8 | Largada às traças

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Nenhuma cantoria de "parabéns pra você" melhoraria meu humor naquele domingo

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Nenhuma cantoria de "parabéns pra você" melhoraria meu humor naquele domingo. A data querida não me trouxera felicidade alguma. Leandro se superara e conseguira estragar minha comemoração.

Ele sequer aparecera a tempo para o meu aniversário. Passei quatro horas de relógio sozinha, aturando minha família falastrona — incapaz de ficar um segundo sem me questionar por onde andava o meu marido — e sendo consolada pelas poucas amigas que me restaram.

Laura passara para me dar os parabéns e, de presente, trouxera sua preciosidade mais cedo. Guilherme, trazendo-me a lembrancinha, inventou de fazer as honras. Desembrulhou-o, expondo uma caixa de joias, abriu-a e pôs o colar no meu pescoço, ajeitando-o para deixar o pingente de diamante centralizado.

Agradeci a ambos pelo mimo. Realmente não precisava. Presente algum conseguiria me fazer esquecer do pouco caso de Leandro.

Nunca me neguei a brincar de casinha e fingir que nosso matrimônio era inabalável, as mil maravilhas, na frente dos amigos dele. Agora, comigo, podia ser diferente? Ele podia me envergonhar? Dois pesos duas medidas?

Meneei a cabeça para afastar os pensamentos. Apanhei o Cabernet Sauvignon mais antigo da adega — de uma marca francesa, custava uns quatro salários-mínimos — e comecei a dar o bagaço, enchendo a taça com gosto.

Bebi demais da conta. Alta como nunca, nem me incomodei com o grude de Guilherme, colado em mim naquele fim de noite enquanto os convidados iam embora e Rosa — nossa faxineira/faz-tudo e a única pessoa decente sob aquele teto — recolhia os pratos.

Quando acompanhei a última pessoa até a porta e a abri, Leandro deu o ar da graça. Entrou após a saída do convidado, no maior sossego. Cínico.

Fedia a charuto e whisky. Trazia o paletó enganchado na alça da maleta. Estava sem gravata e o colarinho, afrouxado. Pelo visto, a noite do pôquer dava de 7 a 1 no meu aniversário.

A companhia dos seus melhores amigos — o trio de empresários composto por Samuel Garcia, Miguel Castro e Sávio Rocha —, ao contrário da minha, fora indispensável. A Trindade do Viagra, como as namoradas supostamente maiores de idade os apelidaram, tinha um charme, algo de irrecusável.

Eu não tinha nenhuma oportunidade de negócio ou parceria a oferecer. Ao menos não num sentido compatível com seus interesses.

Partiu para o quarto e eu o acompanhei, com a tola esperança de receber um pedido de desculpa ou, no mínimo, enxergar um lampejo de arrependimento.

Bobinha.

Apático, tão bêbado quanto eu, me beijou por costume, soltando um "feliz aniversário" meia-boca. A única expressão em seu rosto eram as rugas acentuadas pelos anos.

Assim, desprovido de emoção, entregou-me uma caixa de médio porte, selada com um laço rosa. Sentei-me na beirada da cama e a abri.

— Para o próximo final de semana — esclareceu antes mesmo de eu ter a chance de dar uma olhada, indo direto ao banheiro, sem se demorar ao meu lado.

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