabou devolvendo.
"Você vai viver, o resto vai morrer." Honor decretou e saltou sobre Vin, pois depois de Cash ele era o mais forte, os tiros choveram sobre ele, mas de perto, era fácil de se desviar enquanto mordia o pescoço de Vin. Honor cuspiu a pele que retirou do pescoço de Vin na cara de um caçador, ele foi limpar o rosto, foi a oportunidade de Honor o lançar contra as grades. Honor ainda lançou outro com um soco, os dois corpos  ficaram agarrados nas grades, se retorcendo até que caíram sem vida e os outros caçadores correram. Só sobraram Honor e os dois aprimorados.
O mais novo se lançou contra ele, o socando na cara, Honor pegou o braço dele e quebrou. Ele gritou, pois o osso começou a curar errado, Honor pisou em sua perna e também quebrou o outro braço. Ele caiu no chão e ficou como um boneco articulado com os membros tortos, os estalos dos ossos se curando errado se misturavam aos gritos dele. Porém, quando havia apenas um contra ele, Honor só tendo levado três tiros, ele ouviu o grito de Dezesseis. Os caçadores correram para onde ela e o irmão estavam.
Honor correu, o aprimorado abriu fogo, uma bala lhe acertou a parte de trás da coxa e outra a coluna, fazendo Honor se dobrar de dor. Ele teria de  acabar com o aprimorado.
Honor se virou e levou um tiro no braço e um no pescoço, o sangue jorrou. O aprimorado sorriu e fez mira na cabeça de Honor que se levantou e esperou. Eles estavam a poucos passos um do outro. Honor se concentrou no coração dele, haveria um mínimo descompasso na batida quando ele atirasse e era nisso que Honor se focou. No momento exato da batida fora do ritmo, Honor se abaixou, rolou e saltou no pescoço do desgraçado. Ele ia torcer, mas Honor estava tão cansado de tudo aquilo! Ele rugiu na cara do filho da puta e soltando o pescoço usou os polegares para afundar os olhos dele. O sangue jorrou por seus dedos enquanto o aprimorado gritava, até que Honor o soltou, no lugar dos olhos haviam dois buracos cheio de sangue. Honor usou suas garras para retalhar o rosto do infeliz e aí sim, Honor lhe torceu o pescoço.
O próprio pescoço de Honor sangrava, ele fez pressão na ferida enquanto mancava até onde Dezesseis estava. Ela era durona, os caçadores eram humanos, ela poderia com pelo menos dois deles, mas ainda haviam cinco, era muito para ela. Honor ouviu um tiro, ele respirou fundo, ignorou a dor e correu até onde os irmãos estavam só para ver os caçadores serem destroçados por um macho Nova Espécie surgido do nada. O pai deles.
Dezesseis estava caída, com um grande corte no braço e um tiro na perna, Honor foi até ela e a jogou no ombro. Dezessete estava desmaiado, mas saía menos sangue da ferida, Honor o pegou nos braços usando o resto de suas forças, em agonia pela dor das balas, e correu com eles para o lugar seguro. As portas estavam fechadas, as grades faziam um zumbido com a eletricidade que corria por elas. Os caçadores que Honor jogou contras as grades jaziam no chão, o cheiro de carne queimada ardeu no nariz dele.
O barulho de tiros cessou, Honor colocou os gêmeos no chão e esperou. Era o fim da caçada.
"Parabéns, Honor. Nos proporcionou um grande espetáculo. Mas como quebraram as regras, não abriremos a porta do lugar seguro. Vocês tem trinta minutos até a nova equipe de caçadores chegar." A voz do diretor daquele inferno soou.
Dezesseis se arrastou até o irmão e o sacudiu.
"Dezessete!" Ele não acordou, mas seu coração batia, razoavelmente firme.
"Ele não vai morrer, o coração dele está estável." Honor disse. Ela ficou de pé, o corte no braço foi muito profundo, estava sangrando ainda.
"Faça pressão." Honor disse.
"Papai..." Ela disse, Honor olhou para trás e viu o Nova Espécie que ele jurou matar. Ele vinha devagar, havia sangue em sua barriga, no braço e na perna.
"Filha, pode me perdoar?" Ele disse, quando se ajoelhou a frente de Dezesseis. Ela o olhou fria, sem emoção e disse:
"Não. Não agora, pelo menos." Honor ficou admirado da dureza dela, ainda que a vontade de torcer o pescoço daquele traidor fodido ainda fosse forte. Ele se concentrou em seus ferimentos.
Duas balas tinham saído, a da coluna não e ele sentia muita dor nas costas. A da coxa, entrou e saiu, o buraco estava se fechando.
"Dezessete." O macho sacudiu o filhote, ele gemeu, e abriu os olhos.
