10 | O dia do corno

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Cruzei os braços, analisando o "meu" — entre aspas colossais — presente de aniversário

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Cruzei os braços, analisando o "meu" — entre aspas colossais — presente de aniversário. Diante daquele vestido e dos demais apetrechos para complementá-lo, o ódio subiu direto e parou na minha cabeça, fazendo-a latejar.

Ele me comprara até um daqueles sutiãs que apertam os peitos até ver doer para avolumar o decote. Lá vamos nós de novo... Pra enfeitar a cabeça da Manuela, meu corpo era perfeito. Pra ser sua oficial, meus peitos são pequenos demais, meu nariz é largo demais, meu cabelo é loiro de menos, tenho altura de menos... Blá-blá-blá.

Deveria ter caçado uma atriz pornô ou modelo, se desejava alguém para se enquadrar nos seus requisitos, cumprir tais exigências.

Eu jamais me submeteria a uma descoloração para ficar platinada, meus cachos já davam trabalho suficiente apenas com as luzes discretas que eu fizera há cerca de dois meses. O problema de ser baixinha? Só nascendo de novo para resolver.

No mais, nunca tive coragem (nem vontade) de cair na faca, nem para a rinoplastia e nem para colocar silicone. Aí precisava me sujeitar ao desconforto do combo de front lace loiríssima — de cabelo humano para ficar natural —, saltos enormes e sutiãs com sustentação reforçada para me igualar às bonequinhas de luxo.

Naquele dia, em especial, eu estava indisposta. Não queria continuar me sujeitando àquela palhaçada desconfortável e dolorosa.

Por que eu precisava ser perfeita? Ninguém tivera este tipo de consideração por mim. Eu não pude reclamar disso, nem exigir atenção ou carinho. Agora, no dia especial dele, tudo tinha de ser perfeito? Inclusive eu?

No meu aniversário tudo fora de mal a pior. E eu engolira calada cada um dos seus disparates, inclusive sua ausência por estar muito ocupado se lançando à jogatina. Cada desapontamento, fosse ressentimento dele ou dos outros insucessos, suportei sem sucumbir.

Queria eu poder sumir no mundo com as amigas e retornar quatro horas depois como se nada tivesse acontecido. Queria eu ser como ele, sem coração.

Babaca, eu remoía. Cospe no prato que (não) come e pensa que ficará por isso mesmo...

Deixa estar. O seu tá guardado. Será servido quentinho.

 Será servido quentinho

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