9 | Bem pior que eu

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Avistei a dona Encrenca no reflexo do espelho

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Avistei a dona Encrenca no reflexo do espelho. Lá vinha ela, com os seus encantos. Desta vez, sua roupa chegava até o joelho, para a minha surpresa. Ao alcançar a guarita, se apoiou no peitoril da janela e inclinou-se, fazendo sua cabeça invadir o meu espaço, e disse:

— Preciso de você. Agora. — O semblante sério denunciava que ela não viera para brincadeiras. Nada de joguinhos ou provocações.

— O que foi agora? Deu vazamento de gás? Quer que eu troque seu bujão? — inquiri, incrédulo. Embora sua sisudez passasse a mensagem com eficácia, eu ainda duvidava de suas intenções.

— Não se faça de desentendido. — Cortou as minhas asinhas. Ela realmente não estava para graça naquele instante. — Nós sabemos por que eu vim e o que eu quero.

Anuí, reticente. Previra onde a conversa iria parar. Onde eu iria parar, para ser mais exato. Precisava freá-la desta vez. Ela não fazia ideia do que estava exigindo.

E eu não tinha noção do quanto de tentação eu poderia aguentar sem me comprometer. Sem correr o risco de me perder. Perder tudo.

Fiz uma jogada arriscada com o intuito de desestimulá-la e, consequentemente, levá-la a desistir daquela loucura, esquecer de mim.

— Olha, senhora Luciana, serei sincero contigo. Eu não sou três coisas: quem você pensa que sou — enumerei com os dedos —, quem você quer ou o que você precisa. — Enfatizei os três dedos, deixando clara a minha afirmação. — Você quer consolo, um substituto pro seu porteiro com benefícios. — Expus com objetividade. — Não posso te dar isso.

— Claro que pode — ela insistiu, incisiva, só faltava bater o pé para demonstrar o compromisso com a crença de que eu solucionaria seus problemas.

— Eu... corro risco de perder meu emprego. — Tentei dissuadi-la com a meia-verdade.

— Não vai. — Ela se manteve firme. — Se quiser, eu assino um termo com direito à rubrica e firma reconhecida só pra te garantir que nunca irei caçar seus superiores e te prejudicar. — Fitou-me, mais séria ainda.

Essa mulher não desiste?!

Quando tentei contra-argumentar, ela pousou o indicador sobre os meus lábios e soltou um "shhh".

— Só essa vez e eu nunca mais insisto. Nunca mais. Faço juramento de dedinho, se precisar. — Seus olhos brilhavam enquanto ela piscava repetidas vezes.

Como dizer não? Não há como.

Por fim, eu cedi. Fiz suas vontades. Não adiantava discutir ou tentar convencê-la. Ela não pensaria melhor.

— Não precisa. — Resignei-me, já trancando a porta.

Fechei as persianas e ajeitei-a na mesa, de modo que eu pudesse ver as imagens das câmeras de monitoramento e não descuidasse do trabalho só porque ela estava querendo rola e não soube pedir.

Meu CEO PorteiroOnde histórias criam vida. Descubra agora