43 | Pérola Negra

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"Rasgue a camisa e enxugue meu pranto
Como prova de amor
Mostre o teu novo canto
Escreva num quadro em palavras gigantes
Pérola Negra, te amo, te amo!"

("Pérola Negra", Luiz Melodia)

("Pérola Negra", Luiz Melodia)

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Toquei o interfone e aguardei. Postada na frente da casa, com meu look noturno demais para o dia ensolarado, pus a mão sobre os olhos para fazer sombra e poder observar o sol a pino acima de mim.

Absorvida na minha contemplação na natureza, me assustei com o barulho do portão se abrindo e me virei depressa.

Ela sorriu para mim. Só aquele sorriso — idêntico ao dele — fez a minha fuga valer a pena.

— Quanto tempo! — Cecília me abraçou forte. — Tudo bem, minha filha? Tá com uma cara triste...

Precisava desesperadamente de um ombro amigo, de alguém que não me desprezasse.

— Posso entrar? — Não queria desabar na calçada da casa dela. Chorar na rua era demais para mim. Leandro já gastara minha cota de humilhações do dia.

— Claro! Você é de casa! — Em um meio abraço, me conduziu para dentro, andando ao meu lado sem desgrudar de mim.

Ela me acolheu como antes, embora desta vez eu estivesse aos frangalhos pelas doses de aborrecimento depois da melhor noite da minha vida.

Deixou-me sozinha na sala enquanto ela passava um café para nós. Por sorte, retornou em poucos minutos com o café e a disposição para ouvir meus lamentos.

— O que foi, menina? — perguntou-me gentilmente, tomando minha mão e a segurando com candura. — Desabafe. Não tô aqui pra te julgar.

— Preciso te confessar uma coisa — informei, antes de me acovardar, desconversar e acabar pior ainda. — Você e toda sua família vêm sendo tão gentis comigo... Não é justo eu guardar segredos enquanto vocês são tão abertos. — Ou quase isso. — Preciso dizer que sou...

— Casada. — Ela completou a frase por mim. — Anos de experiência sendo a outra que eles nunca assumiam — esclareceu. — Consigo enxergar uma marca de aliança de longe, por mais discreta que seja. — Ela mirou o horizonte através da janela. — E meu filho nunca escondeu nada de mim.

— É a cara dele. — Encarei meus pés, sem saber onde enfiar minha cabeça. Ítalo era o menino de mãe, fato. O lado certinho não falhava.

— Ele é um menino de ouro — atestou. — Fez e faz de tudo por nossa família. Mas nunca teve sorte no amor.

"Virou uma dessas ovelhas desgarradas, igual aos amigos dele que não valem um tostão furado. Nunca apoiei esse estilo de vida e ele sabe bem disso. Mesmo assim, foi cabeça-dura o suficiente pra seguir nesse caminho por anos.

"Rezei, rezei, rezei. Maratona de oração, uma atrás da outra, pra que um dia ele encontrasse alguém que o amasse de verdade, que não o iludisse.

"Então minhas orações foram atendidas. Ele te trouxe aqui. E ele nunca trouxe uma moça pra cá antes. Você foi a primeira."

Meu CEO PorteiroOnde histórias criam vida. Descubra agora