5 | Troca o meu bujão?

533 51 25
                                    

"O que é que você quer?
(Troque o meu bujão)
Corrinha é bonita,
Corrinha é gostosa,
É muito mimada"

("História da Corrinha", Caviar com Rapadura)

("História da Corrinha", Caviar com Rapadura)

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Ela interfonou, eu quis morrer. Sofri por antecipação.

Segundo ela, interfonara por conta do problema num cano de sua cozinha. Certo, dor de cabeça com encanamento acontece. Há quem mexa com isso e meios para contactá-los. Mas quem ela tinha chamado para lidar com a bucha? Isso mesmo, o trouxa do porteiro.

Quase passei o número de um encanador de confiança — para lhe dar mais um cano com o qual se preocupar —, mas o contato de um profissional sério não era o que ela queria. Ela precisava me azucrinar, me tirar do batente para apertar minha mente.

— Bom dia, raio de sol! — Ela me recepcionou, com cara de quem mal acordara e já se prontificara a atear fogo no parquinho.

A doçura do cabelo bagunçado nem em sonho compensava a camisola de renda cor de salmão. Não podia nem vestir um roupão? Colabora, meu anjo. Impossível não se hipnotizar.

Ali Babá, viu! O califa tá de olho no decote, no biquinho do peitinho,
na marquinha da calcinha, no balanço das cadeiras dela...
[*] O rebolado dela era incomparável, fenomenal — isso eu admitia —, sem sombra de dúvidas.

Luciana andava como se pisasse sobre nuvens de algodão. O movimento de seus quadris, fluido e natural, acompanhava suas passadas. Coisa linda de se ver — ainda mais com seu andar em câmera lenta.

Distraí-me tanto pela ginga, pela renda reveladora e sem real serventia, que quase me esqueci do que viera fazer ali. Despertei com a voz dela me chamando enquanto abria a porta do armário sob a pia da cozinha.

Tirei a camisa do uniforme, mantendo apenas a regata branca que usava sob ela. Enfiei-me debaixo da pia, preparado para encarar uma bronca, algum defeito além das minhas capacidades de dono de casa.

Não ganhei o benefício da existência de algo sério e urgente prejudicando os canos.

O problema sério do encanamento era a porra de um sifão fora do lugar. Claramente retirado por alguém. Quem será o autor da trapalhada? Quem será o artista?

Encaixei-o, deixando-o firme, e passei veda rosca além da conta. Daria trabalho para ela se tentasse fazer outra traquinagem. Levantei-me, com a ilusão de ter me livrado das garras dela, pelo menos por hoje.

Daí ela me bombardeou com uma série de problemas que, pasmem, também foram fabricados por mãos humanas.

Essa daí atenta, meneei a cabeça enquanto ela me trazia uma escadinha. Como estávamos na cozinha, decidi resolver logo o defeito dos armários. De todas as portas dos armários. Num passe de mágica, todas haviam sido acometidas do mal dos parafusos afrouxados. Simultaneamente.

Meu CEO PorteiroOnde histórias criam vida. Descubra agora