"Hoje cê vai sentir na pele
O que é que é passar raiva"("Só pra castigar", Wesley Safadão)
Fazê-lo passar raiva me divertia, não irei mentir. Ítalo era tão certinho que provocava em mim um misto de irritação e diversão. Levá-lo ao limite era fácil. Acontecia naturalmente. Pena que tive de me frear.
Se eu continuasse naquele ritmo, iria me tornar a razão de sua demissão. Isso eu não queria. Uma justa causa nunca caía bem no histórico dos meros mortais assalariados. O luxo de fazer qualquer coisa que desejasse sem se preocupar com as repercussões era um direito exclusivo dos patrões.
Além disso, se ele fosse demitido, com quem eu iria brincar?
Chegara num ponto da minha vida no qual eu não sabia mais como ocupar meus dias. Leandro, basicamente, me proibira de trabalhar antes mesmo de nos casarmos. "Mulher minha não precisa se rebaixar e levar cafezinho pro resto da vida", afirmou ele.
Como se eu nunca fosse ser promovida, nem possuísse potencial para ser algo mais do que a "leva e traz" do setor administrativo.
E este era só um entre os muitos males que o casamento me trouxera.
Sem emprego algum para ocupar minha mente, inventei de me aplicar a uma série de atividades relacionadas à saúde física. Eu precisava preservar um pedaço de mim. A saúde mental me abandonara no dia em que eu disse "sim" e abdiquei da profissão que eu batalhara tanto para ter.
De domingo a domingo, eu meditava ao acordar e corria na orla ainda pela manhã. De segunda a sexta, me dividia entre pilates, kickboxing e pole dance. Dentro de casa, meus bonsais, incensos e óleos essenciais me traziam uma migalha de paz interior.
Até bordado inventei de fazer uma vez, mas não deu muito certo. Então me foquei em aprimorar o que eu já tinha certo domínio. Vi a minha cintura se afinar e as pernas engrossarem. No entanto, nem os ganhos (depois da dor) me satisfizeram por completo.
Ainda existiam intervalos livres, nos quais eu era obrigada a ficar em casa encarando o teto. Às vezes eu tentava assistir uma série ou um filme, sem sucesso. Faltava-me paciência para acompanhar as temporadas ou dar seguimento em grandes sagas. No máximo, assistia uma minissérie e ponto.
Naquele apartamento enorme, ocupando o andar todo e tendo acesso à cobertura, eu tinha tudo e nada ao mesmo tempo. Raras vezes me senti confortável dentro dele. De tanta indisposição, nem liguei para a piscina privativa.
Quando desejava tomar sol, ia à praia ou ficava lá no térreo, observando o movimento — normalmente de crianças rindo alto e jogando água umas nas outras, sempre deixando respingar em mim e me divertindo.
Aí o condomínio danou de trocar a terceirizada antiga por uma "mais moderna", repleta de Gogo boys disfarçados de porteiros, faxineiros e seguranças. O lugar virara um calendário sexy: para cada turno, um close diferente. Só faltava eles posarem sem camisa. Mas isso era pedir muito.
Outra coisa que era pedir muito: o porteiro novo me dar uma chance. Uma mínima abertura para lascar com a cabeça dele de vez. Esta seria minha vingança pelo caso da chupeta: fazê-lo passar a mesma vontade. A mesma raiva.
Inventei de comprar várias besteiras pela internet no intuito de garantir desculpas para descer à portaria diariamente e retirar as encomendas. E, aproveitando a deixa, atormentá-lo. Ser a mosca pousando em sua sopa todos os dias.
A cada aparição minha, eu enxergava com maior clareza o pedido de socorro por trás daquele sorriso cordial.
"Alguém me salva dessa maluca", clamavam seus olhos. De vez em quando esse olhar dele me dava uma pontada de culpa.
Ele era um ótimo porteiro e, provavelmente, uma ótima pessoa. Sempre que eu encostava naquela guarita ele nunca estava 100% distraído. Só assistia tevê ou mexia no celular se houvesse pouco movimento. A definição de exemplar. Funcionário do mês, aposto.
E eu aqui, mais uma vez, diminuindo a qualidade do serviço prestado. Afastando-o de seu título.
— Boo! — Apareci de supetão, apoiando-me no peitoril da janela, feito uma namoradeira.
Ítalo quase caíra da cadeira, assustado pela minha presença não anunciada. Eu conhecia o ponto cego das câmeras, precisara deles para manter a anonimidade dos encontros com Dinho. Peguei-o desprevenido, como gostava.
Ele ajeitou a gola da camisa e os papéis na mesa, me cumprimentando e abrindo um meio sorriso. A vontade de dizer "Você? De novo? Dá um descanso!" era palpável.
— Resolvi te poupar o trabalho de me interfonar — esclareci, pintando inocência. Ele não comprava. Ainda assim, divertia-me.
Enquanto isso, eu aguardava minha última encomenda. Não consegui esperá-lo entrar em contato. Não resisti.
A cara dele quando recebesse o pacote seria impagável e eu quis estar lá, em pessoa, para vê-la. Quando subiu a notificação do status do pedido no aplicativo, tratei de descer correndo para chegar antes dos Correios.
Aproveitando-me ainda mais, abri a porta da guarita e me escorei na parede, atrás dele. Outra mexida na camisa, agora ajeitando a caneta no bolso bordado com seu nome, sob a logomarca da empresa.
O entregador chegou. Meu coração palpitava, ansiando pelo clímax.
O show de vergonha alheia se iniciou, tímido. O moço entregou-o um pacote, digamos, indiscreto. Revelador. O embrulho, alargado na base e cilíndrico no comprimento, tinha 30 centímetros e um nome capcioso.
Nenhum dos dois fez contato visual com o outro durante a entrega. Para ajudá-lo, me intrometi e passei à frente dele. Inclinando-me e empinando o bumbum em sua direção, confirmei o recebimento do produto com uma assinatura por extenso, em demoradas letras de forma.
Saboreava o momento olhando-o de soslaio. Ítalo tentava escolher qual era o menos pior: olhar para a polpa da minha bunda escapando do short ou focar no dildo mal embrulhado, envolto por fita adesiva cinza.
Ele pegou ar, eu me contorci de tanto rir... por dentro. Por fora, fingi naturalidade, como se eu comprasse piroca gigante em sex shop corriqueiramente. Se bem que ele acreditaria nisso.
Tomei o meu novo amigo de suas mãos, aproveitando para roçar os meus dedos nos dele, sentir sua pele áspera — necessitada de um peeling com hidratação — e dar-lhe um afável beijo de despedida na bochecha. Com a melhor das intenções, claro.
— Até amanhã! — Aterrorizei-o com a perspectiva de receber outra visita indesejada.
Amanhã não haveria encomendas. Eu tinha outrosplanos.
Olá, wattpader 💙
Dizem que, se alguém gritar Luciana Salafrária três vezes na frente do espelho, a diabinha aparece e te leva pro mau caminho.
Fato ou fic?
Aí já não sei 👁👄👁Beijos mil,
E. Black'
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Meu CEO Porteiro
عاطفية+18 | Completo | Dizem que dois bicudos não se bicam e isso fica claro para Ítalo quando, em seu primeiro dia como porteiro de um condomínio de luxo, conhece Luciana, uma moradora provocante que o tira do sério só de respirar. Entre tapas e beijos...