24 | Pensando igual

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— Desculpa

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— Desculpa. — O pedido saiu entrecortado e agudo demais, meu choro não colaborara.

Sua mão suave acariciou meus cachos.

— Pelos três patetas? — Presumiu ele, estalando a língua. — Nem precisa. Eu me envolveria de qualquer forma.

— Não só por isso — discorri. — Errei contigo muito antes disso, você sabe. — Funguei o nariz. Detestava chorar. Na maioria das vezes, ao longo dos anos, consegui segurar a onda. Entretanto, ultimamente, nada andava nos conformes.

Nada era normal. Inclusive eu e o meu ressentimento. As memórias vívidas me acompanhavam por onde eu ia. Na praia, no mercado, no ringue, na noite: o remorso me perseguia. Trazia à tona a indesejada imagem do desapontamento estampado no rosto de Ítalo.

Também não queria relembrar do gosto amargo, dos lençóis frios, da cama de espinhos. Contudo, lembrava. A ferida viva aberta em minha carne não me permitia esquecer.

— Não sou seu marido, não é a mim que você deve satisfações — expôs num tom fúnebre.

— Mas é você quem me importa. — Minha voz adquiriu firmeza, sobrepondo-se às lágrimas, cujo fluxo diminuía à medida em que seus braços fortes transmitiam acolhimento em seu enlace. — Eu me importo com a sua opinião. E eu sei bem o que vi naquele dia, o quanto de desapontei...

— Já passou — alegou com uma calma indesejada.

Embora eu compreendesse o porquê de ele minimizar o acontecido, acabei me corroendo. Eu não merecia o benefício das amenidades só por conta dos eventos recentes. Então desaguei num choro ainda mais intenso diante dessa percepção

— Já passou — repetiu ele, correndo a mão pelas minhas costas num vaivém delicado, um consolo surpreendentemente efetivo. Meus soluços cessaram, meu choro, morrendo aos poucos, se esvaiu.

Ítalo era bom demais para ser verdade. Bom demais para ter se metido com alguém como eu.

Ele se afastou de mim e ergueu minha cabeça, segurando meu queixo, para conferir se eu havia mesmo parado de chorar.

— Sobremesa? — sugeriu. — Tem sorvete na geladeira.

Assenti depressa, doida para adoçar a boca. Uma porção de felicidade gelada talvez remediasse a sensação ruim na minha garganta.

Quando Ítalo voltou com um pote de quase 500ml de sorvete de flocos, com um excelente sabor e preço salgado.

— Bacio di Latte. — Li o rótulo. — Gelato importado? — Pestanejei, lisonjeada e espantada na mesma medida. — Nossa, você deve odiar muito o seu chefe — inferi, me rendendo a uma risada, abrindo o pote de sorvete e dando uma colherada generosa sem culpa.

— Alguém tem que comer enquanto é tempo. — Ítalo deu de ombros. — O homem passa o dia inteiro fora, duvido que ele note o desfalque.

— O porteiro certinho ficou rebelde? Uau!

Meu CEO PorteiroOnde histórias criam vida. Descubra agora