Enquanto eu buscava persuadir Otto Hoffmann, o mais antigo dos meus amigos de dentro do meio — também o mais cabeça-dura — a cena mais desagradável da noite ocorria. Em meio a tantos "mais", coisas más aconteciam.
Três indivíduos distintos se aproximaram dela. Um deles segurava um drink elaborado, colorido, com pequenos guarda-chuvas e uma rodela de laranja. Cilada.
Luciana não nascera ontem. Em seu primeiro ato, rejeitara a bebida oferecida. Os sujeitos, por sua vez, foram insistentes. Cercaram-na.
Encurralada, não teve outra opção além de nadar a favor da correnteza. Acompanhou o trio numa caminhada em direção ao banheiro coletivo. Cilada.
— Hoffmann, muito bom te ver, campeão! Mas agora preciso ir. — Despedi-me com um aperto de mão e tapinhas em suas costas. — Boa sorte aí! Outro dia nós conversamos melhor, falamos dos negócios... Você é quem manda.
Afastei-me dele a passos largos, nem sequer ouvi seus protestos e xingamentos pela curta estadia na mesa dos homens de negócio. Meu único interesse no momento era saber do desfecho daquele episódio com Luciana.
As intenções daqueles tabacudos eram óbvias. Por isso mesmo, empenhei toda minha velocidade para segui-los. Nem Luciana, nem ninguém, merecia cair naquela armação.
Ao reduzir a distância, desacelerei para os acompanhar com discrição. Eles adentraram o banheiro masculino sem ter ao menos o cuidado de olhar para trás.
Melhor pra mim. Cheguei à entrada, empurrei a porta e fechei-a sem fazer barulho. Escondi-me atrás da parede que separava as pias de mármore dos mictórios e cabine.
Escorado na parede, aturando a pulso o delicioso aroma de banheiro público, entreouvi-os. Como presumi, os caras gente boa não estavam interessados em amizade. Diante disso, Luciana peitou os arrombados.
"Não" era "não". Sempre foi "não". Sempre será "não".
Após a recusa dela, o mijadouro virou um furdunço. A risada dela se misturou com um ruído seco de algo caindo, mas não se perpetuou. O barulho de um ondular metálico foi seguido pelas temíveis palavras:
— Me solta! — Luciana vociferou.
Ok, é agora. Foda-se o resto. Resolvo depois.
Para minha surpresa, a barulheira significara sua vitória. Ela havia nocauteado o maior deles. Ótimo. Entretanto, isso não anulava os dois palhaços restantes, nem o fato de um deles ter imobilizado seus braços.
Pigarreei, anunciando minha presença.
— Posso saber o que tá acontecendo aqui? — Cruzei os braços, exigindo satisfações como se fosse o dono do lugar.
Os amigáveis rapazes pararam para me olhar com suas caras feias. Cara feia pra mim é fome. Tá puto? Cai pra cima.
Aproveitando-se da distração da minha entrada cinematográfica, Luciana encarnou o espírito do Krav Magá e deu uma cotovelada no rosto do sujeito que a segurava. O homem cambaleou, andando para trás e permitindo-a se afastar.
O efeito do susto durou pouco. Antes de eu continuar com o teatro de "inspetor da casa", tanto o homem atingido quanto o seu colega se mostraram dispostos a brigar.
Ela enfurecera os dois. Os desgraçados não deixariam barato a ofensa. Eu só não imaginava que seria ela quem daria o próximo passo, atirando um "podem vir" mantendo a pose de destemida.
Daí em diante, tudo aconteceu muito rápido. Eu me conhecia como ninguém e, de imediato, soube que a acompanharia na tarefa de surrar os imbecis. Então me joguei na briga e troquei socos com o merdinha que a agarrara.
Juntei-me a ela no nosso próprio Clube da Luta — do qual nunca mais falaríamos após a noite terminar. Formávamos uma bela dupla, eu com meus socos e ela com os chutes ágeis.
O universo conspirara em nosso favor.
Não demorou muito para os marmanjos começarem a chorar pelas mães, nem para corrermos dali. Afastamo-nos de uma potencial encrenca num piscar de olhos.
Não precisávamos da comoção de ninguém daquela casa noturna ou de enfrentar acusações de agressão física — em especial quando as vítimas mereceram cada bicuda recebida.
À entrada da boate, esbaforido, me voltei a ela e notei que ela não estava muito melhor que eu.
— Veio de carro? — perguntei, recebendo dela uma confirmação. Enfiei dois dedos na boca e assobiei para o valete. — Amigão, o carro da moça, por favor.
— É pra já, meu patrão. — Apanhou a chave com prontidão.
Congelei por alguns segundos e só me tranquilizei quando tive a certeza de que ela tomara o "meu patrão" apenas como uma expressão de tratamento.
Ninguém precisava saber que eu acabara de abrir um novo ramo da empresa, expandindo a gama de prestação de serviço aos valetes e recepcionistas, e justamente viera à boate para comemorar mais uma parceria com o Hoffmann. Ela não precisava saber que eu era o patrão do moço.
Com o indiscreto Porsche vermelho parado a nossa frente, dei uma gorjeta para o garoto — dobrando o cuidado para que ela não reparasse no valor da cédula. Porteiros não distribuíam notas de cem a torto e a direito. Fiz-lhe um sinal de silêncio e o valete compreendeu.
— Tenham uma boa noite! — desejou, revigorado pelo dinheirinho extra.
Adiantei-me para o banco do motorista. De maneira alguma colocaria sua vida em risco. Nada de ficar atrás de um volante depois de uns bons drinks e uma boa briga. Eu estava de bico seco, eu conduziria. Sem margem para discussão.
O resto? Cenas do próximo capítulo 🤭
Lembrem de votar e comentar, dizem as vozes na minha cabeça que vou escrever capítulos mais amorzinho daqui pra frente 💙
Beijos mil,
E. Black'
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Meu CEO Porteiro
Romance+18 | Completo | Dizem que dois bicudos não se bicam e isso fica claro para Ítalo quando, em seu primeiro dia como porteiro de um condomínio de luxo, conhece Luciana, uma moradora provocante que o tira do sério só de respirar. Entre tapas e beijos...