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Bruna 🎡
Subi do bar da tia Ana antes do Lobão e da Laura, porque estou extremamente cansada, fui no asfalto hoje só pra resolver umas paradas e fazer minha unha, que geralmente eu faço por la.
Deitei na minha cama e vi várias notificações, indicando possíveis chamadas perdidas, liguei pro número de novo, que logo me atendeu.
-Oi, quem é? -Apoiei o celular no meu ombro e levantei da cama, não ouvindo nada a não ser uma respiração no outro lado da linha. -O caralho, quer me passar trote? Falar que sequestraram meu filho? Porque eu não tenho não.
-Vai dizer que você não estava com saudades? -Gelei na mesma hora e enguli em seco.
-Quem é? Que brincadeira de mal gosto é essa? Fala logo caralho. -Falei depois de um tempo calada e ouvi a risada.
a risada do filho da puta daquele homem.
-Vai me dizer que não ta com saudades do seu pai, tanto tempo, minha...
-Some da minha vida. Nunca, nunca nessa vida me procura, filho da puta.
-Mais respeito gatinha, tô te esperando na Gávea, lugar de sempre...quando a vadiazinha da sua mãe...
-Limpa a boca pra falar da minha mãe, ela só ficou daquele jeito, por sua culpa. -Comecei a bater os dedos na cômoda. -Eu não vou te encontrar nunca, nessa vida.
-Ou tu vem, ou pode ter certeza, que os dias da sua irmã, estão contados. Quarenta minutos, Bruna, e não abre a sua boca pra ninguém.
Ele desligou o telefone e eu sentei na cama, tentando entender o que fazer.
Tomei um banho bem rápido e prendi meu cabelo, indo direto pra sala, logo, trombei com a Laura e o Lobão chegando.
Laura : Tá indo onde amiga? Vamo fazer um pastel...
Bruna : Agora não da, é...eu tenho um compromisso. -Falei tentando transmitir convicção e eles ficaram me encarando.
Lobão : Tu vai descer o morro de novo? Estranho isso ai, quer que um dos cara vai com você?
Bruna : É lance rápido, não precisa.
Sai de casa antes que eles perguntassem mais coisas e desci o morro, até chegar na barreira, que me tirou uns dez minutos.
Chamei um uber e parei na praça, no bar garota da gávea, onde eu sempre encontrava com o filho da puta daquele homem que sempre fez de tudo pra me tirar da minha mãe.
-Saudades do seu pai? -Me deu um abraço forçado e eu continuei parada no mesmo lugar. -Tu cresceu, ta mudada.
Bruna : Fala logo o que você quer, tava bem longe de você ser solto, não era? -Ele me empurrou até na mesinha, pra eu sentar ali.
-Calma, tu ta apavorada demais, primeiro, como você ta? Sete anos sem vê teu pai, pensei que ia tá com mais saudades.
Bruna : Sete anos preso, surpreendente pro chefe do bope ne, ou tu não acha isso estranho? Mas vem ca, o que você fez em? Pra ir preso assim? Um dia no topo, outro la em baixo.
-E tua vó? Como ta? -Mudou o assunto completamente. -Sua mãe ta no saco...
Bruna : Não abre a boca pra falar da minha mãe, você não tem direito disso. Fala logo o que tu quer, Nogueira.
Nogueira : E os lance la no morro, como é que ta? -Olhei com deboche pra ele, que riu cínico. -Tenho que saber, você também, pra quando chegar tua vez de herdar, tá no topo.
Bruna : Você fumou né? Só pode. Herdar morro onde? Ta com problema, na moral, melhor tu ir pra um psiquiatra que te entenda.
Nogueira : Já tentei uma vez, não consegui, quer dizer, meio caminho foi ne...pai e mãe dos teus amiguinhos, coitados.
Fiquei encarando ele por um bom tempo, que abriu um sorriso satisfatório, fingindo ta feliz por alguma porra ali.
Nogueira : Surpresa. -Falou num tom doentio. -Preparada pra ser minha informante, minha menina?
Bruna : Você tem algum problema mental, isso sim. Nunca nessa vida, que eu vou fazer alguma coisa pra você.
Nogueira : Relaxa, não é por muito tempo. Só até eu matar a Laura e o Lobão, depois disso seremos eu e você, na frente, dirigindo uma das favelas desse Rio de Janeiro.
Bruna : Nunca, você matou os pais da minha melhor amiga, tem noção do que é isso? Vão te pegar Nogueira, tu não aguenta, é fraco.
Nogueira : Ok, hm, deixa eu vê...aula de inglês da tua irmã, é nesse horário, não é? Fica no Leblon o cursinho da bastarda...você prefere morte rápida ou lenta? -Falou baixo só pra eu ouvir e meus olhos encheram de lágrimas.
Bruna : Por que você é assim? Caralho, deixa minha família em paz, é difícil pra você, vê alguém bem, feliz?
Nogueira : Tu ta no aviso, Bruna, não me estressa, tô nos teus passos sempre. Mantenho contato. -Levantou da mesa. -E abri tua boquinha, que a velha da sua vó vai também.
Ele saiu e eu fiquei ali tentando pensar o que fazer, não têm uma única vez, que eu consigo ser feliz, uma única vez.
Sempre foi assim, tendo que aguentar muita barra, por erros que nunca foram meu.
Passei por São Conrado e fiquei sentada no branquinho ali, sequei todas as lágrimas possíveis e mandei uma mensagem pra minha irmã perguntando se ela tava bem.
Depois que ela me respondeu, peguei outro uber, pra ir até a barreira do morro, pensando como eu ia encarar a Laura depois de tudo que eu ouvi dele.
Ou melhor, o que eu iria fazer pra não perder as melhores pessoas do meu mundo.
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Vivência [M]
FanfictionExige sacrifício, não é só fazer oração Ela me deu o bote porque sabe que eu não sei nadar Eu desci o rio, agora ficou longe pra voltar Tem sangue frio, espera a corrente levar Quanto mais puxa, menos dá pra respirar