46 | Rapariga não

204 32 12
                                    

"Se alguém aqui não presta é você!
Rapariga não, rapariga não
Lava sua boca com água e sabão
Rapariga não, rapariga não
Não é só um corpinho bonito
Ela também tem coração"

("Rapariga não", João Neto e Frederico)

De fato, eu me comprometera a não ficar com rabo preso, não ter nada e ninguém me puxando de volta para o abismo

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

De fato, eu me comprometera a não ficar com rabo preso, não ter nada e ninguém me puxando de volta para o abismo. Com isso em mente, sabendo que ele estaria ali e preparando-me para enfrentar sua fúria, girei a chave na fechadura.

Portei-me como deveria. Entrei de cabeça erguida, cumprimentei-o, ácida, dirigi-me ao quarto, fiz as malas e retornei puxando-as.

Consegui ouvir seu desprezo mesmo mantendo certa distância.

— Aonde pensa que tá indo? — inquiriu Leandro, descruzando as pernas e apagando o cigarro, afundando-o com força no cinzeiro diante de si.

— Embora. — Dei de ombros com a tranquilidade de saber que já não lhe devia satisfações.

— Embora? — Deu um sorriso sarcástico. — Com a permissão de quem?

— Oi?! Permissão? Se oriente! Tá pensando o quê?

— Tô pensando que você, sem mim, não tem onde cair morta — expôs. — Se toca, Luciana! Vai embora? — Meneou a cabeça, divertindo-se com algo que julgava ridículo. — Pra viver onde? De quê? Sem emprego, sem casa... Vai morar na rua e passar fome?

"Você sabe que sem mim não é nada, não sabe? Sabe que eu posso fazer da sua vida um inferno? Uma palavra minha e ninguém da nossa área irá te contratar. Ficará desempregada."

— E renegada — acrescentou. — Não pense que eu me esqueci que nem amigos você tem.

— Posso não ter amigos, emprego ou coisa parecida. Mas tenho, sim, abrigo certo. Acolhimento. E um pedido de divórcio quentinho pra te entregar em mãos logo, logo.

— Divórcio? — Ele arregalou os olhos e recuou a cabeça. — Você deu pra minha família inteira, pro tal do Vacchiano e sabe-se lá quem mais. Ainda assim, você quer pedir divórcio?! Você é a injustiçada?!

— "Sua família inteira e sabe-se lá quem mais" tiveram mais consideração por mim do que você.

"Eu não sou lixo! Não sou uma coisa pra você usar e desprezar quando ficar farto, Leonardo! Muito menos sou seu brinquedo que você pode vestir como quiser e determinar cada uma das ações.

"Quer uma mulher modelo? Busque outra! Opções você tem. Pode ser qualquer uma dessas que te deixam cansado e sem energia pra sua esposa."

Leandro balbuciou uma réplica, mas acabou desistindo no meio do caminho. Ele realmente pensou que me enganava? Que eu não sei contar nem perceber a redução drástica no número de seus comprimidinhos preciosos?

Ridículo, como era de se esperar.

— Sim, eu sei sobre as suas novinhas — revelei. — Também sei que você tá flertando com o xilindró por algumas delas.

"Mas isso é bom, não é? Saber que pode se aventurar sem medo de ser pego... Denúncia sempre dá em nada. É só pagar a fiança e voltar pra contar vantagem com a Trindade do Viagra."

— Chega! — Ele explodiu. De veias injetadas e rosto ruborizado, continuou: — Deixe de mentira, sua vagabunda! Você vem pra minha casa com essa cara lavada depois de sumir por dias e quer ser a boazinha da história? Tá feio até pra você.

— Feio é continuar num lugar no qual não sou querida.

— Não é? — Ele cerrou os punhos. — Então eu te levo pra cima e pra baixo por não querer? Você é a indesejada da vez? Conte outra!

— Isso não prova coisa alguma. Ouso até dizer que reforça minha fala. Você me odeia e não consegue esconder, esses são os fatos.

— Luciana, por favor, não continue a passar vergonha. Isso tá beirando o ridículo. Eu larguei minha melhor esposa pra ficar com você, coisa que nunca fiz antes. Isso é te odiar?

— Isso é a ponta do iceberg — rebati, categoricamente.

Leandro gostava dele mesmo e de mais ninguém. Gostava de suas próprias narrativas e de como julgara amar cada uma de suas esposas que continuara a preterir em favor de amantes mais jovens.

Ele me detestava, mas amava o rebuliço que eu causava, o orgulho de poder contar vantagem sobre domar uma mulher como eu. Amava o que eu podia lhe oferecer.

Eu era aquela que se destacava na multidão de clones, a mulher com a bunda tão bonita quanto o cérebro. Isso era lindo na teoria. Na prática, sempre fui mulher demais para um homenzinho patético como ele.

— Já deu pra mim — bradou. — Ou você para com esse showzinho ou...

— Ou o quê? — interrompi-o. — Me poupe de suas valentias! — Vociferei, quase indo para cima dele, com sangue nos olhos. — Eu tô fora dessa. Fora daqui. Longe de você. Não deixarei você desgraçar a minha vida igual fez com Laurinha e Manu.

— Isso é o que você diz agora. Quem quer que seja o vagabundo do momento, vai se cansar rápido. Principalmente quando vir que a magia da novidade acabou e só restou uma rapariga ingrata. Então, você que me poupe. Aposto até que essa ameaça de separação não passa de armação sua.

Agora ele esgotou o resto da minha paciência.

— Não tô blefando. Já dei entrada no divórcio — anunciei. — Cabe a você decidir se quer resolver no cartório ou partir pra Justiça. Deixo avisado: se não quiser do jeito pacífico, esteja preparado pra enfrentar a melhor equipe de advogados do Estado.

Dito isso, dei as costas para ele e me despedi:

— Meu nome é "tchau", querido! — pronunciei com todas as nuances de ironia possíveis e tornei a arrastar as malas.

Embora ele esperneasse, gritando ofensas, ignorei-o. Não olhei para trás ao sair pela porta de entrada para nunca mais voltar.

Finalizei este capítulo.

Enquanto a Luciana Salafrária finaliza o pior capítulo da vida dela, a autora tenta entregar o melhor capítulo final pros personagens

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Enquanto a Luciana Salafrária finaliza o pior capítulo da vida dela, a autora tenta entregar o melhor capítulo final pros personagens. Se eu conseguirei? Não sei, mas o que vale é tentar ~no caso dessa romanceira amadora~

Lembrem de votar e comentar pra motivar a tia💙

Beijos mil,

E. Black'

Meu CEO PorteiroOnde histórias criam vida. Descubra agora