"Eu sabia... Você veio." Ele desmaiou de novo. O macho se levantou e olhou para Honor.
"Sei que deve estar querendo me matar e te darei isso, mas eu te peço ajuda uma última vez." Honor acenou. Ele queria muito matar aquele macho. Muito.
"Vou me jogar contra as grades, isso vai diminuir a carga, você quebra uma delas e os joga lá dentro." Ele disse e esperou.
Honor o examinou e viu que não era capaz de matá-lo da mesma forma que não foi capaz de ouvir seus instintos dizendo que Adam e Noah não eram eles mesmos quando o levaram para aquele helicóptero. Ele era muito parecido com o seu tio, o amado tio V., Honor não o mataria.
"Eu forçarei as grades, você os joga lá dentro." Ele disse. O macho ainda ia retrucar, Dezesseis disse:
"Eles vão saber, Honor." Honor deu de ombros. Era uma coisa que Honor nunca tinha mostrado, que seu corpo se adaptava a eletricidade. Ele guardava essa informação para quando tivesse um plano de fuga. Agora, não havia outra alternativa.
"Daremos um jeito." Ele disse e foi até as grades.
A dor o atingiu de tal forma que ele rugiu com toda força de sua garganta e pulmões enquanto forçava as grades, uma em cada mão, e as puxava. Honor forçou seus músculos  ao máximo em meio ao tormento de dor até que as grades quebraram dando espaço para que o macho passasse Dezessete e Dezesseis por entre o buraco. Honor soltou as grades.
Dezesseis arrastou o corpo de irmão até o fundo da jaula, Honor e o macho se sentaram no chão.
"Obrigado." O macho disse. Honor viu que a ferida do pescoço estava fechada, e a bala de seu braço também saiu. A da coluna parecia não querer sair do lugar. A eletricidade corria por seu corpo, ele fritaria quantos filhos da puta ele pudesse.
"Por que fez isso com eles?" Honor perguntou.
"Disseram que teriam de participar de apenas uma caçada e sobreviver. Se conseguissem, nós seríamos libertos, iríamos para... Para onde você vive, eu acho, todos juntos. Eles estão treinando desde o ano passado, mas não foi suficiente." Ele disse, cavando a bala nas pernas. Honor o olhou, como ele poderia ter sido tão idiota?
"Onde você estava? Por que eles teriam de participar e não você?" Honor usou suas garras e retirou o resto de uma bala em seu ombro.
"Eu implorei para vir, não quiseram. Eu estava numa jaula, a nossa jaula. Parece uma casa, fica atrás daquela montanha. Eu vivo lá desde que me lembro. Hoje eu acordei me sentindo estranho até que uma urgência me tomou de tal forma que eu corri até o muro da jaula, a escalei e corri até aqui. Era Dezessete." Ele olhou para as mãos sujas de sangue.
"Sua jaula não é vigiada?" Honor perguntou.
"É, eu matei todos no caminho." Ele disse sem emoção. Honor acenou. Aquela ilha tinha um ar estranho, ele sentiu isso desde que acordou ali.
"E a mãe deles?" Honor perguntou, ele sorriu, triste.
"Mary. Não é o nome dela, ela nunca me disse, eu inventei esse. Eles a colocaram na minha jaula, nós, bom, você sabe e depois me entregaram meus filhotes. Não sei o que houve com ela." Mary. O nome da namorada de seu irmão, o nome que o falecido vovô chamava as fêmeas casadas da Reserva. Honor não queria se lembrar dessas coisas, doía.
Eles ouviram o barulho dos carros, Honor suspirou e ficou de pé, assim como o macho.
"Qual é o seu nome?" O macho perguntou.
"Honor." Ele assentiu. O nome dele era Quinze, seus filhotes tinham contado a Honor.
"Dezessete me disse que você é um clone."
"Sim. Um clone de Vengeance. Eles me contaram algumas coisas sobre ele. E sobre seus irmãos. São seus irmãos, não são? Cabelo ruivo, felinos e olhos dourados?" Ele perguntou, Honor sorriu assentindo.
"É, aqueles pestinhas são famosos. Bom, eu não sei se adianta alguma coisa você saber disso,mas você não é um clone." Honor disse, Quinze estreitou os olhos o encarando. Honor aguentou o olhar dele, mostrando que estava certo do que dizia, mas o outro balançou a cabeça.
"Sim, eu sou. Eles sempre me disseram isso, fizeram muitos exames, tentaram me duplicar. O máximo que conseguiram foram meus filhotes." Ele disse, olhando para a frente.
"Vamos sobreviver e então eu vou te contar por que eu sei que você não é um clone, o que acha?"




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